— Você vai me dizer porque quebrou uma lei antiga de Whitehart?
O livro aberto foi colocado diante de Allyria, que leu o parágrafo que eu apontava e ergueu os olhos apavorados para mim.
— Onde achou esse livro? — Perguntou Tevior.
— Não é da sua conta — rebati. — Vamos, Allyria, desembuche.
O livro estava no limbo, assim como outras coisas minhas que eu não podia ficar carregando por aí. Era um livro que eu dificilmente teria interesse de forma voluntária. Um livro de leis de Whitehart.
— Eu... — ela baixou os olhos novamente, seu rosto desbotando conforme o sangue o abandonava.
— Não tente mentir para mim — sibilei.
— Para de pressioná-la — disse Tevior.
— Fique fora disso, saco de pulgas — falei para o lobo, sem me virar.
Os olhos de Allyria marejaram.
— Eu... é que...
Esperei, em silêncio, fitando-a. Allyria estava à beira das lágrimas.
— Temos todo o tempo do mundo, Allyria. Você não vai sair dessa cadeira enquanto não falar o porquê fugiu de Whitehart.
— E porque está tão preocupada com isso? — Inquiriu Tevior. — Você infringiu dezenas de leis.
— Para sua informação, tapete fedido, Allyria quebrou uma lei que proíbe as fadas de se envolverem em assuntos de fora de sua província sem a permissão clara de seus monarcas — virei-me para o lobo. — A pena disso é prisão e dependendo do grau de intromissão, a morte. Só que isso aplica a qualquer um que tenha apoiado a fada nisso.
Tevior deslizou o olhar de mim para Allyria, que manteve de cabeça baixa.
— Graças a Allyria, eu posso perder a liberdade que levei cem anos para conseguir. E como Whitehart não liga para o que Ravena faz ou deixa de fazer, nós seríamos todos presos comuns. Até mesmo Arthan, que é príncipe. Ou você, Tevior, que faz parte do exército.
Allyria afundou mais na cadeira quando ergueu a cabeça e encontrou o olhar ressentido de Tevior.
— Por que? — Perguntou ele, para a fada.
Ela deslizou os olhos do meu rosto para o de Tevior, o queixo tremendo levemente. Abriu a boca para dizer alguma coisa mas fechou-a com um estalo.
— Eu só queria ser reconhecida como uma heroína — lamuriou-se Allyria, enfim, encontrando a voz. — Ninguém de Whitehart nunca faz nada. Sempre neutros, sempre apenas preocupados com as estações e a ordem da natureza.
— Que nobre — murmurei, sarcástica.
— É verdade — guinchou Allyria, como se implorasse que eu acreditasse. — Rogath começou a matar pessoas de todos os lugares e fadas que saiam para o exterior não voltavam mais. Ninguém fez nada e eu... eu queria ser uma heroína.
— Infringiu uma lei milenar para ganhar fama? — Perguntei, incrédula.
— Dizem que... se uma fada fizer algo muito grandioso, ela pode se tornar... monarca — a última palavra foi dita em um sussurro.
Era patético.
— Isso não pode ser real — falei, incrédula, dando as costas a ela e indo até o bar da taberna.
— Eu só achei que... eu só achei que podia ser famosa. E eu sabia que nunca seria escolhida, então burlei a seleção para a missão...
— VOCÊ O QUE? — Berrei, agora totalmente perplexa.
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As Crônicas de Ravena - A Ascensão da Quimera
FantasyRavena e as Províncias Mágicas enfrenta um inimigo aparentemente invencível: Rogath, um híbrido determinado a assumir o trono e garantir a supremacia de sua espécie. O rei, Markus, sente que está fracassando na tarefa de proteger seus súditos e conv...