[18] livre.

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Jimin

O único líquido que escorreu pelo meu rosto foi a água da chuva, pois mesmo sendo o enterro do Chin, que convivi durante anos junto, não derramei nem sequer uma lágrima de tristeza e saudade pelo defunto no caixão.

Choramos quando sofremos uma perda, faz parte do luto e serve como um alívio emocional para expressar a dor, mas eu não chorei, porque não sofri perda alguma.

Ao contrário, eu ganhei.

Ganhei a chance de viver, como deveria ter sido a princípio.

Quando Chin ameaçou rasgar minha garganta com um canivete, os policiais não tiveram escolha a não ser matá-lo com um tiro na cabeça. Havia um agente atrás de Chin, um policial que salvou minha vida acabando com do meu maldito genitor.

A única coisa que herdei de Chin, foi seus genes e ainda bem que isso não quer dizer nada. Carregar o mesmo sangue em uma família não é importante. O que importa para ser uma família, é a presença e o amor, apenas isso.

No funeral de Chin, eu não desejava estar presente, mas o corpo precisava ser enterrado. Goyong pagou pelo funeral, já que Chin não tinha ninguém que se importasse para fazer isso.

Jungkook me acompanhou também. Ficamos por pouco tempo, mas neste ínterim, ninguém compareceu. Nenhum amigo e tampouco familiar.

Apenas nós três assistimos o caixão sendo enterrado.

E cada monte de terra jogado sobre o caixote de Chin, foi um peso a menos saindo da minha consciência.

Saber que ele nunca mais me abusaria, causou-me alívio.

Ele não poderia vir atrás de mim morto.

Sobre a morte de Chin, tristeza e saudade não existiam no meu vocabulário.

Dois anos após...

Muitos aspectos da minha vida mudaram em dois anos, mas um, infelizmente... eu preservava...

Chegar atrasado.

Senti minhas pernas queimarem pelo esforço enquanto corria ao lado de Jungkook. Não éramos nada esportivos então aquela corridinha nos matou.

Era meu primeiro dia de aula na faculdade e eu estava atrasado.

Iríamos acordar mais cedo para Jungkook me apresentar o campus gigantesco, mas parece que o tour pela universidade ficaria para outra hora. Meu namorado começou a cursar medicina há dois anos, então conhecia o local perfeitamente.

Chegamos a tempo de entrar na sala, porém, não o suficiente para que eu precisasse me apresentar na frente de todos. Ainda bem.

— Se quiser pode me esperar aqui no intervalo. Vou correr para comermos algo e daí eu posso te mostrar o lugar se quiser, ok, Ji? — disse Jungkook, meio ofegante após a corrida.

— Vou te esperar aqui — assegurei. Sem a orientação do moreno, eu provavelmente se perderia no campus imenso. — Me sinto nervoso. — Respirei fundo, encarando a porta em que eu deveria entrar.

— É natural se sentir nervoso no primeiro dia, Ji, mas você é incrível, aposto que vai fazer muitos amigos porque todos vão te adorar. — Jungkook segurou minhas mãos, suas palavras me fizeram sorrir. — Além disso, você pesquisou bastante sobre psicologia, agora está na hora de ver como realmente é o curso. E caso você não se identifique, é livre para mudar.

Jungkook tinha uma habilidade única para me acalmar.

— Obrigado, Kookie... só você para me tranquilizar agora.

Abuso | JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora