Capítulo XII

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— Chegou cem anos atrasado, Rogath. Eu não sou mais nenhuma líder revolucionária.

— Não acredito nisso, Atalya. A chama que existia dentro de você é impossível de ser apagada. Uma quimera nasceu para a luta. Seu chamado é esse.

Revirei os olhos para as frases ensaiadas.

— Você é tão iludido quanto Markus. Os dois acham que eu sou a pessoa que vai salvar seus rabos dos problemas que vocês mesmo causam.

Os olhos de Rogath escureceram.

— Gostaria de não ser comparado aquele imbecil — uma pequena centelha de raiva brilhou em seu olhar.

Atingido bem no seu local mais sensível. No ego. Essa foi rápida.

— Não fique chateado, Rogath. Muitos reis melhores que Markus também tinham esse pensamento. Sentam no trono, achando que estão acima de tudo e todos. Um afastou os deuses, outro extinguiu as quimeras e um quase eliminou os híbridos. Resta saber o que faltou na Lista de Grandes Mancadas Reais para você fazer.

Ele passou a língua nos dentes, me olhando profundamente. Passados alguns segundos, ele sorriu enviesado.

— A cada minuto que passo aqui, você me fascina mais — disse Rogath.

— Fico feliz em saber que estou lhe agradando — comentei, sarcástica.

— Eu preciso de uma pessoa como você, Atalya. Uma pessoa que tire os puristas do seu lugar de superioridade e os faça respeitar os verdadeiros donos desse mundo, os híbridos.

— E repito a pergunta: por que eu faria isso?

— Por que, há cem anos atrás, você fez isso? — Devolveu Rogath.

— Porque eu era uma jovem estúpida que achava que poderia salvar o mundo sozinha. Achava que tudo poderia se resumir em bem ou mal. E adivinhe só: se resume em quem tem poder e quem não tem. O forte ganha e o fraco perde. Adivinha de qual lado eu estava?

— Este é um ponto que concordamos. O mundo é de quem tem poder e principalmente, quem é esperto e inescrupuloso o suficiente para usar esse poder a seu favor. Posso inverter os papeis de cem anos atrás.

— Ah sim, para quê? Para ser igual a Markus e exterminar uma raça apenas porque acha que outra deve prevalecer? — Perguntei, mordaz.

— Fala como se eu quisesse eliminar os puristas.

— Querer fazer os híbridos serem superiores meio que deixa isso implícito.

Ele riu e brandiu o dedo indicador para mim, em uma atitude como se eu tivesse falado algo que ele esperava.

— É uma ideia sedutora, mas pouco misericordiosa. Eu desejo apenas uma inversão de papeis. Nós ocuparemos as cidades, o Senado e o Governo. E eles, nos servirão. É tão simples.

A Atalya de cem anos atrás teria entrado de cabeça nisso sem nem parar para pensar. Já a Atalya de agora não estava nem um pouco confiante.

— Parece um plano simples — comentei, sem querer demonstrar nada.

— E é — concordou Rogath. — O que me diz?

— Não me sinto muito inclinada a aderir a isto.

Recebi um olhar astuto.

— Eu imaginei que essa seria sua resposta. Acredito que se você estivesse em uma prisão de segurança máxima, talvez nosso diálogo terminasse de uma forma positiva para ambas as partes, porém não faço o tipo de monarca que recorre a tal tática.

As Crônicas de Ravena - A Ascensão da QuimeraOnde histórias criam vida. Descubra agora