Capítulo três: a recaída

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Capítulo três: A recaída

Lucas está em sua sala, sentado na poltrona de sua tia, uma grande e confortável poltrona verde escura, uma cor ligeiramente feia na opinião de Lucas, no canto do cômodo, de frente para uma televisão, passa os canais sem achar nada de interessante, queria achar algo sobre culinária, não que isso lhe interessasse só queria assistir, cada vez que aperta um botão do controle fica com mais sono, até que a televisão começa a fazer alguns barulhos estranhos e a imagem começa a falhar. O garoto fica lá sentado olhando para as paredes acinzentada, não lembrava de as paredes serem cinzas mas achou que só não havia reparado, até que ouve alguns barulhos na porta, o menino fica olhando para a porta, está com medo pois a porta se abre bem devagar rangendo como em um filme de terror e absolutamente nada acontece, além da fina chuva que caía lá fora, ele trava e continua ali sentado, mas de repente, vê seus pais entrando com as mesmas roupas que estavam no enterro, a roupa na qual a tia havia escolhido, o garoto fica completamente apavorado, sem saber o que fazer, não tinha medo no momento apenas o pavor de ver seus pais mortos.

-Eu realmente esperava mais de você. - Ouve sua mãe dizer com os lábios brancos, brancos até demais, sempre havia visto os lábios de sua mãe cobertos de batom vermelho ou bordo. Sua mãe parecia desapontada com algo, que Lucas ainda não sabia o que era. - Abandonar administração para trabalhar em uma farmácia? Sério? Que vergonha, não sinto orgulho de ser sua mãe Lucas, nem depois de morta. Sabe que administração era o melhor para você, é a única coisa que você é bom!

-Sabe? Foi até bom morrer, só assim não tenho que suportar suas tolices, suas burrices, essa carga enorme de decepções. - Diz o pai parecendo indignando com a atitude do rapaz, ele olha para os dois, seu pai abre um leve sorriso, um tanto quando amedrontador, não tão amedrontador quanto suas palavras.

O menino simplesmente não fala nada, fica ali quieto, com os olhos cheios de lagrimas e com um grande rancor e arrependimento dentro de si.

Por que seus pais queriam que ele seguisse algo que não gosta ao invés de sua felicidade? Uma brisa gelada passa pela porta e mexe levemente o vestido preto e fino da mãe fazendo com que tudo ficasse preto, um limbo total, sem poder nem se quer se movimentar direito.

Então seu celular toca, o mesmo toque chato de sempre, dessa vez o toque de sua salvação, Lucas acorda completamente soado e ofegante, na rua uma forte chuva cai, diferente de seu pesadelo que era apenas uma fina garoa, lá está ele, deitado na cama, no quarto e na casa de Julia. Levanta da cama ainda ofegante e soado, vai descalço e rápido até o banheiro, sentindo o gelo do chão tocar na parte de baixo do seu pé, abre a torneira e joga água gelada em seu rosto para cair na realidade, ainda não estava completamente acordado, apoia suas mãos na pia e olha para o espelho, fica observando sua aparência, seus cabelos castanhos completamente molhados e sua pele extremamente clara, sempre foi um tanto quanto pálido como se fizesse um bom tempo que não pegara um sol, no mesmo estado que seus cabelos, nos seus olhos castanhos vê o medo e o alivio, ao mesmo tempo, medo de isso voltar a acontecer e realmente ter sido um desapontamento total para seus pais, que por trás daquele pesadelo houvesse um pingo de verdade e alivio de tudo não se passar de uma mentira e não ver seus pais falando isso de verdade, não suportaria isso de forma alguma, sempre deu seu melhor para ser o filho dos sonhos.

Após alguns minutos pensado sobre o seu sonho, aliás, seu pesadelo, volta para seu quarto e senta na beira da cama, liga para a Karol, que estava tomando banho, ela sai correndo desesperadamente com uma toalha em volta de seu corpo. Ela atende e fala:

- Preciso te contar uma coisa Lucas. - Fala a garota séria, achando finalmente que aquela era a oportunidade de conversar com o amigo.

- Eu também preciso Karol. - Responde ele para Karol, apoiando seu celular entre seu ombro e sua cabeça e secando seu rosto com uma toalha macia, ao tocar sua pele úmida sente um alivio repentino, está um pouco mais calmo, porém assustado.

Como pássaros livres (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora