[5] afeto e angústia

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Jimin

Permaneci preso no corrimão pelo restante do dia. Nem sequer me alimentei, meu estômago roncava e eu sentia meu corpo fraco, mas nada era pior que a tortura psicológica que meu pai fazia quando se aproximava de mim. Ele perguntava se eu me encontraria com Jungkook novamente e a única maneira que achei para me livrar de mais violência, foi mentir que eu jamais veria o vizinho outra vez.

Quando anoiteceu, enfim escutei o som da porta abrindo e meu coração acelerou ao ver meu pai se abeirar de mim. Encolhi-me quando ele me analisou, inexpressivo.

— Esqueci de você — disse, sem aparentar preocupação. — Aprendeu a lição pelo menos?

Assenti desesperadamente com um gesto de cabeça, sem pronunciar uma palavra. Eu concordaria com qualquer coisa que ele dissesse, se isso significasse que eu me livraria da minha atual situação deplorável.

— Acho bom, não tenho paciência para ficar te reforçando o que eu já expliquei quando se mudamos para cá. — Logo ele se afastou. Quase me desesperei em pensar que ficaria preso a noite toda, mas meu pai voltou com uma tesoura em mãos. Em seguida cortou os fios que anteriormente prendiam meus pulsos, estes que ficaram com marcas de fios e das queimaduras do cigarro.

Ainda doía muito...

— Amanhã compre algum remédio para cuidar disso, está feio e alguém pode notar — falou analisando meus machucados.

Somente assenti silenciosamente outra vez. Era um pouco anormal a ínfima preocupação que meu pai externasse, por isso eu não sabia o que dizer, então dei as costas para ele e subi os degraus da escada, visando tomar analgésicos para a dor insuportável, me banhar e enfim ter um pouco de sossego dormindo.

E eu dormi com dificuldade devido à dor das queimaduras, descansando meu corpo fraco e minha mente exausta.


Na manhã seguinte, a temperatura caiu, mas o frio não me impediu de realizar todas as minhas atividades matinais em casa, finalmente me alimentei e pelo fim da manhã, fui a farmácia comprar mais analgésicos, pomadas e esparadrapos.

Eu estava voltando para casa, ainda lembrando de alguns olhares curiosos e detestáveis que recebi pelo caminho. As pessoas me fitavam com pena ou desprezo e isso me fazia questionar cada vez mais se eu era digno de continuar vivendo. Eu vivia em prol da dor, era um ciclo insuportável e eu não conseguia sair disso.

Minhas blusas me protegiam do frio e não do julgamento equívoco das outras pessoas.

Virei a esquina, satisfeito por estar perto de casa, mas ao mesmo tempo, com receio, pois eu não poderia prever o humor do meu pai e por consequência, não saberia se ele me machucaria ou não.

Eu já avistava minha casa, entretanto parei assim que meus olhos capturaram a imagem dele. Abaixei a cabeça e acelerei o passo na tentativa de passar despercebido.

Tarde demais...

Seu olhar em mim, transbordava contentamento e eu era capaz de notar o quão ele estava alegre com a minha presença.

Eu não sabia o que fazer, por isso, fiquei parado. Estávamos muito próximos da minha casa, meu pai com toda a certeza poderia nos ver... nem queria imaginar como seria sua reação caso isso acontecesse.

— Jimin! — Escuto Jungkook me chamar, animado.

— Oi, Jungkook — respondo sem a mesma animação. O moreno caminhou ligeiramente até estar bastante próximo de mim e sua expressão de felicidade se desvaneceu em instantes, assim que fitou meu rosto de perto.

Abuso | JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora