Prólogo

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Eu tinha que aceitar o fato de minha vida não ser nada comum, como todas as crianças, eu sonhava ter uma família normal, poder ir a escola, ter amigos, e quando crescer, poder ir a faculdade, me formar, casar, ter filhos e então descansar em paz

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Eu tinha que aceitar o fato de minha vida não ser nada comum, como todas as crianças, eu sonhava ter uma família normal, poder ir a escola, ter amigos, e quando crescer, poder ir a faculdade, me formar, casar, ter filhos e então descansar em paz. Um pensamento clichê que jamais passará disso, não é pelo fato de meu pai ter sido o líder da maior facção criminosa do Rio janeiro, sendo sua maior prioridade a favela da Rocinha, ou pelo fato de eu estar me arrumando nesse exato momento para o seu velório. Mas sim pelos motivos que nos levaram a estar nessa posição. Minha vida chegou a um nível em que eu nem se quer sei quem sou, ou o que devo fazer a respeito da ideia de ser o mais novo chefe. Mais ou menos.

Em minha infância, eu aprendi que ricos e pobres não se misturam, que nós, (os que vivem na periferia), somos a minoria esquecida pelo governo. Nunca conheci minha mãe, meu pai nunca falava dela, a história era sempre a mesma, rápida e dolorosa, morreu no parto. Acreditei por um tempo, mas o que eu realmente acho? Que talvez morreu por uma overdose, ou fugiu com outro cara. Meu pai,  John Gilbert, era conhecido por todos na cidade como Gilbert, esse simples nome, que faz até o mais rico dos ricos tremer. A única pessoa que eu conheço que o desafiava e não morreu por isso, bem, foi eu. Seu único filho, Christian Gilbert, nome de merda, como eu sempre digo, até ontem todos me chamavam de Chris, hoje  ao acordar percebi que me tornei Gilbert, foi aí que eu descobri que não só herdei o nome dele mas todo o seu reino, como ele costumava chamar. Eu estou na merda, literalmente. Minha única esperança é seu sócio, porque eu realmente não quero ser o líder de uma facção. Não quero fazer parte disso. Só quero sumir desse maldito lugar.

- Gilbert? – Dan entrou na enorme sala, ele era melhor amigo e braço direito de meu pai, levantei a cabeça com o terno nas mãos. – Está pronto?

- Acho que nunca estarei, ele era a única pessoa que eu tinha, eu não sei como fazer isso. – levantei,  vestindo o terno, e o encarando.

- É por isso que estou aqui, seu pai iria querer isso, filho, agora nós somos a sua família. - Ele sorriu.

- Obrigado! Vamos então? - Perguntei meio ansioso, então me virei para a porta e vi o senhor Blossom entrar.

- Desculpe a demora filho. - Ele disse se aproximando e me puxando para um abraço.

- Tudo bem, o importante é que o senhor está aqui agora. - Falei me afastando depois de alguns minutos e o encarando.

- Eu prometo Christian, vou descobrir quem fez isso, não vai ficar impune.

Dei um longo suspiro o encarando. O senhor Blossom era o sócio de meu pai, aquele que iria assumir o morro agora. Ele mora em São Paulo com a família, não sei muito sobre eles, só que ele tem dois filhos e que nenhum deles incluindo sua esposa sabe o que ele realmente faz para viver. Eu o conheço desde sempre, quando nasci meu pai já era dono do morro. Eu cresci vendo esse homem de ano em ano por aqui. Ele sempre me tratava bem, sempre me trazia presentes quando criança, sempre me contava histórias engraçadas ou algo do tipo. Sempre imaginei como a família dele era sortuda. Eu sempre desejei que meu pai fosse assim. Só que com a morte de minha mãe, ele provavelmente ficou de coração duro. Bom, era isso que eu pensava. Era o que eu queria acreditar, assim seria mais fácil.

Não Queira Me Conhecer - Heranças De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora