[8] problema

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Jungkook

No dia seguinte, eu e Jimin, juntos, fizemos o desjejum e ainda pela manhã, saímos para caminhar pelo jardim. Ele estava nitidamente nervoso, então, usei minhas artimanhas para acalmá-lo, vulgo um pacote de jujubas coloridas. Não era permitido que os pacientes em recuperação ingerissem alimentos de fora do hospital, mas em minha defesa, as jujubas eram sem açúcar.

Mais tarde, quando estávamos assistindo documentários. Uma policial acompanhada de uma assistente social, chegaram para que Jimin pudesse completar a denúncia contra o homem que o machucou. O loirinho estava sentado sobre a maca hospitalar, coberto pela manta felpuda, enquanto a policial jazia inerte ao lado da porta e a assistente social sentada em uma cadeira ao lado de Jimin.

Eu estava no sofá, um pouco distante. Assistindo a profissional conversar calmamente com Jimin, ela era muito gentil e sutil, o que me deixou aliviado. A policial próxima da porta também aparentava ser amigável, mesmo não pronunciando palavra alguma.

A entrevista com Jimin estava ocorrendo bem até que a assistente lhe interrogou sobre Yifan. No mesmo instante, a inquietação dele transbordou, assim como a minha. 

Escutar o nome do monstro, fez com que arrepios cortassem meu corpo e imediatamente, eu precisei apertar o braço do sofá, para descontar a raiva e amargura que senti.

Jimin não disse nada, apenas me encarou. Seus pequenos olhos arregalados expressavam o desespero em um pedido mudo de ajuda, por isso me levantei do sofá e corri ao lado dele.

— Jimin — chamei-o, tendo sua atenção em mim. — Você quer que eu fique aqui? — Mantive minha voz suave, para que nada pudesse deixá-lo desconfortável.

— Por favor... — Seu sussurro quase inaudível, fez um peso se instalar em meu peito, rapidamente assenti, permanecendo ao lado dele.

A assistente social continuou, ela não disse nada sobre a situação anterior, mas sua expressão compreensiva acalmava.

— É difícil, querido, mas logo terminamos — disse a mulher. — Você pode me contar como chegou até a casa de Yifan? Você já o conhecia?

Jimin assentiu e o peso no meu peito se tornou doloroso.

— Não sei exatamente como cheguei, só lembro de... acordar lá. — A voz dele estava trêmula. O nervosismo notável em Jimin, me causava a vontade de segurar sua mão e transmitir todas as minhas forças para ele.

— Após ser drogado, estou certa? Como isso aconteceu?

Então o loirinho olhou para as próprias mãos, entrelaçadas em seu colo e suspirou. Ele não chorava, mas parecia a um triz de explodir suas emoções em lágrimas. Era como se Jimin estivesse em uma luta interna consigo mesmo, pensando se colocava seus pensamentos em palavras ou os mantinha para si.

— O meu pai... ele... foi ele. — Eu estava cada vez mais horrorizado, não era surpreendente que o pai de Jimin estivesse envolvido, o que deixava a situação ainda mais, se possível, cruel e desumana. Jamais senti tamanha vontade em acabar com a vida miserável de alguém, como senti com o senhor Chin.

A assistente social anotou algo em sua prancheta e pareceu guarda o tópico pai para depois.

— E então Yifan te manteve preso por sete dias?

— Sim — respondeu Jimin, ligeiramente. Sua voz aparentava estar ainda mais trêmula. Meu desejo de abraçá-lo era imenso, mas algo que notei em Jimin, era que ele não gostava de ser tocado. O pequeno evitava contato físico, parecia até assustado e eu entendia seus motivos.

— Nos seus exames, constam sinais de agressões físicas, abuso sexual e altas dosagens de diversas drogas... você pode me contar como era a sua relação com o agressor? — ela perguntou e percebi que pela reação aflita de Jimin, ele não queria falar, então a assistente social tentou acalmá-lo: — Pode ficar tranquilo, querido. O que você falar não irá se tornar público, será usado apenas para as acusações contra o homem que te machucou. Não precisa ter medo, tudo bem?

Jimin assentiu, uma única lágrima desceu pelo seu rosto tristonho e não precisaria de muito tempo para que eu chorasse também.

— Ele fazia todas essas coisas comigo, me machucava muito e eu não queria estar lá.

— Essas coisas?

— Me batia muito, quase todo o tempo... principalmente quando... quando eu recusava a fazer o que ele pedia, a d-dormir com ele. E eu sempre recusava, então ele me drogava e eu não conseguia fazer n-nada contra. — Mais lágrimas escorreram dos olhos tristes de Jimin e eu precisei abaixar a cabeça para que ele não assistisse as minhas. Senti-me péssimo e não sabia se conseguiria escutar mais, porém se para mim era torturante, para Jimin era demasiadamente pior e eu precisava estar com ele nesse momento se isso significasse o ajudar, por isso respirei profundamente para espantar as lágrimas.

— Você já o conhecia antes? Ele já machucou você outra vez?

Jimin apenas assentiu enquanto chorava baixinho. A pergunta da assistente social me deixou com medo, mas a confirmação do loirinho doeu em mim.

— Pode me contar sobre isso, Jimin? Os abusos de Yifan eram frequentes? — A voz dela era calma.

— A-Aconteceram duas vezes antes dessa última vez. Quando eu tinha quinze anos e alguns dias antes disso tudo acontecer.

Nunca pensei que sentiria tanta dor em ver alguém sofrer e descobrir que alguém já sofrera tanto, mas era exatamente isso que eu vivenciava. Minha empatia por Jimin era tamanha, que eu conseguia entender exatamente o que ele passou, mesmo que eu nunca tenha passado por isso.

Yifan merecia apodrecer na prisão. Ele nunca fora um parente muito próximo e mesmo se fosse, não seria mais após essa situação. Ele era um bárbaro que jamais seria chamado de tio novamente.

— Você está indo bem, querido... — disse de forma acolhedora. — Acha que pode me falar sobre o seu pai? Em todo o processo ele também é culpado, entende? Mas suspeitamos que ele seja mais culpado do que parece. Tentamos entrar em contato com o Chin, porém permanecemos sem resposta, consequentemente ele já está sendo procurado pela polícia.

— E-Eu entendo. — Jimin não chorava mais. — Mas não sei para onde ele foi. — Novamente ele focou sua atenção nos dedos entrelaçados, com a mesma expressão receosa de antes, como se estivesse com medo de dizer algo...

— Tudo bem, Jimin. Você informou o hospital de que não tem outros parentes, estou certa?

— Sim... na verdade, eu tenho um avô, mas nunca o conheci.

— Isso é uma ótima notícia, querido. Vou tentar fazer contato com ele o mais rápido possível. Durante esse processo, a senhora e o senhor Jeon ofereceram abrigo na casa deles, mas isso fica a seu quesito.

Então a assistente social olhou para mim carinhosamente e sorriu. Talvez ela sentisse todo o cuidado que eu tinha com o loirinho e soubesse que ele ficaria bem estando na minha casa.

Definitivamente, eu faria o que pudesse para mantê-lo de forma confortável. Após tanto sofrer e passar por situações que ninguém deveria passar, Jimin merecia tranquilidade. Eu não poderia transformar o passado dele, mas poderia fazer parte do presente e do futuro.


capítulo curtinho, mas espero que tenham gostado! 💕☺ 

um pouco de calmaria faz bem para todos, mas eu gosto mesmo é de treta hihi

(partiu apreciar essa arte mais uma vez?)



Abuso | JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora