Capítulo 32

23 9 9
                                    

Olívia

Tudo em mim doía, mas nada se comparava a dor que sentia no peito, a falta de ar e aquele aperto no coração. Olhava para Cristine que segura a arma e as balas com toda sua força, seu lindos olhos azuis, iguais aos dele, estavam vidrados, olhando para algum lugar qualquer. Marcão guiava o barco, enquanto o motor fazia todo o trabalho pesado. E eu só conseguia sangrar. Assim como não tinha ajudado em nada.

- Marcão, vamos voltar, por favor! -sussurrei o encarando.

- Você precisa de um hospital, eu não vou quebrar uma promessa Olívia, Christian sabe se cuidar. - Ele me olhou - Não é a primeira vez que ele passa por uma situação parecida!

- Marcão... Por favor... - choraminguei.

Ele nem se deu ao trabalho de responder. Apenas virou o rosto. Senti uma lágrima escorrer por meu rosto, eu me sentia péssima, vulnerável sem ele ao meu lado. Era como se existisse apenas um grande vazio. Era como se eu não existisse sem ele.

- Cristine? - Chamei a encarando.

- Oi? - ela me olhou, parecia distante.

- Me ajuda a sentar?

- Claro!

Estava deitada no barco desde quando havia acordado, queria pelo menos ver onde estávamos, precisava. Então ela me ajudou, me sentando no banco, ao seu lado. Olhei para onde estava olhando desde o início, era a casa dele, nossa casa até então. Estava a beira do mar. Como nunca havia percebido antes?

- Por que esse barco estava praticamente nos esperando? - Perguntei para Marcão.

- Não estava nos esperando, esse era o barco que Chris usava para sumir, quando brigava com John. - ele nos olhou pensativo. - Ele sempre esteve ali.

- Acha que ele vai morrer? - Cristine perguntou.

- Não, eu não acho isso. Ele nunca bancou o herói, não vai bancar agora!

Abaixei a cabeça olhando para o meu ombro, ainda doía muito, apesar de ter alguma coisa amarrada ali. Dei um longo suspiro, não queria pensar em nada, só queria ter fé de que ele me encontraria, de que ainda iria ver aqueles olhos azuis intensos me encarando, que eu ainda iria sentir o gosto dos seus lábios nos meus, suas mãos em meu corpo. Eu precisava confiar nele, precisava acreditar que ele iria sobreviver.
Senti as mãos de Cristine em mim quando o barco parou bruscamente, batendo contra um barranco ou areia, não sabia distinguir. Marcão pulou do mesmo estendendo a mão para mim, olhei para a praia, uma ambulância estava parando no mesmo instante em que chegamos. Levantei segurando em sua mão, descendo do barco, dei alguns passos sentindo a areia em meus pés, eu estava segura, Nós estávamos seguros. Mais ele ainda estava lá.
Virei olhando para o outro lado, não parecia ser tão longe, eu podia ver a casa claramente, as luzes das casas vizinhas e os carros da Polícia circulando por ali.

- Vamos Olívia, já perdeu muito sangue! - Marcão falou me puxando.

- Você vai voltar? - Perguntei ainda encarando a casa

- Vou! - sua resposta foi seca.

- Ai! - Cristine falou levando a mão no ombro esquerdo.

- Tá ferida? - Marcão perguntou preocupado.

- Não, mas acho que Christian está. - ela nos encarou - Eu sei que parece estranho, mas eu consigo sentir!

Olhamos os três para a casa, como se estivéssemos ligados no automático, e no mesmo instante pudemos ver a casa pegando fogo. Senti meu coração acelerar e as pernas perderem as forças. Ele ainda estava lá!

- Não! - Gritei - Christian! Não!

Marcão me segurou pela cintura, antes que eu pudesse correr de volta para o barco. Eu não queria acreditar que ele talvez estivesse morrendo queimado, mas era impossível não pensar. Não imaginar. As lágrimas caíam sem parar, sem permissão, ignorei a dor que estava sentindo e o sangue que estava perdendo, eu só me importava com ele, o amor da minha vida, o homem que tinha me salvado, me amado e me protegido todo esse tempo. Eu só me importava em ir buscá-lo.

- Olívia, se acalma! - Marcão me segurava - Me ajudem, por favor!

- Não, Marcão, vai até lá, trás ele até aqui, por favor, não o deixe morrer... Eu te imploro...

Parei de lutar, não por que não queria, mas por não ter forças, estava cansada demais, era como se um pedaço de mim estivesse morrendo a cada segundo. Olhei para Cristine, estava parada, encarando a casa em chamas, parecia em choque, não falava, não se movia, apenas lágrimas escorriam pelo seu rosto. Sua mão ainda estava no ombro esquerdo. O que me fez desabar, ele se feriu, não conseguiu sair da casa, alguma coisa muito errada tinha acontecido.

- Cristine! - Gritei.

- Ele tá vivo... - ela sussurrou sem me olhar - Ele tá vivo!

- Vamos levar as duas para a ambulância! - Uma enfermeira anunciou puxando Cristine, enquanto Marcão me arrastava com ele, me afastando do mar, me afastando dele.

***

Abri os olhos lentamente, batendo os cílios algumas vezes, tinham luzes por toda parte, não conseguia distinguir onde estava exatamente. Respirei fundo, sentindo algo estranho, um cheiro estranho. Onde estava?

- Olívia? - Uma voz desconhecida me chamou. - Consegue me ouvir?

Apenas balancei a cabeça em um sinal de positivo. Então fechei os olhos novamente. Eu via seus grandes olhos azuis me encarando, um sorriso de lado, desenhado em seus lábios, como um sonho bom.

- Chris-tian... - Sussurrei com um pouco de dificuldade.

- Eu sou o Dr. Ângelo, você está em um hospital, consegue se lembrar de alguma coisa? - sua voz era calma, doce, quase angelical.

- Fogo, Christian... - Abri os olhos tentando focar a visão.

- Tudo bem, vou chamar sua amiga, ela está ali te esperando.

Ao dizer isso ele saiu, me deixando sozinha. Virei o rosto, olhando em volta, haviam vários aparelhos. Olhei para cima vendo uma bolsa de soro fisiológico, que dava diretamente até meu braço. Dei um suspiro tendo a certeza de que estava mesmo em um hospital. Tentei me sentar, mas a dor em meu ombro ainda estava ali, me impedindo de fazer qualquer tipo de esforço.

- Olívia! - Cristine entrou sendo seguida pelo médico, que agora eu conseguia ver bem. Baixo, cabelos loiro e olhos castanhos claros, vestia roupas brancas e parecia não estar muito preocupado.

- Cadê ele? - perguntei no mesmo instante.

- Eu não sei, Marcão foi até lá depois que nos deixou aqui.

- O que aconteceu?

- Você desmaiou por conta da perda de sangue, acabou de sair do centro cirúrgico, removemos a bala, por sorte não vai ficar com nenhum tipo de sequela. - o médico respondeu ao lado de Cristine - Vão ficar bem!

- Vão? - Cristine perguntou meio confusa, franzi a testa o encarando.

- Sim, não sabia? - ele deu um sorriso - Você está grávida Olívia!

________________🎭________________

Se está gostando da história não esqueça de votar e deixar aquele comentário gostoso de ler. Críticas construtivas serão sempre bem vindas!
Beijão ♥✔

Não Queira Me Conhecer - Heranças De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora