Capítulo XV

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O jornal incendiou-se quando Allyria arremessou-o no outro extremo da mesa, em um ataque de raiva. Atalya se limitou a observar, impassível, e baixou a cabeça novamente, parecendo concentrada no mapa que se estendia à sua frente. Não era comum ver explosões de zanga vindas de Allyria, então o príncipe não pôde evitar ficar surpreso, direcionando um olhar interrogativo para a fada.

— As tavernas de Wavecarver tem bolhas para os visitantes não-aquáticos, com comida e bebida à vontade! — Lamuriou-se a fada. — Isso sem falar no show de acrobacias dos botos, que viram homens e tiram as garotas para dançar. Injusto!

Arthan não respondeu e lançou um rápido olhar a Atalya, esperando alguma tirada sarcástica, mas ela não falou nada; na verdade, nem parecia ter escutado. Embaixo de seu braço estava um jornal de uns três dias anteriores, a manchete, visível pela metade, sobre um projeto de lei aprovado, saltando aos olhos. Ela tocava em alguns pontos do mapa e palavras surgiam. Sob o nome Ravena, havia mais anotações do que nos outros nomes espalhados. Os cabelos castanhos da quimera caíam em ondas ao lado da sua cabeça, quase ocultando seu rosto. Arthan tinha achado aquele visual muito bonito. De boca fechada e sem desobedecer nenhuma lei, Atalya era realmente muito bonita.

— Atalya, como você é uma quimera, por acaso também teria os poderes de um boto? — Perguntou Allyria.

— Ahn? — Perguntou Atalya, erguendo os olhos para a fada.

— Botos — repetiu Allyria, lentamente.

— O que tem eles?

— Você também tem os poderes deles? — Allyria parecia realmente encantada com a ideia.

— De engravidar meninas solteiras? — Perguntou Atalya. — Não.

Allyria fechou a cara para a quimera. Arthan soltou um ronco de riso.

— De trocar de forma — grunhiu a fada.

Atalya pensou um momento.

— Provavelmente. Nunca tentei. Não sou muito fã de me transformar em animais.

— "Provavelmente"? Você tem os poderes de todos os peculiaris.

— Quando as pessoas dizem "todos os peculiaris", meio que é uma afirmação errônea — disse Arthan, sem se conter. — Alguns peculiaris se ofereceram para dar um pouco de seu poder para a quimera original. Mas o que se ofereceram tinham o essencial para criar um guerreiro indestrutível e perfeito. Eles eram uma espécie de peculiaris primordiais. Os que vieram depois só fragmentaram seus poderes e se tornaram outras espécies.

— É isto — concordou Atalya.

— Então você não é um boto? — Perguntou Allyria.

Atalya revirou os olhos.

— Não. Botos se transformam em homens e engravidam garotas ingênuas para reproduzir e dar continuidade a espécie. Quimeras não se reproduzem, não se apaixonam, apenas lutam. A habilidade deles é inútil para mim.

Allyria fez um biquinho de desapontamento e, vendo que nenhum dos dois colegas estavam muitos interessados nas atrações de outras províncias, decidiu ir atrás de Tevior, pois estava com fome e ele ainda não tinha voltado da sua expedição.

Arthan, Allyria e Tevior receberam, com certo alívio, a ordem de Atalya de que eles ficariam algum tempo na taverna. Considerando todos os traumas físicos — e, de certa forma, psicológicos — que já tinham acumulado em quarenta e oito horas de missão, eram realmente benéficos o descanso e o realinhamento das estratégias. Embora Arthan sentisse um peso no peito de saber que adiar a missão era adiar a busca pelos seus pais, ele sabia que teria mais chance de êxito se eles estivessem estratégias sólidas.

As Crônicas de Ravena - A Ascensão da QuimeraOnde histórias criam vida. Descubra agora