Surto.

72 12 1
                                    

Ana Luisa

Eu vi nos olhos daquela mulher que ela queria me fazer mal. Ela queria me levar embora!! Não sei pra onde, mas não quero ir! Quero ficar aqui! Quero ficar na minha casa! Em paz!! Eu quero que parem de me vigiar.
Eu ataquei e foi aí que apareceram os anjos para me prender. Anjos do mau! Eu lutei com um deles igual Jacó e mordi. Seu sangue podia me curar. Não curou!! Não soltei quando vi ele gritar. O sangue dele vai me esconder dos olhos que tanto me olham. Sangue dos anjos do mau vão me livrar daqueles que me vigiam.
Enfiaram a mão na minha boca para abrir. Estalou. Eu gritei que machucou, eles não ligaram!! Eles não veem problemas em me ferir.
QUERIAM ME MACHUCAR!
Eles me prenderam!! Por isso olharam tanto!! Eles vieram me levar!! Vieram mesmo. Colocaram eu numa maca. Prenderam. Deram injeção. Eu não dormi. Fiquei acordada para ver o que faziam comigo presa. Não podia fechar os olhos. A mulher que me enganou tentava mentir ainda mais pra mim. Virei a cara para ela. A culpa é do Otávio. Ele que  causou isso.
Onde ele tá?! — Quero saber do Otávio. Vou reclamar com ele!
Ele quem? Vadia de morro! — Ela me xinga!! Eu não sou isso!! Não sou não!!
Vai tomar no cu, sua puta!!— Ela dá um tapa na minha boca, olhando feio. Não fiz errado! Ela começou! Tentei me soltar para fazer ela parar de olhar para mim. Ela ainda está olhando. Encarando! Encarando meus olhos.
Lava essa boca para falar comigo, pirralha. — Brigou. Ela brigou comigo porque xinguei. Ela não sabe de nada! Não sabe que me xingou primeiro.
Fiquei quieta. Cortou minha boca. Tá com gosto de sangue. Eu não gosto de sentir dor. Eu não gosto de ficar presa. Eu não gosto que me olhem.
EU ODEIO VOCÊS!! ME DEIXEM SAIR!!
Gritei. Gritei até me deixarem sozinha no barco. Não sei como cheguei aqui. Gritei mais. Eles estão falando de mim, eu ouvi! Eu ouço os passos. Eles estão voltando. Continuo gritando. Pelo menos não estão olhando para mim.
Não sei por que olham tanto. Não sei o que querem de mim. Devem me vigiar para alguém.
Escutei a porta abrindo. Vieram ver se eu estou viva por que parei de gritar. Estou de olhos fechados, assim fica escuro e eles não me veem.
A mulher volta, eu sei que é ela.
Vai sair nunca mais. – Sussurra em meu ouvido.
Eu preciso voltar para casa, um dia Boné vai sentir falta de mim e vai me buscar. Minha irmã Julia também. Não sei por que quebraram minha família. Eu queria eles de volta para morar junto.
Ela está me olhando. Senti sua respiração perto de mim, seu ar. Tentei espantar ela, mas não consegui por que to presa. Ela me prendeu.
Eu não preciso de gente pra cuidar de mim. Ja tem eu! Eu e Otto cuidam de mim.
Otto é o meu amigo que sussurra em meu ouvido de vez em quando. Ele manda fazer coisas para evitar coisas piores, ele me avisa quando estou em perigo. Otto é o único que posso confiar.
O pior está por vir. – Ele me avisa antes que eu sentisse uma segunda espetada. Outra injeção.
O pior está por vir. Eles que me vigiavam conseguiram me pegar. Eles conseguiram e agora o pior está vindo.
O pior é algo ou alguém?
Abro os olhos antes de fechar de novo. É a mulher de cabelos pretos, ela me furou mas ela não é o pior.
Ele avisou que o pior está por vir.
Dormi.

Back to the IslandOnde histórias criam vida. Descubra agora