Maya Jensen
A enfermaria não é o meu lugar preferido do universo. O cheiro de tantos compostos me enjoa. Não é pra menos que decidi não atuar diretamente na clínica. Minhas mãos ainda estão tremulas e as descanso agora em cima de meu colo. Meus pés balançam na altura da maca onde estou e agora reclamo de dor. O enfermeiro está terminando de me dar pontos na sobrancelha aberta.
Eu devia a ter escutado. Ela me avisou para sair, Merda! Teria me poupado perder um belo tufo de cabelos e tanto sangue por um corte fundo. Thiago chega chutando a porta. Sorte minha que o enfermeiro não se assusta tão fácil ou acabaria furando um de meus olhos.
– Que merda aquela delinquente fez com você?! – Thiago sempre tão gentil, para não dizer o contrário, segura meu rosto virando para ele a fim de ver o corte. Puxo a cabeça para não o deixar olhar demais. Não quero que ele veja que agora estou marcada.
– Eu não respeitei o seu pedido. – Ele riu e começou a andar de um lado pro outro naquela sala grande e praticamente vazia.
– Respeitar o pedido?! Faça-me o favor, Maya!! Ela vai aprender por bem ou por mal. – Ele sai da enfermaria às pressas, mas não consigo ir atrás dele, ainda não terminei de receber os pontos que preciso. Céus! Isso não acaba nunca!
O enfermeiro ainda demora alguns longos minutos para terminar o remendo em meu rosto, mas acredito que não fique com cicatriz, ele trabalha bem. A explosão de Thiago ainda revirava meus impulsos e me fez ir atrás dele. Conheço bem a figura e sei do que ele seria capaz.
Antes mesmo que eu conseguisse me aproximar de sua sala, um de seus 'cães de guarda' mais fiéis vem até mim, entregando um bilhete. Continha ali o numero de um quarto e uma ordem: Leve-o até minha sala.
Não entendo por que justamente eu tenho que fazer isso. Essa é uma das desvantagens de ser ainda a 'recém contratada' ou 'residente'.
"– Maya, você deve entender que eles são insanos, não são como nós."
As palavras de Thiago ecoavam na minha cabeça como um mantra fazendo meu corte latejar. Caminho entre os quartos lentamente, a essa altura do campeonato já parei de chama-los de celas. Depois contarei um pouco da minha história e tudo ficará mais claro.
A primeira porta que passo, observo seu interior pela portinhola. Ana Luisa é uma daquelas pessoas que não tem chances de viver fora daqui. Agora passo pelo seu quarto e a vejo tentando morder as amarras dos próprios braços em vão. Será que ela não percebe que não alcançaria a liberdade dessa forma? Parece mais com um animal do que com um ser humano, por isso me atacou. Admito que não respeitei seu espaço, mas fico inclinada a aceitar as teorias do meu chefe. Ela é uma criatura animalesca, relativamente grotesca com seus grandes olhos castanhos. Sequer parece ter tido contato com a civilização.
No quarto ao seu lado está alguém conhecido como o 'Pior'. Sem documentos ou nomes para comprovar sua origem não sabemos de onde ele veio. Agora se encontra quieto, mexendo nas próprias unhas. Levanta os olhos até mim adivinhando que eu observava e da um adeus com a mão em conformidade com um olhar definitivamente perturbado. Não costumo sentir medo dos alienados, mas esse me causa um frio na barriga. Sua pele parda com os olhos cor de mel criam um contraste um tanto quanto perturbador. Não é um louco bonito de se ver, mas está relativamente bem. Se é que podemos dizer isso. O Pior ja levou alguns choques mas mesmo assim segue assumindo uma postura de líder meio aos outros menos comprometidos. Um agitador ao lado dos loucos pode se tornar um grande problema. Agradeço mentalmente por Thiago ter pego esse paciente para ele, não quero ter que lidar com um psicopata.
Sigo caminhando. No próximo quarto encontro um homem careca muito bem preservado. Sequer diria que é louco, tamanha sua organização. Está sentado na beirada da cama olhando para o nada enquanto folheia um livro. Não faço ideia se ele entende francês ou apenas está admirando as letras são consecutivas. É este o quarto que tanto procuro.
Eu sei de poucas historias deste homem e realmente, não me sinto a vontade de fazer o que meu chefe ordenou. Coloco a chave na porta ouvindo o estalar rouco e enferrujado enquanto abro e entro no lugar sob os olhos escuros do homem de quase 50 anos.
Ele cruza as mãos por cima do próprio colo, enquanto passa os olhos sobre o meu corpo de uma forma completamente inadequada.
– O que te trouxe aqui, mocinha? – Ele pergunta com um sorrisinho de quem já sabia a resposta.
– Meu nome é Maya, e eu vim para te levar até o Thiago. – Digo seca enquanto esperava algum movimento dele.
– Eu sabia que ele sentiria a minha falta. – Sua arrogância faz meu estômago revirar. Thiago não sentiria falta de ninguém! Ele não é capaz de sentir tanto.
Abro a porta para que se levante e venha comigo de uma vez. Ele logo me acompanha, mantendo uma pose invejada até mesmo por mim com meu salto alto fino. Usa uma blusa e calça social cinza velhas, sem gravatas apenas com um antigo crachá caindo aos pedaços pendurado em seu pescoço.
Ele fez questão de se manter um pouco atrás de mim a todo tempo, não entendi muito bem o motivo mas senti seus olhares sobre a minha bunda. Maldito pervertido.
Bati na porta do escritório de Thiago lentamente e abri mantendo o silêncio.
– Trouxe Erick Griffin para vê-lo como pediu, Thiago.
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Back to the Island
Детектив / ТриллерVocê conhece o inferno? O maior manicômio do século XX continua em franca expansão. Transformou-se em um oásis para aqueles que precisam livrar-se dos problemas. Desde histéricas a catatônicos, moças loucas que desejam a igualdade e ladrões compulsi...