Fuga.

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Ana Luisa

O clone mandou me prenderem de novo no quarto. Porque ouvem o clone e não ouvem a mim? Jogaram-me em um quarto novo que não era o meu. Esse quarto é de pedra, frio. Não quero dormir nesse quarto frio. Bati na porta e mandei o cara da segurança ir se foder. Filho da puta maldito que tem mania de me trancar nos lugares. chuto a porta algumas vezes. Nada acontece. Fechada. Fechada por fora para o de dentro não sair. Fechada para eu não sair.

Fechada até que abrem. Ele mudou de ideia? Por que abriu? É um homem. É meio velho... Cara de doido. Não quero ser salva por um cara de doido. Eu não sou doida. Ele é. Doido igual a cara de doido.

- Você!? - Ele pergunta se sou eu. Eu sou eu. Não sou clone de mim. Eu sou eu de verdade mesmo. Talvez não seja doido assim. Ele sabe que eu sou eu. Por que eu não seria eu?

Ele me pega pela mão e puxa para fora, correndo. Não sei o que ele quer, mas talvez seja perigo. Não gosto de perigo. Corro com ele. Corro para longe. Ele vai pelos corredores. ele conhece tudo muito bem. Eu gosto de quem conhece as coisas, igual meus irmãos conheciam.

Paramos em uma porta grande, bonita. Ele sabe abrir! Ele sabe sim. Corremos para fora do inferno. Correndo para longe dos domínios do que Sabe de Tudo. Ele me puxa pela mão, levando-me até um barco. Um barquinho pequenininho. Não cabe eu ali. Não cabe muito menos nós dois. Não quero morrer na água, não gosto disso. Ele me puxa e puxo meu braço de volta. Não vou. Ele puxa de novo.

- Vamos! Precisamos ir embora antes que seja tarde! - Ele diz rápido, preocupado. Por que tá preocupado comigo? - Por favor, Sarah! Não temos muito tempo.

Sarah? Não sou Sarah! Eu sou Ana Luisa. Sarah deve ser mais uma dos clones!! Vou para trás. Mostro os dentes irritada.

- Sou Ana Luisa! - Digo brava.

Ele me confunde com clones de mim. Por que tem tantos clones por aqui. Nem eu sei se eu sou eu. Será que sou clone também? Eu posso ter sido colocada dentro desse corpo.

Olho minhas mãos se mexendo. Não sei se realmente sou eu. Como saber sem um espelho? Talvez eu não seja eu e na verdade seja todos eles. Como eu poderia ser todos eles se não lembro cada um deles?

- Clone! Você é um clone. - Otto sabe do que fala. Ele sabe a verdade. Eu sou mesmo um clone de mim? Ou sou clone de alguém? Devo ser.

- Ana Luisa? - Ele pergunta meu nome. Será que é surdo? - Não, não. Eu sei que é Sarah, eu tenho te procurado todos esses anos. Finalmente vamos embora juntos, minha flor! Vamos sim.

Nego com a cabeça. Quero ir embora, mas não sou eu que ele quer pra ir embora. Será que posso ir no lugar dela? Ele me pega de novo pela mão.

- Se solta! - Bato no rosto dele. Não vou. Não gosto dele. Não gosto não. Ele sabe que sou clone de mim.

- Eu sou Ana Luisa!! - Ele volta a puxar meu braço. - Me solta, seu merda!

Solta meu corpo!! Para de me puxar! Tira as mãos de mim!! Eu não quero ir. Eu não quero!! Mordo seu braço com força e ele me solta. Saio correndo de volta para a prisão. Lá vou ficar livre dele. Ele é mau! Eu sei que é!

Finalmente ele me solta, aproximando a mão de meu rosto e olha bem de pertinho.

- Você não é a Sarah.

Estou dizendo isso há séculos! Por que não me ouviu antes?! Ele começa a chorar. Chorar muito. Tenho pena por que não sou a outra clone. Eu sou uma, ela é outra. Tadinho do doido... Ele queria que eu fosse ela.

Ela está mesmo morta... – Gente morta dá saudade. É ruim ter saudade. Faz chorar. Abraço o doido. Ele tá muito triste.

Não fica triste... – Digo baixinho, abraçando como meus irmãos faziam quando eu tinha pesadelo. Gente doida deve viver sempre no pesadelo, não é?

Ela morreu... Morreu de verdade. Morreu. – O doido repete um monte de vezes que morreu. Ele devia gostar da tal Sarah.

Qual é seu nome? Podemos ser amigos. – Digo abrindo um sorrisinho.

– Jatene... Bida Jatene. – Jatene é nome chique. Ele devia ser chique antes de ser doido. Ou depois? Nao sei a ordem.

Eu vou te ajudar. – Pego a mão dele e puxo de volta para dentro.  Temos que ficar protegidos da chuva que está vindo.

Não podemos voltar! Não posso! Não quero ficar trancado de novo!! – Ele grita comigo e fico brava. Ele tem que parar de gritar. O Otto já grita demais.

Ele solta minha mão e sai correndo para o mato, uma floresta de árvores grandes. Tenho medo. Medo de trovão e de raio. Tem muita chuva vindo. Volto correndo pra dentro. Já está chovendo dentro do Bida... Agora chove aqui fora também.

Quando volto dou de cara com o outro clone que nem eu. O careca do nariz torto, não me lembro o nome. Ele me pega forte pelo braço me puxando para dentro de novo. Meu braço está doendo!! Ele precisa me soltar!!

Mordo o braço dele, ele solta.

Filha da puta!! – Ele me xinga. Funcionou! Saio correndo pra dentro de novo. Os trovões só aumentam e o barulho da chuva se mistura com o barulho da minha cabeça. Muito barulho...

Tampo os ouvidos para não deixar mais barulho entrar. Abro uma porta e me tranco lá dentro. Embaixo da cama parece bom. Puxo o cobertor e me cubro. Ele não vai me achar aqui.

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