Fiquei no quarto da Clara até ela dormir. Eu não posso dormir fora do meu quarto. Não duvido que iam perceber. Já fugi do horário dos remédios e por isso me sinto melhor. Esses remedios me travam, culpa do que sabe de tudo. Ele sabe de tudo mas não sabe que eu to aqui. É segredo. Fico nervosa quando faço segredo.
Dou um beijinho na testa dela, que dormiu chorando e saio do quarto de volta pro meu. Fecho a porta para parecer que estava trancada e saio. Está de noite. Passo pela porta bonita que dá nos quartos dos medicos e pelas celas mais escuras só para não correr o risco de me verem. Escuto um barulho, será que alguém me viu? Saio correndo. Tenho medo que aconteça comigo também, devem ser eles de novo. Tenho medo! Medo de ser ruim pra mim também. Como vou ajudar a Clara se machucarem meu outro braço?
Estou quase no meu quarto quando escuto barulho e corro para dentro batendo a porta. Ele ouviu. Ele ouviu sim. Um dos seguranças abre a porta no chute. Eu ja ouvi o nome dele uma vez. Chama Dave.
— O que você estava fazendo fora do quarto a essa hora, mocinha? — Ele me pergunta cruzando os braços na frente da porta.
— Saí pra passear e me perdi. — Menti para ele.
— Se perdeu por horas? Deve estar desesperada, assustada... Suja.
Nego com a cabeça ja me encolhendo na cama. Não vou com ele. Eu precisei ficar fora e não me arrependo.
— Já to bem.
Ele vem com rapidez para perto de mim e me puxa. Cuidado com meu braço! Cuidado!
— Está machucada é? Você devia saber que é proibido sair dos quartos a noite.
Clone. Ele é outro clone olhando de perto. Um clone que vai me machucar. Clone do mau. Igual o outro clone. Debato meus braços tentando fazer ele me soltar. Não quero que ele me segure assim! Machuca!
Ele me puxa porta a fora. Vou com ele tropeçando. Não queria ir. Não queria ir não! Ele me joga em uma sala de azulejo cinza, bem la no fundo e pega uma mangueira.
A água é fria, forte. Machuca! A água é forte, entra pelo meu nariz, pela boca. Afoga! Começo a tossir com força para tirar a agua que insistia em entrar. Nao consigo ficar de pé. Não consigo! Estou no chão tentando levantar, mas a água é mais forte do que meus pés! É mais forte do que eu! Estou exausta! Isso não acaba nunca?! Estou no chão sem conseguir fugir da água. Cansada. Entrando água em meu nariz, na minha boca, incomodando meus olhos e até em meu ouvido. Está doendo! Por que ele não para?!
A água começou a diminuir e eu consegui tossir. Meu nariz arde por dentro e minha garganta também. Porque ele jogou tanta água na minha cara? Por que quis ser mau?! Eu fui boa de ajudar a menina, fui sim!
Molhou o curativo que o medico do bem fez. Não podia ter acontecido isso! Não podia! Meu braço não vai curar nunca assim!
— EU NÃO TAVA SUJA!! — Ele olha bravo quando eu grito. Fico olhando brava pra ele de volta. — Você molhou meu braço machucado!!
O outro clone ri. Ri de mim e fico com mais raiva. Ele quis realmente me machucar?!
— Você está ainda imunda. É tão louca que não consegue nem mesmo se lavar. — Levanto rápido e cuspo na cara dele, que me da um tapa no rosto e me derruba no chão. Gosto de sangue na boca... deve ter cortado.
— Anda, você precisa ir pro seu quarto. Eu tenho mais o que fazer.
Ele me pega de novo pelo braço, mas dessa vez pelo machucado. Dói e eu grito, mas ele aperta mais e vai me puxando. Vai machucar mais!! Ele não pode fazer isso! Não pode não!!
Trato de ficar de pé pra tentar acompanhar ele pelo corredor até meu quarto de volta. Está frio. A roupa gelada fica encostando em mim e me fazendo arrepiar.
— Quero uniforme novo! Ta frio! — Peço quando ele me joga no meu quarto e ja tava indo embora.
— E desde quando doida sente frio? — Ele bate a porta e tranca por fora. Não posso ficar presa, preciso ir ver a Clara.
Bato na porta com força, mas meu pulso ta doendo. Queria um remedio, queria roupa sequinha, queria voltar para o quarto da Clara, ela precisa de mim. Ela precisa que eu fique lá com ela!
Volto para a minha cama e tiro a roupa molhada, deixando no chão pra secar. Me enrolo no cobertor pra me esquentar, mas é ruim com cabelo molhado. Dá frio.
Amanhã vou dar um jeito de sair de novo.
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Back to the Island
Mystery / ThrillerVocê conhece o inferno? O maior manicômio do século XX continua em franca expansão. Transformou-se em um oásis para aqueles que precisam livrar-se dos problemas. Desde histéricas a catatônicos, moças loucas que desejam a igualdade e ladrões compulsi...