Interesse.

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Clara Griffin

Esse lugar é o pior que ja estive. Aqui é onde os pesadelos acontecem. Eu pensava que o orfanato era assustador por que não conhecia esse lugar. Eu não conhecia esse lugar maldito. A cada noite escuto sons de gritos e choro. Sons que eu nunca imaginaria serem tão fortes. Não imaginava que isso me faria tão mal.

Meu irmão está trabalhando e, logo pela manhã decido ir tomar café com os funcionários. Sei que não deveria sair do quarto, mas não quero ser um estorvo para ele. Chego no belo refeitório, todo claro com paredes brancas e cheiro de novinho. Parece bem limpo. Pego meu prato e escolho café com leite e um croissant de queijo e presunto. Sento sozinha em uma das mesas redondas. Vejo uma mesa onde os residentes ficavam. Eles são bonitos e bem arrumados. Queria ser como eles um dia.

Antes que eu começasse a comer vejo o chefe chegando, o tal do Thiago que tem a cara cheia de cicatrizes. Após pegar um café da manhã digno de um rei vem até minha mesa.

Bom dia. Posso me sentar aqui? – Ele pergunta com um sorrisinho bonito. Ele deve ter sido lindo antes de deformarem seu rosto. Queria saber o quê aconteceu, mas não tenho coragem de perguntar.

– Pode. – Respondo rapidamente. Seria bom uma companhia.

O que está achando do hospital? – Diz ele já sentando-se e arrumando seu jaleco nas costas da cadeira. Usa uma blusa social vinho com a gravata branca e me olha tão docemente que sequer parecia o homem que vi pela primeira vez em seu consultório.

Queria responder que estou odiando, que tenho medo e que queria ir embora o mais rápido possível, mas algo me trava. Ele parece ter um brilho no olhar de amar o que faz. Talvez seja aqui o lugar que ele criou para trabalhar... Quem sabe ele veja isso aqui de uma maneira diferente?

Eu não estou acostumada ainda... – Respondo sem responder de verdade e colocando pela primeira vez o meu croissant na boca. Céus!! É delicioso!

É realmente um lugar difícil... Eu procuro muito por pessoas que amem isso aqui, entende? – Ele aponta com olhar de desaprovação para os quatro residentes sentados na outra mesa.

Se eu tivesse um emprego para ganhar meu próprio dinheiro seria bom. – Como mais um pedaço. Será que estou tentando fugir desse olhar tão profundo? Ele realmente não parece alguém mau. Parece alguém machucado e desencantado com os outros.

– Você faria medicina? – Ele me pergunta e chego engasgar. Claro que tenho vontade, mas nunca conseguiria entrar na universidade... Ainda mais eu... Mulheres não entram assim tão fácil quanto os homens.

Querer eu quero, mas nunca vou conseguir. Não vou ter como pagar uma. – Ele abaixa a cabeça sorrindo e toma um pouco do seu suco de laranja.

Eu poderia ajudar. Você parece bem disposta a ajudar as pessoas. Daria uma ótima médica para este lugar... Ás vezes temo que nenhum deles realmente ame a profissão.

Ajudar?! Como assim ajudar?! Céus! Meu coração dispara. Ele poderia mesmo ajudar? Ele mudou de assunto... Talvez tenha se arrependido de falar. Vou tentar voltar para ver se ele diz novamente.

Eu adoraria ajudar... – Ele sorri e olha diretamente para mim de novo.

Então faremos assim: você termina o ensino médio aqui com professores particulares e eu pago a faculdade para você vir trabalhar aqui. Você tem quantos anos mesmo?

– Eu tenho 14 anos... – Disse sem graça. – Ainda não estou no ensino médio. Estou terminando o colegial.

Ninguém precisa do colegial. Você começa semana que vem suas aulas. Em um ano você irá para a faculdade, se fizer tudo certinho. – Três anos em um?! Acho que vou surtar.

Você faria isso por mim? – Nunca fizeram algo assim por mim antes. Nunca me ajudaram até meu irmão me tirar daquele inferno que se chamava orfanato.

Eu sei reconhecer um talento. – Ele está certo do que eu sou capaz. Ainda teria minhas ressalvas, mas certamente essa é a maior oportunidade da minha vida. – Você topa?

– Claro! – Saiu muito mais animado do que deveria. Não queria parecer tão desesperada, mas foi assim que saiu. Ele ri e termina de tomar seu suco, deixando grande parte do bolo ali.

Vou entrar com as medidas necessárias. Seja bem vinda ao Island Asylum.

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