Filho pródigo.

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Thiago Saether

Chegaram com a menina ao meu hospital no final da tarde. Ainda é início de inverno e tudo parece cinza. Sem duvidas é a melhor estação do ano, exceto para os navios que chegam e saem. As ondas nos castigam e, os mais jovens acreditam que as almas dos coitados que já morreram por aqui voltam para assombrar-nos nesta época, pura tolice. Os mortos eram tão loucos que não teriam capacidade nem mesmo para manterem seus espíritos aqui.
Fui pessoalmente ver como a menina chegou, consigo enxergar seus pais no comportamento e no corpo dela. Genética é algo absurdamente forte nesse caso. Seus olhos arregalados e castanhos mostravam-se mais irritados do que qualquer coisa, seus cabelos estão sujos mas claramente são loiros. A camisa de força lhe serviu muito bem.  Ela me encara, mesmo com a quantidade absurda de medicação que lhe administraram há algumas horas não fechou os olhos.
Bem Vinda ao Island Asylum, Ana Luisa. – Ela consegue parecer ainda mais irritada e volta a berrar como fez toda a viagem para cá. Não é para menos que Maya tenha ficado com tantas dores de cabeça.
COMO VOCÊ SABE MEU NOME?! – Soltei um riso debochado e levei minha mão até seu queixo, apertando com força suficiente para deixa-la quieta olhando para mim. Seus olhos imediatamente encheram-se de lágrimas. É assustada como a mãe, embora tenha uma couraça forte e seja bem mais perigosa. Jamais imaginaria que alguém tão jovem poderia causar tantos problemas.
Eu sei de tudo. – Para uma paranóica como ela, alguém saber de tudo é claramente desorganizador. Ela ficou parada. Parou de gritar e tentar soltar-se, parecia pasma. Com certeza está pensando em que 'tudo' eu posso saber. As lágrimas que haviam se formado escorrem pelo canto dos seus olhos vermelhos. Talvez tenha se enchido de drogas até alma e isso a esteja deixando ainda mais louca, se é que é possível.
Realmente, esses anos que passei como dono desse lugar me ensinaram mais do que a faculdade imaginou. O tempo não me deu apenas estas cicatrizes no rosto. Agora eu sei como atingir onde mais assusta. Se você está esperando que eu vá ser o mesmo cara que conheceu no passado, está absurdamente enganado. 
A menina não tem mais do que 16 anos. Sussurrei ao pé de seu ouvido para ver seu rosto assustado arregalar os olhos. É bem jovem e isso deixa-me ainda mais animado. Eu sei exatamente ha quanto tempo Ana Luisa deixou a ilha, e como já dizia o ditado...
– O filho pródigo à casa retorna.

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