Cuspida sem querer

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Acho que a minha noção do ridículo quando eu era mais nova era inexistente.

Sabe porquê? Olha aqui a brincadeira que adorávamos fazer no intervalo das aulas de conhecimento específicos que tínhamos à tarde: Ir até o quarto e último andar do prédio da escola e cuspir lá embaixo, fazendo uma aposta pra ver qual cuspe chegava primeiro ao chão - ridículo, eu sei.

Usávamos uma janela no quarto andar, que dava acesso apenas a uma parte do estacionamento dos professores. Muito provavelmente cuspíamos nos carros deles, mas o que os olhos não vêem, o coração não sente.

Só que naquele dia específico, a janela que usávamos estava ocupada por um outro grupo de pessoas que estavam aproveitando o vento.

Minha amiga disse que tinha outra que poderíamos usar.

Aquela janela dava para a quadra aberta do colégio, e como era pouco mais de uma da tarde, no Verão cearense, sabíamos que não ia ter nenhum menino verminoso o suficiente no futebol para usar aquela quadra de concreto quase fervendo.

Fomos para a janela e depois de conferir que não tinha ninguém na quadra, começamos o pior concurso de cuspe. Estava ganhando da minha amiga de 3x1, quando soltamos os cuspes da vez, do nada, aparece um ser humano lá embaixo.

Eu tampo a minha boca e arregalo os olhos, já a minha amiga tem uma reação diferente, ela acaba gritando: "Olha o cuspe!".

A pessoa que estava na quadra não escutou o grito, mas eu vi quando ele pegou na cabeça ao sentir o cuspe bater lá. Ele olha para a mão e então cheira - deve ter pensado que era cocô de pombo.

Não sei se foi o meu ou o da minha amiga, mas só sei que acertou. Eu retiro a minha cabeça da janela e até hoje eu não faço a menor ideia de quem foi esse pobre infeliz que levou essa cuspida na cabeça.

O pessoal que tava na outra janela viu tudo e riu muito da gente.

PS. Esse foi o último dia que eu brinquei disso. Pelo menos eu aprendi a minha lição.

🤤🤤

Desci as escadas correndo e fui me "esconder" dentro da sala de aula. Gostaria de aproveitar o momento para me desculpar com esse pobre ser humano que não precisava ter levado essa cuspida.

Alguém disse, vergonha alheia?Onde histórias criam vida. Descubra agora