Eu também tenho um coração

1.4K 216 196
                                    

Memórias e mais memórias… e um gole de vodka descendo por minha garganta com seu gosto amargo e queimando tudo por dentro. Mas é suportável. A frase "beber para esquecer", é um terrível equívoco humano, ninguém bebe para esquecer, assim como ninguém se esquece de beber. Todos se lembram do que, de fato aconteceu, as pessoas só sentem medo. Bebem para fazer o que não conseguem fazer no dia-a-dia e usam a bebida como desculpa, apenas para dizerem no dia seguinte, que não se lembram de nada. No final, a bebida é apenas uma desculpa para o louco que vive dentro de cada um, sair.

Mas esse não é o meu caso, eu só quero que essa noite termine o quanto antes.

Eu só queira tocar seu rosto, conhecer tua verdadeira face, e não provar o gosto do desgosto, gostaria de ver a luz iluminar o caminho para que você soubesse como voltar, mas essa é apenas uma ilusão de um menino que vive em vão. Tentando encontrar motivos para te culpar por seu erro, quando na verdade você só quis sua liberdade, e a encontrou ferindo um outro alguém que te abrigou, quando você surgiu do nada, e do tudo se tornou… — o soluço me interrompe, assim como às lágrimas salgadas que invadem meus lábios

— Você está bem? — reconheço o timbre grave de Changkyun, mas estou ferido demais para atacar ele. É curioso como, algumas vezes, a caça se torna o caçador, e de tanto ser ferida, acaba utilizando a mesma ferramenta que tanto abominou, para ferir ao caçador, como se fosse diminuir a própria dor.

Não vai, é pura ilusão achar que, ferindo a quem tanto te feriu, você vai se livrar da dor, ou ter a consciência tranquila. Muito pelo contrário, isso te torna aquilo que você sempre evitou ser. A vingança é apenas uma desculpa para você não dizer que é igual a quem te feriu. Justiça é algo completamente diferente, porém, poucos sabem diferenciar, são raros.

— Estou sangrando…

— O que há de errado?

— Eu. Eu sou o maldito errado, eu sou o culpado pela infelicidade dela… sou eu…

— Não diga asneiras, Kihyun. Sua mãe te ama…

— Não! — viro a garrafa na boca, preciso sentir meu interior queimar, e o gosto amargo na minha boca — Eu não devia estar aqui

— E o que te faz ter tanta certeza disso?

Por onde começar a explicar algo que não tem explicação?

— Ela precisou dele… eu não quero sentir, não quero sofrer por isso. M-m-mas quanto mais eu tento evitar, pior fica. Eu só tinha dois meses, dois meses de vida. Por que ele foi tão desumano?! Me explica, por que?! — nesse exato momento, eu quero matar o desgraçado que disse que, a dor tem que ser sentida. Ele não tem noção do que eu tô sentindo. Eu só queria um pouco de morfina agora, para aquietar meu coração desse náufrago e, quem sabe, despertar depois dessa tempestade de sentimentos.

Minhas lágrimas saem desenfreadas, não às impeço de sair, depois de anos fingindo que eu não sou capaz de sentir, esse se tornou um grande problema. Me esqueci que tenho um coração, que reage à tudo o que sinto. De qualquer forma, é ilusão fingir não sentir, no final, quem sempre se fode sou eu.

Sinto a caricia em minhas costas, logo que a garrafa sai da minha mão. Levanto a cabeça para ver quem está comigo, e Changkyun aparece a minha frente

— Vem cá — me chama pro próprio colo, meu corpo apenas me guia até estar deitado com a cabeça sobre a almofada no colo dele

— O que veio fazer aqui? — questiono, abraçado à cintura dele

— Sei que não está bem, fiquei preocupado com você e dei um perdido neles

Rio imaginando Changkyun estilo ninja

You Think - ChangKiOnde histórias criam vida. Descubra agora