Pega esse ônibus!

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No terceiro ano do ensino médio, voltava de ônibus quase todo dia para casa.

Eu poderia pegar na parada ao lado do colégio, mas se eu pegasse ali, tinha que pegar 2 ônibus pra chegar em casa. Ou poderia andar uns cinco quarteirões e pegava apenas um - um desses quarteirões eu tinha que andar de costas ao fluxo de carros e ônibus ou seja, se eu quisesse ver que ônibus estava vindo, eu tinha que andar de costas.

Normalmente escolhia andar os 5 quarteirões pra chegar mais rápido em casa.

Eu já tinha aprendido o esquema: assim que terminasse a aula, eu tinha que sair rápido pra chegar na parada em tempo de pegar o primeiro ônibus. Esse ônibus demorava um pouco, uns vinte minutos pra passar, mas se eu saísse rápido, dava pra pegar tranquilo.

Mas naquele dia em especial, eu demorei um pouco pra sair do colégio, mas mesmo assim fui andar pra tentar conseguir pegar o ônibus.

Já no momento de andar de costas, eu vejo que o ônibus que eu pego está vindo. Como faltava pouco pra parada, eu resolvo correr -  o sentimento de pobrice aumenta consideravelmente tendo que correr atrás do ônibus.

Calçada irregular e pessoa que não tem costume de correr é osso. Tropeço na calçada enquanto corria olhando pra trás e dava sinal para o ônibus. Correr olhando pra trás é a treva, não vi que tinha já um ônibus parado na parada e ele serve para aparar a minha queda. Em vez de ir de cara no chão, vou de cara no ônibus.

O barulho foi absurdo.

Todas as pessoas que estavam na parada desviaram o olhar de mim para poder rir. O motorista do ônibus que eu ia pegar desceu pra me ajudar - eu não contava que o motorista já me conhecia, já que eu pegava sempre no mesmo horário, e consequentemente mesmo motorista. E também ninguém da parada se moveu um dedo pra me ajudar.

Só minha dignidade saiu ferida.

🚌🚌

Sentei do lado de uma senhorinha que me ofereceu um band-ait e perguntou se eu tinha me ferido. Deu pra perceber que ela só não levantou pra me ajudar pq era difícil pra ela, eu que a ajudei a levantar quando a parada dela.

Ainda tem pessoas que não riem da queda dos outros - mesmo eu não sendo uma dessas...

Alguém disse, vergonha alheia?Onde histórias criam vida. Descubra agora