Capítulo 14

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Olívia

Meu coração estava acelerado, não só porque ele havia acabado de me beijar duas vezes, mas também pelo fato de ter ficado tão nervosa com suas mãos em mim que acabei falando sobre o diário e as cartas. Talvez não fosse a hora certa pra isso, mas qual seria afinal?
Minha boca ainda estava com a sensação do seu beijo, meu cérebro ainda estava tentando se reconectar. Seu gosto era melhor do que havia imaginado, seus toques me causaram arrepios e a sensação de sua proximidade faz todo meu corpo estremecer. 

- Achei que sua mãe tivesse morrido quando nasceu... - falei, talvez baixo demais. - Chris... Essas cartas...

- Ela está morta Olivia! - ele falou fechando a gaveta sem ao menos abrir uma.- Essas cartas devem ser antes de mim.

- Tem certeza? - perguntei olhando para o diário em suas mãos.

- Ele não iria esconder isso de mim... - ele falava sem me olhar. - Você leu? 

- Christian, não precisa ler isso, se for te machucar... - eu podia sentir o quanto estava nervoso e o medo em sua voz era nítido, medo de o pai ter mentido todo esse tempo. - Eu li uma página qualquer, desculpe por isso.

- Esse foi o ano em que nasci... - ele falou olhando para a capa. - Tudo bem, não tem nada demais aqui, a não ser a verdade.

O modo como ele falava era como se já soubesse o que estava escrito ali, de alguma forma, no fundo ele sempre soubesse da verdade. Por mais que aquilo fosse doer, fosse machucar, ele parecia disposto a ler aquilo, pensando bem, quem não leria, não é mesmo?                   
O observei, suas mãos estavam trêmulas, aquele Christian de minutos atrás havia sumido literalmente. Me senti culpada e arrependida por ter dito aquilo, poderia ter fingido nunca ter visto, ter deixado pra lá, poderia ter inventado qualquer coisa para que aquele beijo não tivesse se tornado algo mais sério, mas como sempre, eu fiz algo que vou me arrepender. 

- O que acha de ler depois? - perguntei tentando fazer ele deixar isso pra lá, só que era tarde demais, já estava folheando.

- Primeira página; " Estamos sem nos ver desde que descobrimos sua gravidez. Aquele maldito verme que Eleonora chama de pai, é o pior monstro que existe. Tentei de tudo para que pudéssemos ficar juntos, mas ela não tem coragem o suficiente para enfrenta-ló. Ele disse que se ela vier, ele me denuncia, por ela ser menor de idade. Inferno! Eu não ligo, só a quero comigo!" - Ele me olhou com a testa franzida. - Isso explica muita coisa! 

- Então sua mãe era menor de idade, isso explica o porquê seu avô os separou... - Por enquanto não tinha muita coisa grave.

- Vou pular algumas paginas. - ele anunciou folheando. - "Estou desolado, não sei o que fazer, não sei para onde ir, só consigo pensar em como ele foi capaz de fazer algo desse tipo, aquele maldito! Não posso criar uma criança sozinho, não sei como fazer isso, não faço ideia de como ela está, mas de uma coisa eu sei, eu não consigo fazer isso! Acordar com seu filho recém nascido na sua porta, não é algo que eu estava esperando, ainda mais quando você procura a mulher que ama e não encontra. As palavras dele nunca serão esquecidas: Aqui está a criança indesejada por mim, minha filha não nasceu para morar em uma favela, muito menos com um traficante. Vou leva-la para fora do Brasil, e enquanto eu estiver vivo, ela não pisará nesse País de merda! Não a procure, e não deixe que essa cria o faça, aja como se ela estivesse morta, assim será melhor para todos nós. E com isso, eu vou facilitar sua vida, vou fingir que nunca te vi antes. A unica coisa que ela pediu foi para que mantivesse o nome que ela escolheu, por isso fiz questão de passar no cartório e registrar. (...)"  - ele parou de ler pensativo. -"A partir de hoje Eleonora está morta, para mim e para meu filho."

- Christian... eu sinto muito... - falei acariciando suas costas

- Ele mentiu pra mim, todo esse tempo, ele mentiu... ela ta viva, Olivia, minha mãe está viva, e nunca veio atrás de mim... Então foi isso que ele quis dizer enquanto morria, suas últimas palavras foram: Ela está...

Meu coração estava quebrado, vê-lo daquela forma me deixava péssima, era culpa minha, se não fosse tão curiosa, ele não estaria sofrendo tanto. Estava tão bem, tão feliz, e em questão de minutos eu acabei com aquilo, agora ele estava em estado de choque, repetindo palavras pelo ar, como se ainda tentasse entender o que realmente estava acontecendo. Ele jogou o diário na parede, me fazendo saltar, o olhei assustada, toda sua tristeza tinha virado ódio, ele abriu a gaveta pegando as cartas e jogando em cima da mesa.

- Chris o que está fazendo? 

- Eu não quero ver mais nada disso. - ele se levantou amassando tudo e jogando dentro do lixo que havia ali.

- Não faz isso... Você só está nervoso, precisa se acalmar... - Falei me aproximando.

- Você não entende Olívia... - Ele me olhou com os olhos lacrimejando.

- Eu sinto muito, de verdade... Não devia ter desenterrado isso... - Me sentia culpada por seu sofrimento.

- Você não tem culpa de eu ter pais mentirosos... Me deixa sozinho, por favor. - Ele se sentou em um pequeno sofá que havia ali.

- Não vou te deixar sozinho. - Me aproximei sentando ao seu lado. - Chris, você foi tirado de sua mãe, você viu o que ele escreveu, deve ter algum motivo para não ter vindo, talvez veio, você não sabe...

- Eu não quero ouvir mais nada Olívia, não tente me fazer sentir melhor, porque não vai funcionar assim. A vida inteira eu fiz de tudo para que meu pai pelo menos me olhasse, ela queria um traficante não um filho. Você estava certa. E ela não é pior que ele, poderia ter vindo quando fizesse 18 anos, mas ela não veio.

- Eu não estava pensando quando disse aquilo. - O olhei. - O que está sentindo?

- Raiva, tristeza... - Ele me olhou. - A vida inteira eu me sentia vazio, como se faltasse uma parte de mim, as vezes eu sentia falta de ar, sentia dores que nenhum médico conseguia explicar, por fim, disseram que era síndrome do pânico... Não sei, talvez de alguma forma eu sempre soube que ela estava viva, só não queria acreditar.

Dei um longo suspiro me arrastando no sofá, me aproximando dele, levei a mão até seu rosto, limpando algumas lágrimas que escaparam, ele estava gelado, sua tristeza era real, ele estava muito mais do que decepcionado. Eu queria poder ajudar, dizer algo que pudesse ajudá-lo, queria tirar toda aquela dor, ele não merecia tanto sofrimento, nenhum de nós merecia aquela vida.

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Beijão ♥✔

Não Queira Me Conhecer - Heranças De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora