"Amigo."

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Erick Griffin

Depois de tanto tempo não esperava uma fuga de um dos meus pacientes prediletos. Quando passei por seu quarto aberto e um segurança no chão com o pescoço quebrado vi o quão perigoso pode ser mante-lo por aqui. Sorri por ter transformado um homem ressentido em um monstro. Meu monstro particular.

Sigo o caminho mais possível até a saída. Seus passos pareciam brilhar para meus olhos. Um pé sujo o suficiente para marcar as pegadas pelo hospital. Jatene nunca foi do tipo discreto.

Eu devia ter imaginado. Ana Luisa também foi liberta. Pobre Jatene... Imagina que ela é igual a mãe? Muito errado. Ela é um pouco de mim. Irritada, explosiva, psicótica e, definitivamente, não é retardada. Seria mais fácil ela mata-lo do que qualquer outra coisa. Estou certo que ela é mais forte do que eu imagino.

Quando me dou por mim vejo a menina correndo em minha direção, tento segura-la mas levo uma mordida considerável e resolvo solta-la. Ela corre para dentro do hospital deixando suas pegadas molhadas e sujas da chuva misturada a lama.

Jatene vem correndo logo em seguida e estico a mão, mas não consigo segura-lo. Está correndo tanto quanto suas pernas conseguem. Não demora para que eu perca ambos de vista.

Hmm... O que temos aqui? Vou andando na direção que os dois foram. Acompanho com o olhar até o quarto onde a pegada de lama vai. Observo pela janelinha e abro um sorriso. Uma criatura tremendo debaixo da cama, toda coberta com o cobertor frio e rasgado.

Entro no quarto e logo abro um sorriso debochado. Jatene sentado encolhidinho atrás da porta, observando a criatura debaixo da cama. Ao me ver, rapidamente se levanta e afasta-se da porta com medo, parece que viu um fantasma e, realmente sou um dos piores para ele. Não deve ter reparado em mim anteriormente.

– O que está fazendo aqui?! Você devia estar preso. – Solto uma risada nada contida diante de seu comentário e, logo aproximando-me lentamente após trancar a porta. Eu tenho todas as copias de chaves deste lugar. Ele, por sua vez ficava cada vez mais perto da cama, como se quisesse protegê-la de mim.

Oh, eu estive. Por longos anos preso com todas as mordomias que esse grande hotel de luxo poderia oferecer. Graças a você, meu velho 'amigo'. – Digo ironicamente. Não paro de me aproximar em nenhum momento até que ele fica encurralado contra a parede. A menina descobre a cabeça para ver, mas tremia tanto a cada trovão que sequer deve estar entendendo o que se passa aqui.

Você causou tudo isso!! Deveria ter morrido!! Você deveria ter morrido! – Suas palavras doloridas me fazem regozijar. Thiago me deu o presente de ser o médico de meu maior inimigo e essa honra eu jamais deixaria passar.

Eu realmente causei. – Pego o homem pela gola poída de seu uniforme, apertando seu pescoço contra a parede. Acerto seu rosto com meu cotovelo. Ele nunca foi muito forte, mas todos esses anos levando tanta medicação e choques surtiram efeito. Sequer consegue desvencilhar-me de mim. – Você não passa de um verme. Inútil!

Eu só não esperava que a menina pularia em cima de mim, defendendo-o de ser acertado novamente. Ela pulou em minhas costas, acertando minha cabeça com seu cotovelo e mordendo meu ombro. Menina Maldita!! Ela é forte e não tem medo de machucar.

Clone! Clone! – Ela grita completamente louca.

Bato com as costas na parede e ela cai de meio tonta. Jogo-a na cama e puxo Jatene para fora comigo.

Você gosta dele, Ana? Gosta dele?! – Pergunto ciente da resposta.

Ele é meu amigo!! Meu amigo sim! Deixa ele!! – Sorrio brevemente acertando o rosto da menina com um tapa.

Aqui não existem amigos. – Respondo com seriedade, determinado.

Tranco a menina lá dentro gritando por ajuda e para que eu o soltasse. Pobrezinha. Ainda não aprendeu que isso aqui não é brincadeira como sua vidinha fora daqui.

– Acho que você esqueceu as regras, Jatene. – Digo debochado arrastando o homem pelo chão imundo dos corredores.

Jogo Jatene na sala de ECT, prendo seus braços e pernas. Devo estar enferrujado, já não faço isso ha alguns anos. Estou sedento de uma boa seção de choques. Regulo uma boa voltagem. Uma boa o suficiente para queimar o que sobrou dele. Ele esperneia, grita. Pede para que eu não faça isso, mas eu ignoro. Mais gritos, mais vontade eu tenho de seguir.

Eu sei o que você fez com todos, Griffin!! Eu sei e vou ser ouvido! Eu vou abrir minha boca! – Solto um risinho nada contido. O maldito realmente sabe muita coisa.

Vai contar pra quem, louco?! Ninguém considera psicóticos como gente!! Você não é gente, Jatene! – Ele solta um urro que ouvi como um xingamento.

Não coloco o mordedor de propósito. Quero mais é que sinta a dor. Quero que morda a língua e se afogue no próprio sangue. Ele não merece nem um pouco de pena. Ele é só um verme. Um verme maldito que me fez ficar trancado por anos.

Ligo o equipamento e vem o primeiro choque. Segundo. Terceiro. O sangue de sua língua ja escorria entre a espuma que sai de sua boca. Quarto. Quinto. Ainda mais convulsões. Convulsões que o fazem tremer e babar. Sexto. Sétimo. Oitavo. Ele começa a parar.

Não pare, Jatene!! Ainda tenho muito para você aqui!

Não pare!! Dou mais um, dois, três. Mais forte. Mais forte. O cheiro de queimado aumenta. A fumaça também cresce. Ele parou. Finalmente parou. Eu consegui queimar o desgraçado. Seu corpo ainda sofre contrações. Parece um réptil.

Sorrio cruel e o solto da maca. Pego por sua gola e puxo o corpo já imóvel pelo corredor até o quarto em que a menina estava ainda batendo na porta. Seus punhos sangravam, mas a dor que sente quando joguei Jatene em cima dela pareceu muito pior. O grito. Tranquei novamente a porta e observei pela janelinha. Ela tenta o acordar de todas as formas. Não enxerga que está morto? Não vê que mexer em seu corpo já não vai adiantar?

Ela não chora, mas abraça o corpo dele sussurrando algo que entendi como "Amigo". Maldito sangue de doida. Aqui não tem amigo algum. Ela irá aprender isso. Ela vai aprender a ser forte. Não quero uma Griffin fraca.

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