Capítulo 15

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Monique narrando:

Fazem 2 semanas desde a morte do meu pai, tudo em casa mudou: estou trabalhando o dobro pra evitar encontros com a minha mãe dentro da minha casa, por mim ela não teria ficado lá mas apesar de tudo o Vinícius nunca rompe seu elo com ela.. na hora ele ficou louco de raiva, mas defendeu mesmo assim, o que me deixa louca da vida.

A Camile está muito triste, o Antonio vem todo dia aí ver ela, o moço é bom. Quanto ao Rodrigo, andei recusando suas ligações e trocando poucas mensagens.

Monique: Hoje o dia foi difícil Lê, bem difícil.—suspiro e dou um gole na cerveja.

Leandra: Ainda não está falando com a sua mãe?

Monique: Falar com ela? Enquanto não sair a merda do teste de DNA pra mim saber se eu ou meus irmãos somos filhos daquele imundo, nem na cara dela eu to querendo olhar.

Leandra: Amiga, pensa que ela precisava né, seu pai rejeitava ela.

Monique: Não —nego com o dedo.— não tem essa não, esse romance secreto aí é desde quando ela casou com o meu pai, não tem dessa. Eu jamais vou perdoar ela, ela destruiu nossa família.

Monique: Sabe que eu to evitando de ter qualquer contato com o Rodrigo por que os barra lá tão tudo atrás de mim Leandra, eles tão me caçando, olha no que ela me meteu!

Leandra: É.. mas você e o Rodrigo...?

Monique: Não tem eu e Rodrigo, desde o começo era certo que não ia dar em nada, eu gostei dele mas é impossível a gente. E outra, Deus me livre mas vai que eu sou irmã dele..—acabo com a cerveja e peço outra.

Leandra: Para menina tá doida, fala isso não. Eu boto fé em vocês ainda.

Monique: Não —rio.— eu to achando mesmo que vou aceitar fazer a prova pra Tenente Federalista, vou embora pra Minas.

Leandra: Ihhh Moni não, sabe que eu te apoio em tudo mas isso não né, poxa, você tem 22 anos tem que viver um pouco, não pode se dar de inteira pra sua profissão, você tem muitos amigos aqui.

Monique: Falando neles, como eles estão? O Dedé, Marquinhos, a Mayara, a Tayna, o Manoel?

Leandra: Tão daquele jeito —ri.—bora marcar um rolê pra sábado.

Olho pra ela.

Monique: Marca, lá na minha casa, chama todo mundo, vai ser uma festa de arromba. To precisando.

Leandra: Ihaaa, um brinde a isso.—ergue o copo de cerveja.

Gaúcho narrando:

Gaúcho: Eu comando a favela da Rocinha, a maió favela desse Brasil com mais de 80 mil pessoa morando aqui, e aqui tem de tudo, ceis dois conhece cada canto desse lugar por que mora aqui desde que nasceu, mas a maioria que mora aqui não conhece tudo isso aqui pur que é muito grande, e u ceis conhece e sabe que aqui tem de tudo: tem felicidade, tem luxúria, tem miséria, tem lugar que fede esgoto, tem pagode, baile funk, proibidao, casa de puta, gente honesta, trabaiadora, escola boa, tem creche, mais de 75 bocas de fumo, tem confronto com a polícia direto, confronto com gente filha da puta que vem de Morro vizinho.

Aqui em cima todo dia morre um, criança com 7 ano já sabe usar arma, criança de 13 ano no tráfico, tem bandido, tem doença, tem praga.. má eu num to aqui com os meus dois filho pra fala do que tem nessa porra pur que ceis já sabe, eu to aqui pra dá um alô pra vocês, de pai e de bandido também.

É sobre a aids, essa praga que rói até os mais forte, e vai roendo devagarinho pra ir deixando o corpo sem defesa, quem pega essa doença tá ralado de verde e amarelo. Não tem dotô que dê jeito, nem reza brava. Nem choro, nem "ai meu Deus".

Pegô aids foi pro brejo. Isso passa pelo esperma e pelo sangue, entendeu? Pelo esperma e pelo sangue. Eu num to falando isso pra assusta ceis nao. Então, ja viu, transá só de acordo com o parceiro e de camisinha. Cê Raul, que é metido a esculacha, metido a ganha o companheiro na força bruta, na congesta: para com isso, se não tu vai acabar empesteado.

Aids não tem conhecimento, pega homi, pega em bicha, pega em muié, pega em roçadeira. Pra essa praga num tem o bom. E fica um tempão sem sabê.. num é isso que tu quer né Rodrigo?

Então te cuida, sexo só com camisinha, não tem escolha pur que é feio sair por aí passando pros outro. Ás vezes, a seringa vem até com um pingo de sangue e tu, na afobação, mete ela direto na veia.

Aí, tu dança. tu que se diz mais tu, mas não pode aguentar a tranca sem pico, te cuida. A farinha que tu cheira e a erva vai te deixa chué da cabeça e dos peito. Então malandro se cobre, quem gosta de tu é tu mesmo. Saúde é como liberdade, a gente só da valor pra ela quando ela já era.

Rodrigo narrando:

Rodrigo: Pai, o senhor tá querendo dizer que pegou isso?

Ele olha pra mim e pro Raul e não abaixa a cabeça, continua nos olhando firme.

Gaúcho: É, e quero tu ao lado do teu irmão na chefia, eu to partindo dessa pruma milhor, a qualqué momento isso aqui vai fazer Bum! E eu vou pagar por tudo que eu fiz nessa vida.

Raul: Pai... O, o senhor ta morrendo.—fala com voz falha.

Olho pro Raul.

Rodrigo: Eu amo o senhor, mas na minha vida sou eu quem traço o caminho, eu quero a minha liberdade, não quero morrer por tráfico ou por bandidagem, não quero por minha família em risco.

Raul: O nosso pai tá morrendo seu filho da puta.

Gaúcho: Ei ei ei.—faz sinal pro Raul.

Ele vem até mim e me abraça.

Gaúcho: Tu tem razão meu filho, o pai te ama muito e tu tá fazendo a escolha certa tu é dono do teu nariz, não qué erra como eu não é memo?

Afirmo com a cabeça e olho pro Raul.

Rodrigo: Me chama de filho da puta de novo que tu vai ver o teu.

Saio de lá da casa deles e vou andando pela calçada, pego o celular e abro no telefone, tento ligar pra Monique pela segunda vez só hoje.

Ligação|

Rodrigo: Oi, Mo?

Monique: É sou eu sim.

Rodrigo: Até que enfim tu atendeu pô, por que não queria mais falar comigo?

Monique: Falar com você pra que Rodrigo?

Rodrigo: Ué sei la, faz tempo que eu não te vejo.

Monique: Você sabe onde é minha casa.

Rodrigo: Então tá bom mano, se é assim então a gente não se fala mais.Vou pra desligar.

Monique: Espera.

Rodrigo: Que é?—falo bravo.

Monique: Vamos nos encontrar hoje então, mas não aí, vou te mandar a localização.

Rodrigo: Tá.

Fim da ligação|

Poxa mano vou atrás da mina, ligo até dizer chega, mando mensagem e ela fica na ignorância, no esculacho? Tá achando que eu tenho sangue de barata.

Ela manda a localização e vejo que é um barzinho na Barra da Tijuca, lá na puta que pariu, 40 minutos daqui. Sei não se vale a pena.

Sento no meio fio e acendo um cigarro de um maço que eu comprei, aquelas palavras do meu pai hoje mais cedo me tocou bastante...

Patrícia: Eai Digo, tá sumidão rapaz.

Rodrigo: Opa beleza?—cumprimento ela com um beijo no rosto.

Patrícia: Vai na boate hoje a noite? Hoje tem batalha de rap lá.

Rodrigo: Vai ter é? Vou ver se vou...

𝐎𝐇𝐀𝐍𝐀Onde histórias criam vida. Descubra agora