Capítulo 35

23 7 2
                                    

Christian

Olhei em volta quando entramos na delegacia, estava em silêncio desde quando saímos do hospital. Eu só conseguia pensar nela, em como estava ou em como se sentiria com tal notícia. Nossos planos haviam dado totalmente errados. Mas a única certeza que eu tinha era que Dan nunca mais iria nos fazer mal. 

- Quer dizer alguma coisa? - a delegada perguntou se sentando atrás de uma mesa.

- Não entendo as algemas, não resisti a prisão e eu não sou uma ameaça a integridade física de nenhum de vocês. - ergui uma sobrancelha.

- Tá certo! - ela deu um pequeno sorriso - tire as algemas dele e podem levar ele para o aconchego.

Dei um suspiro quando tiraram as algemas, esfreguei os pulsos com a testa franzida. Segui um dos policiais até uma pequena sala, onde assinei alguns papéis e em seguida tive que deixar minhas digitais ali. Merda. Eu estava realmente sendo preso, e a papelada está prontinha, só me esperando. 

- Eu tenho direito a uma ligação, certo? - perguntei enquanto seguia um policial com outro bem atrás de mim. - Não falam? Beleza!

Parei em frente a uma cela, eles abriram a porta de metal, que rangeu, revirei os olhos e então entrei no local. Olhei para os meus mais novos companheiros, e só então percebi que já os conhecia. Outra grande merda.

- E ai Jujuba? - perguntei intercalando o olhar entre os quatro homens que estavam ali.

- Parece que seu grande plano deu muito errado! - ele deu um passo a frente - O que fez com Dan?

- Eu o matei. - falei dando um passo a frente - Ele mentia todo esse tempo, ele matou meu pai e ia me matar.

- Claro, você só esqueceu de confiar nos seus homens, fazendo planos com Marcão e o traídor do Pedro, que esqueceu onde cresceu. 

- Vai fazer o que? - perguntei sem desviar o olhar do seu - me bater?

- Não é uma má ideia, já que os únicos sobreviventes estão aqui, exceto por Marcão. Cadê ele?

- Marcão fugiu. Ele tem um filho pra criar. 

- Pois agora, aqui,  somos iguais, você não manda em nós. Acabou pra você!

Franzi a testa com o que ele disse, em seguida me socou no rosto, caí contra as grades, levantei rápido partindo para cima dele, devolvendo o soco, dois homens me puxaram pelo braço, me segurando, claro, eles iriam me dar uma surra. Eu tinha ferrado com tudo, merecia. Foram vários socos no rosto, estômago, o sangue escorria. Tentei me soltar, o que era impossível. 

- Claro que você precisa que me segurem para ser homem! - gritei

Os outros presos, nas celas vizinhas começaram a gritar, bater nas grades, fazendo barulho. Ouvi passos de pessoas correndo nos corredores.

- Parem agora! - a delegada gritou.

Me jogaram no chão, cuspi sangue no chão, e então com muita dificuldade me levantei, encarando a mulher do outro lado da cela. 

- Quero fazer uma ligação! - falei me segurando nas grades.

- Levem ele pra fazer a porcaria da ligação e depois coloque em outra cela, sozinho!

Dei um meio sorriso saindo assim que abriram a porta, não fiquei nem vinte minutos em uma cela e levei uma baita surra. Me levaram até um telefone, em uma salinha, me sentei em uma cadeira que havia ali, sentia dor em tudo que era lugar, principalmente no ombro, onde havia recebido alguns pontos. Olhei para o vidro que tinha ali, vendo meu reflexo, estava horrível, um corte acima do olho direito, que com certeza iria pegar uns dois pontos, e mais um corte nos lábios. Estava horrível. Sujo e machucado.

- Dez minutos! - o policial avisou de afastando.

- Valeu. - falei discando o número da casa de Ana, não demorou muito pra ela atender.

- Alô? - sua voz tinha um tom de desespero.

- Oi Ana, sou eu. 

- Christian! Como você está? - ela praticamente gritou, eu pude ouvir várias vozes atrás, uma delas eu podia distinguir bem, Olívia.

- Eu tô bem, cadê o Pedro? 

- Ele foi até aí, com sua advogada!

- Eu tenho advogada?

- Sua irmã arrumou uma!

- Tá bem. Deixa eu falar com Olívia. - pedi sentindo um aperto no peito.

- Vou passar pra ela. Fica bem meu filho. 

- Christian? 

Ouvi a voz dela no outro lado da linha, como eu sentia sua falta, só eu sabia o que estava passando naquele lugar, o dia tinha sido longo até demais e a noite ainda mais. Não fazia idéia de que horas eram, mas provavelmente estava perto de amanhecer. Abri a boca para dizer algo mas a ligação encerrou, franzi a testa.

- Alô? - falei tentando ouvir alguma coisa. - Que merda! 

- Já chega, vou te levar para sua cela. - o policial voltou.

- Eu não usei os dez minutos, deixa eu ligar de novo?

- Sinto muito, mas não dá! 

Bati o telefone e me levantei, sentindo tanto ódio, eu não tive nem a chance de falar com ela, dizer que estava bem, tentar acalma-la. Entrei na cela indo direto para uma espécie de cama que havia ali. Deitei na mesma encarando o teto, sentindo as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Talvez eu ficasse preso uns vinte anos, iria sair com uns quarenta anos, ela provavelmente iria encontrar outra pessoa, se casar e ter filhos. Enquanto eu pago por tudo que fiz. Não seria injusto, eu escolhi aquela vida, tive opções quando Pedro me chamou para prestar vestibular, eu escolhi ficar na favela. Eu escolhi estar preso. 

*** 

- Você tem visita! - um policial gritou na porta da cela, abrindo a mesma.

- Visita? - levantei olhando para a pequena janela que havia ali, estava claro, o que indicava que eu acabei dormindo.

Ele nada disse, apenas me indicou o caminho, e então veio logo atrás de mim, como se eu fosse tentar fugir. Eu rezava mentalmente para que não fosse ela, não queria que me visse assim, machucado e sem atendimento, tinha certeza que os pontos estavam abertos. Entrei em uma pequena sala, onde fui conduzido até uma mesinha, me sentei colocando as mãos no colo. Olhei em volta tentando pensar em quem poderia ser, talvez fosse Pedro, ou a tal advogada que Cristine arrumou. Depois do que pareceu uma eternidade a porta se abriu novamente, uma mulher que eu nunca tinha visto antes entrou, alta, cabelo loiro, olhos azuis. Paralisei no mesmo instante em que nossos olhos se encontraram. Ela se aproximou me encarando e então sentou na cadeira de frente pra mim, colocando uma pasta em cima da mesa. Eu não conseguia respirar, muito menos falar. Não era possível.

- Christian, sou sua advogada! - sua voz era doce e calma.

- Mãe? 

________________🎭________________

Se está gostando da história não esqueça de votar e deixar aquele comentário gostoso de ler. Críticas construtivas serão sempre bem vindas!
Beijão ♥✔

Não Queira Me Conhecer - Heranças De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora