[15] juntos

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Jimin

"Não quero voltar!"

Despertei assustado, sentindo as lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas... as provas líquidas e dolorosas da minha angústia.

Porque após vê-lo nos meus pesadelos, era assim que eu me sentia. Todo o medo voltava.

Depois de tanto tempo desaparecido, por que Chin voltara a me atormentar nos sonhos?

A minha situação melhorou longe da sua presença, eu estava conseguindo superar todas as coisas terríveis que aconteceram comigo, então por que Chin precisava voltar para frustrar tudo?

Um dos meus piores pesadelos, que também era o meu genitor.

Eu sabia que a qualquer descuido ele poderia ir preso depois que o denunciei, mesmo assim, o meu medo era grande. Medo de que ele me encontrasse.

Meu avô era o único a saber sobre os maus tratos que sofri nas mãos de Chin. Por mais que Jungkook obviamente desconfiasse, nunca lhe confirmei muitas informações sobre esse assunto.

Penso que todos suspeitavam da minha relação com Chin, mas somente Goyong e a polícia sabiam sobre tudo.

Suspirei e levei a mão livre à testa, porque a outra estava ocupada, entrelaçada a de Jungkook, que repousava ao meu lado. Recebi uma carícia suave nas costas da mão e direcionei meu olhar ao moreno.

Era noite, mas as luzes dos postes entravam pela janela e iluminavam parcialmente a pele bronzeada de Jungkook. Ele parecia um anjo me fitando com seus olhos de ônix.

Ultimamente o meu desejo de tocar os lábios dele, aflorou-se. Eu desejava beijá-lo, mas, ao mesmo tempo, o pensamento de que Jungkook merecia muito mais do que eu poderia oferecer, confundia-me.

— Ji? — Escutei sua voz me chamando em um sussurro.

— Jungkook — respondi, percebendo apenas naquele momento que minha voz estava um pouco embargada.

— Ei, Ji? O que foi? — Jungkook sentou-se na cama. Senti sua mão apertar a minha com mais força e também sentei.

Sua preocupação me confortava tanto, que somente desejei chorar como um bebê em seu colo.

— Foi só um pesadelo... — desabafo.

— Estou aqui com você e ninguém vai te machucar, tudo bem?

— Eu sei — respondi, sentindo o medo partindo gradualmente. Era sempre assim quando Jungkook estava comigo. O medo não durava muito tempo.

— Quer conversar sobre, Ji? — Seus dedos acariciaram minha bochecha suavemente. — Você sabe que eu nunca vou te julgar por nada, não é? Quero que você tenha a melhor parte de mim.

Respirei fundo, na tentativa de me acalmar.

Jungkook sabe que tem algo que nunca lhe contei, mesmo assim, ele nunca insistiu no assunto, mas naquele momento, eu senti que deveria contar.

Toda a verdade.

Fora Jungkook a luz que iluminou a angustiante escuridão que preenchia os meus dias. Nada mais justo que ele conhecer sobre tudo que me salvou...

— Jungkook — chamei, tendo sua total atenção. — Preciso te contar... algo. Acredito ser agora o momento certo.

Seus olhos escuros se arregalaram, pude afirmar com certeza que ele não aguardava por isso.

E sem perder mais um segundo, comecei a lhe contar a história da minha vida.

Desde a violência doméstica que sofri, até quando enfim conheci Jungkook. Poupei muitos detalhes, mesmo assim, lhe assisti derramar lágrimas em algumas partes, já em outras, notei com nitidez sua expressão exalando puro ódio, principalmente quando envolvia Chin e o monstro... Yifan.

Ficamos um longo tempo nisso, revelei-lhe tudo o que perguntava e no momento em que finalmente acabei, senti um peso ácido se libertando do meu corpo.

Fora difícil, mas não me arrependi.

— Jungkook? Não precisa falar nada, tudo isso já passou agora...

Ele respirou fundo, escutei-o inspirar o ar fortemente.

— Jungkook?

Senti seus braços me puxarem para o seu corpo e aceitei sem hesitar.

Em um passado próximo, eu odiava abraços e qualquer ação que envolvesse toques. Contudo, isso também fora um dos aspectos que mudou em mim.

— Desculpa, Ji. Só... estou tentando processar tudo. Me deixa assustadoramente zangado o fato que um ser humano teve coragem de te maltratar por todos esses anos... justo a pessoa que deveria te amar e proteger...

— Existe muita gente assim no mundo... pessoas que machucam as outras sem se importar com o que elas sentem. — Separei nosso abraço para poder encará-lo.

— Não deveria ser dessa forma — disse Jungkook e eu assenti, concordando.

— Mas Jungkook. — Fechei os olhos e abaixei a cabeça. — Não quero que sinta dó de mim, não te contei tudo para ter sua pena. Eu quis te contar porque você precisava saber da verdade. — Voltei a fitar seus olhos de ônix.

— Ji... eu queria que nada disso tivesse acontecido com você, não posso mudar o passado, mas o que sinto não é pena! — Ele segurou minha mão, encarando-me sem hesitar. — Tenho orgulho pela sua força! Gostaria mesmo que você não tivesse precisado usá-la em situações tão horríveis, mas de qualquer forma, você não permitiu que todo sofrimento te impedisse de viver. Você resistiu a ele e agora, aos poucos toda a dor vai embora, Ji... e eu vou estar aqui para o que você precisar. — Sua mão tocou suavemente sobre o meu coração. — Vamos enterrar todo o caos, juntos.

As sensações que as palavras de Jungkook me causaram foram intensas. Sua mão quente sobre a minha pele, ajudou a transmitir todo o afeto que cada sílaba emitia.

Senti meu coração batendo fortemente. Eu também queria mostrar para ele o que sentia, mas não era tão bom com palavras.

Por isso, manifestei as emoções e todo o afeto, fechando os olhos e encostando de maneira lenta e receosa meus lábios aos dele.

Não me senti tão nervoso e com medo como pensei que seria.

Na verdade, a sensação era boa.

E quando Jungkook deu-se conta do ato, ele encaixou cuidadosamente sua mão na minha bochecha, acariciando minha pele. Enquanto a outra mão, encontrou e segurou a minha.

Jungkook respeitou totalmente o meu espaço e os meus limites, ele não tentou levar o beijo adiante e não me tocou em lugares que eu não me sentia confortável em ser tocado.

O que me fez sorrir quando nos afastamos.

— Isso é um sonho? — perguntei, ainda com os olhos fechados. Não imaginei que trocar afeto com uma pessoa que me respeitava e queria o meu bem, fosse tão agradável.

— Bem, se for um sonho eu nunca mais quero acordar. Acho que podemos viver dormindo — respondeu, causando-me risos. — Pode abrir os olhos, Ji. Você se sente bem?

Descerrei as pálpebras, vislumbrando os lábios de Jungkook curvados em um sorriso expansivo. Abaixei a cabeça e ri baixinho, um pouco envergonhado.

— Sim... não pensei que fosse me sentir tão bem como me sinto agora.

— Esqueça de todas às vezes que esteve sozinho, Ji. Estamos juntos nessa, tudo bem? Quero ser para você, tudo o que você significa para mim...

Assenti, sentindo meu coração aquecer.

— Você já é muito para mim, Jungkook...

A presença de Jungkook era como estrelas, brilhantes e luminosas, porque independentemente do lugar em que estivessem, não permitiriam que a escuridão prevalecesse. 

Abuso | JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora