Capítulo 30

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Olívia


Sentia como se estivesse flutuando, encarando seu rosto agora relaxado, os olhos fechados, cabelo desgrenhado e a boca levemente inchada, com um pequeno corte no canto de seu lábio inferior. Se estava com medo? Estava. Mas eu realmente não sabia o que fazer, Dan se mostrava a cada dia uma pessoa mais perigosa, eu não tinha mais dúvidas de que ele era o mandante do meu sequestro, sua voz, ela o entregou no momento em que me chamou de vadia. Eu não podia perde-lo, e eu não iria. Enterrei o rosto na curva de seu pescoço, puxando o ar, sentindo seu cheiro, era como um vício, uma droga. Uma lágrima solitária rolou por minha bochecha, me afastei com cuidado para não acorda-lo, e me levantei, o celular dele começou a vibrar em cima do criado mudo, me impedindo de seguir para o banheiro, o peguei rápido vendo o nome de Pedro na tela, dei um longo suspiro atendendo a ligação.

- Oi Pedro! 

- Olívia? Onde ele está? - Pedro parecia surpreso.

- Ele tá dormindo, estava acabado, e pra completar Dan esteve aqui, os dois brigaram. - Falei quase num sussurro.

- Tudo bem, preciso de uma foto dele, vou mandar fazer outro passaporte, ele precisa de outro sobrenome, que tal o da irmã? 

Olhei pra ele enquanto Pedro falava no outro lado da linha, ele iria odiar carregar o nome da mãe que nem conhece, não seria uma boa ideia. Fui para o banheiro e encostei a porta, não queria que ele acordasse, precisava descansar.

- Não, ele odeia a mãe, escolhe qualquer um, pode colocar o meu, não sei, menos o da mãe. Pedro, quanto porcento de chance tem desse plano dar errado? - perguntei sentindo o coração acelerar.

- Todas as chances possíveis, to fazendo muita coisa errada por ele, mas o pior de tudo é que se ele for pego, eu não vou poder fazer nada, precisam ser muito cuidadosos. Olívia?- ele agora parecia abaixar o tom da voz.

- Vamos ter cuidado! - olhei para o espelho vendo meu reflexo - Oi?

- Se ele for preso, vai pagar por crimes que não cometeu de fato, mas ele foi cúmplice do John, temos que acabar logo com isso, Dan é mais esperto do que imaginamos, precisamos agir. Fala pra ele me mandar a papelada e a foto. Se cuida!

- Tudo bem, vai dar tudo certo, eu sei que sim. - as lágrimas rolavam pelo meu rosto sem permissão - Você também!

Desliguei o celular abaixando a cabeça, tudo aquilo era uma merda, nossas vidas estavam por um fio, era como se em questão de segundos tudo que tivemos, todos esses meses fossem acabar, como se ele fosse sumir, eu não iria suportar perder mais alguém, não podia perde-lo. E eu não iria. Saí do banheiro colocando o celular onde estava, tirei a camisa que estava vestindo, coloquei uma roupa, peguei a pistola que ele havia me dado, conferi se estava carregada e a coloquei no cós da calça, cobrindo com a blusa, como ele sempre fazia. Amarrei o cabelo com um elástico e o olhei mais uma vez, continuava dormindo. 

- Vai ficar tudo bem meu amor, já sofremos demais!

Sussurrei sabendo que não ouviria, fui até a porta e quando abri, Cristine estava se aproximando no corredor, fui até ela em passos apressados. Se ela estava aqui por ele, agora iria nos ajudar. 

- O que aconteceu, tava chorando? - ela perguntou parando em minha frente.

- Estava, não tem como não chor vivendo nesse inferno. Vem,  precisa me ajudar em uma coisa.

- Ta bom, vamos lá! 

Seguimos para o andar de baixo. Olhei em volta, eu estava igual a ele, paranóica, assustada e com medo. Apesar dele não assumir isso, não era difícil perceber. Parei quando entramos no escritório. 

- Tá. O que vamos fazer? - ela cruzou os braços se escorando na porta, meu Deus, como são parecidos. - Por que tá tão estranha?

- Vamos começar a separar a papelada, tudo que incrimina teu papai, não vou deixar Christian pagar por tudo. 

- Cadê ele? - ela perguntou se aproximando.

- Dormindo, ele está exausto, Cristine, Pedro ligou, disse que se tudo der errado, ele vai preso, você sabe assim como todos nós que ele é procurado, e ele foi cúmplice do pai. Ele precisa de nós. - senti meus olhos arderem novamente.

- Ele não vai ser preso, por onde começamos? 

- Tem essas caixas aqui na estante, essas pastas e os diários, começa por eles. Apaga tudo que tem no computar.

Ela confirmou com a cabeça e começou a pegar as caixas e as pastas, espalhando tudo pelo chão, me sentei na cadeira ligando o computador, iria passar todos os registros que incriminavam o pai dele e o Dan para um pendrive, apesar de meu pai merecer ter o nome sujo, eu iria fazer o que ele queria, só bastava um de nós sendo procurado, assim seria mais fácil pra ele sumir, comigo. 

- Meu Deus, olha isso - Cristine falou encarando um dos diários do pai - "Dan falou que talvez fosse um erro continuar com Christian aqui, que ele só causa problemas e que uma hora ou outra vai acabar nos ferrando, mas a verdade é que eu não sei o que fazer, ele é meu filho, eu o amo, mas não sei lidar com ele, não sei olhar em seus olhos e não ver a mulher que partiu meu coração, ainda assim, não suportaria perde-lo, muito menos mandar mata-lo!"

- O que? - senti um peso cair sobre mim, eu não sabia o que pensar. - Dan queria matar ele, tem data?

- Ele era um monstro, igual ao meu avô. - ela falou sem me encarar - Não, tem data, só o mês, ele escreveu isso em fevereiro.

- Foi o mês em que ele morreu, então isso quer dizer que... 

- Dan queria me matar, mas meu pai não deixou então ele matou meu pai! - Christian falou entrando no escritório.

- Isso que é uma família feliz! - Cristine falou jogando o diário na caixa.

- O que estão fazendo? - ele perguntou olhando em volta.

- Separando a papelada pro Pedro, você precisava descansar um pouco. Como se sente? - o encarei.

- Eu estou bem, o que eu posso fazer pra ajudar as duas detetives? - ele sorriu, eu sabia que era um sorriso falso, dava pra ver em seu olhar.

- Comida! - Foi Cristine quem se manifestou.

- Pedro ligou, pediu pra você mandar uma foto, ele vai te arrumar outro passaporte. 

Falei o observando, seu olhar estava nos diários espalhados pelo chão, eu sabia que não poderia protege-lo da dor que seu pai mesmo morto o causava, era complicado, eu sabia. Assim como sabia que a qualquer momento Dan pode aprontar uma e nos ferrar. 

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Beijão ♥✔

Não Queira Me Conhecer - Heranças De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora