Capítulo 9

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Christian


- Conversar? - perguntei ironicamente.

- Ou não, você é quem sabe, vou começar! - Ela rebateu com uma agulha em mãos.

- Espera! - segurei sua mão e ela me encarou, seus olhos transmitiam certa tristeza. - Tudo bem.

- Com medo? Vamos lá Gilbert, confie em mim... - sorriu.

- Não estou com medo, só não estou muito confortável sabendo que você vai me costurar sem anestesia. Isso já está doendo muito. - ela me encarou por mais algum tempo, e então voltou a falar.

- Tudo bem, podemos ir a algum hospital...

- Não, pode fazer. Não posso sair agora, faça.

Ela deu um pequeno sorriso sem mostrar os dentes, soltei sua mão novamente, aos poucos, na verdade eu estava morrendo de medo, eu sabia que iria doer muito, e não queria parecer fraco em sua frente, era o que, a terceira? Não, quarta vez em que nos encontramos, achei que nunca mais a veria, que teria ido embora com o dinheiro.
Comecei a analisar a mesma, estava usando roupas de frio, mesmo com o calor infernal do Rio de Janeiro, franzi a testa com esse pensamento.

- Ok, vamos lá... - sua voz me fez dar um suspiro e a encarar novamente. - Qual seu nome? Quero dizer... O seu nome, e o não seu apelido. Seu nome verdadeiro.

- Se aproveitando da situação? - sorri - Christian.

- Sério? - me olhou, parecendo bastante surpresa - Pensei que fosse algo parecido com "Henrique", ou então "Júlio".
Não sei... Por que o "Gilbert"?

- Porque é meu sobrenome, sobrenome do meu pai, as pessoas o chamavam assim, e agora me chamam assim. - abaixei a cabeça pensativo, então senti uma dor aguda, num impulso minha mão foi até sua perna, onde dei um pequeno apertão.

- Ai, porra! - Praticamente gritou quando encostei em uma parte da sua coxa, por cima do tecido da calça que usava, achei que não tivesse sido tão forte, franzi a testa por isso.

- Desculpa, foi sem querer. Merda! Isso dói muito. - disse voltando a encara-la. - Você tá bem?

- Estou bem, agora vamos terminar isso aqui, fique quieto, por favor. - ela me encarou por alguns instantes então voltou a atenção para o que estava fazendo. - Então, o que houve com seus pais?

- Minha mãe morreu quando eu nasci e meu pai morreu a um ano, ele foi assassinado. - fechei os olhos enquanto ela fazia a sutura, eu podia sentir a agulha entrando e a linha passar logo em seguida. - E o que aconteceu com os seus ?

- Morreram em um acidente de carro recentemente. - respondeu baixinho.

- Eu sinto muito. - fiquei pensativo por alguns segundos, já estava me acostumando com a dor. - Achei que tivesse ido embora.

- Obrigada. Eu também sinto. - ela me olhou rapidamente, com a testa franzida. - Não tenho pra onde ir.

- Pra que queria o dinheiro então?

- Meu irmão ficou no hospital depois do acidente, ficou com algumas sequelas, então eu precisava de dinheiro pra tentar ajudá-lo.

- Como ele está? - perguntei, mesmo desconfiando de qual seria sua resposta.

- Morto. Ele... Enfim... Já fazem alguns dias. - falou por fim, cortando a linha.

- Olívia, eu sinto muito.

Não Queira Me Conhecer - Heranças De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora