Finja estar tudo bem

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Costumes brasileiro: criar memes.
Música brasileira: funk.
Esporte: futebol.

Leio as palavras em um site qualquer, não estou com a menor paciência de procurar melhor, tirando o fato de que o moleque está sentado bem à minha frente, e eu aposto que ele está desperto à qualquer falha minha. Não vou dar esse gostinho a ele.

— O que é funk? — me ouço perguntar sem tirar os olhos da tela do notebook

— É um gênero músical muito tocado no Brazil. Em qual site você achou isso?

— An… — subo a página e vejo o nome no logotipo — Curiosidades Brasileira.

— O que diz?

— Não explica. Só tem as marcações: Esporte: futebol. Música: funk… Essas coisas. E como está sua pesquisa?

— Interessante. O carnaval é colorido lá, mas tem período para iniciar e acabar

— Eu pensei que fosse o ano inteiro…

— Eu também. O Brazil foi descoberto por Pedro Álvares Cabral…

— Tem a foto dele? — ergo os olhos da tela e olho pra ele, bem focado no que procura

— Tem, mas o arquivo não quer ser carregado

— Talvez tenha vírus, procura em outro site.

Ele não responde, o que me incentiva a retornar pra minha pesquisa. Escrevo algumas coisas, e envio algumas folhas para a impressora de Changkyun. No final, restam apenas duas pessoas deitadas na minha cama, olhando pro teto e descansando as mãos. O silêncio não é intenso, há o som da rua lá fora, impedindo o zumbido insuportável.

— Acho melhor… — Changkyuk quebra o silêncio com o timbre grave o cortando ao meio — a gente dar uma pausa, para concluir melhor esse trabalho. Já que estou sendo obrigado a fazer ele, que seja bem-feito ao menos.

— Estou de acordo. Vai ser desagradável esbarrar com você durante esse tempo

— Penso o mesmo. Mas é apenas pro trabalho, depois é cada um por sí.

— Concordo. — ouço novamente o silêncio

— Acho melhor eu ir embora. — Lim se levanta e eu o sigo

— Sim. Quando você volta para terminar?

— Amanhã, no mesmo horário, tudo bem pra você? Se preferir posso vir um pouco mais tarde — guarda o material enquanto fala

— Pode vir a mesma hora de hoje, já vou estar acordado.

— Ok. — o garoto joga a mochila no ombro e sai pela porta do quarto. Seguimos pelo corredor e por muito pouco não desço as escadas estilo tábua.

A porra da luz da cozinha não estava ligada!

— Acho que sua mãe chegou — comenta

— Lúcifer gosta de me foder. — ele ri. Caminho logo atrás dele até a porta, desejando ter um escudo da invisibilidade para cobrir essa jamanta

CHANG, QUERIDO! — quando eu digo que Lúcifer gosta de me foder, ninguém acredita. Mas aposto que ele está sentado no trono, fumando o cigarro dele e rindo da minha desgraça.

Aí, Deus! Uma ajuda seria extremamente bem-vinda.

Changkyun se vira, ele me olha com um sorriso curto nos lábios, como quem diz: "eu queria ir embora, mas a culpa não é minha por ela me chamar". O garoto deixa a mochila no sofá e segue em direção à dona da casa, ambos se abraçam na metade do caminho entre a sala e a cozinha.

— Não acredito que iria embora sem se despedir

— Eu não sabia que a senhora estava em casa

— Cheguei a tarde. — ambos se afastam do abraço — Pensei que Kihyun estava com Minhyuk…

Tranco o cú ao lembrar dele, automaticamente, as memórias rebobinam em minha cabeça me deixando em um misto de sentimentos confusos e inexplicáveis. Eu sinto falta dele, mas não posso ir atrás e mostrar que eu estava errado e ele certo, Minhyuk precisa de um choque de realidade pra ter consciência que é errado o que ele faz. E já que ele não aceita meus conselhos, meu colo ele não vai ter.

Kihyun? — Changkyun me chama, me despertando dos meus pensamentos — Entrou em pane?

— Nã-não. Estou bem.

— Então vamos! — Hyunki se anima indo pra cozinha.

Seguimos ela até lá, e novamente, o garoto ajuda ela a colocar a mesa, para só então, a gente sentar.

—… Brazil? Minha irmã já esteve lá, à trabalho. — minha mãe comenta, se gabando

— Qual é o trabalho dela?

— Ela é médica, pediatra. Ela me disse coisas incríveis de lá, mas há a parte ruim, é claro.

Mastigo a comida devagar, ouvindo a conversa deles. Não me importo tanto com a amizade deles, pelo menos minha mãe tem compania para conversar com ela, já que minha paciência como ouvinte é nula.

—… do Minhyuk, mas ele sumiu, o que aconteceu com ele, Kiunnie? — mamãe questiona, trazendo minha existência à visibilidade.

— Nós brigamos. — dou de ombros. Minha mãe suspira surpresa, é algo esperado porque…

— Mas o que aconteceu?! Vocês nunca foram de brigar, sempre se respeitaram, sempre cuidaram um do outro…

Eu nunca seria capaz de falar mal do meu único melhor amigo pra ninguém, nem mesmo pra minha mãe. Mas aqui, agora, o caso é realmente o contrário, não se trata de falar mal, mas sim contar a realidade. Minhyuk preferiu os casos dele, à mim, e está tudo bem, eu não vou ficar lamentando a preferência dele, mas a saudade é normal guardar, isso me mostra que não me tornei tão monstro quanto dizem.

— Ele… não está passando por um momento muito bom e entrou em crise num período de estresse meu, mas vai ficar tudo bem. — afirmo o mais normal que eu consigo ser

— Espero que sim, ele é um bom menino. Você tem irmãos, Chang?

— Tenho um irmão e uma irmã, mas a Sojin é do segundo marido da minha mãe

— Oh… e o seu padrasto é bom pra você?

— Nós não temos uma boa convivência, ele se acha dono de tudo e… isso gera problemas. Mas meu irmão está comigo e eu me sinto menos pior

— Você não devia ficar mal por ter um intruso querendo se apossar do que é seu. — me ouço dizer e automaticamente já estou dentro da conversa. Merda!

— Mesmo se o caso for para ficar contra a minha mãe?

— Querendo ou não, a partir do momento em que você e seu padrasto não têm uma boa convivência, você já está "contra" ela. Vocês não se dão bem e ela ainda permite que vocês convivam

— Mas ela é feliz com ele? — Hyunki questiona. Penso em obtermos a resposta imediata, mas Changkyun não é tão ligeiro, o que me intriga. Aliás, tudo nesse garoto me deixa curioso, desde o jeito dele agir na escola e o modo como é educado e humano aqui em casa com a minha mãe, ao jeito como ele vive e age quando está sozinho. Changkyun se tornou um enigma pra mim, isso não pode ser apenas uma simples bipolaridade, eu sei que ele não é bipolar, assim como eu sei que ele não se tornou esse idiota do nada. Tem que haver um motivo, e de fato acredito que tenha. E não poderia haver oportunidade melhor do que essa pra tentar saber sobre algo. Um sorriso involuntário surge em meus lábios, externizando minha animação.

— Traga eles para jantar com a gente, no domingo. Eu vou amar conhecê-los. — dona Yoo faz o convite, não tem uma semana que o garoto frequenta nossa casa, e minha mãe já quer fazer uma cerimônia formal. Esta é minha mãe, eu não tenho dúvidas, mas não é pelo convite... É pelo exagero.

— Claro, minha mãe vai amar te conhecer.

You Think - ChangKiOnde histórias criam vida. Descubra agora