Um erro, mil consequências

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Demorei mais cheguei, perdoem a demora e não desistam de mim. Boa leitura :)



Me estremeço todo ao som da campainha, é tanto tempo sem receber visitas, que quando recebemos, a sensação é estranha.

Me olho no espelho do armário, me certificando estar vestido à caráter pra não parecer que meu funeral é hoje, embora minha morte se aproxime, aos poucos e lentamente. Tomo vergonha na cara e saio da frente do espelho, voltando pro quarto. Ando de um lado pro outro e resolvo me sentar na cama, talvez eu espere alguém vir me chamar, ou seria melhor eu descer? Não quero ter que fingir estar animado ou feliz. Eu não estou animado ou feliz, quero fugir desse tormento o mais rápido possível, antes que eu exploda.

Sim, porque há riscos.

Ouço duas batidas na porta do meu quarto, e mesmo que eu não autorize a entrada do indivíduo, ele entra. Vestindo um blusão escuro, desenhado com algumas linhas de detalhes, um sobretudo por cima, calça jeans azul marinho, e para completar o visual "gótico indefeso": all star azul. Esse moleque claramente não conhece moda, quero dizer, eu também não, mas não é preciso ser um expert para saber que esse visual é jogado no lixo sem nenhum esforço. Puta que pariu!

— O que veio fazer aqui?

— Ver como está a decoração do quarto, senti falta dele… — ironiza me fazendo bufar

— Por que você é tão idiota, Changkyun? — olho para sí, a princípio sorri, mas o sorriso some, e novamente, minha curiosidade volta à atacar. Não obtendo a resposta de imediato, ele parece reflexivo — O que veio fazer aqui?! — questiono novamente, em um tom mais firme, é o que chama a atenção dele

— Eu... — começa a falar, mas é interrompido pela voz da minha mãe, lá da escada

Venham jantar, meninos!

Nos olhamos por breves segundos, espero que ele tome a iniciativa de sair do meu quarto, mas nada acontece, o babaca apenas me olha com aquela cara de cú, como se lembrasse de sua infância e todas as merda pela qual passou. Eu realmente não tenho paciência pra isso, me tornei um tipo de "alvo" pras memórias dele.

Me levanto da cama e sigo pra porta, sendo obrigado a colocar uma máscara e fingir que tudo está bem. Quando, na verdade, nada está bem. Nunca esteve pior.

— Filho! Esta é a Jiyoung, mãe de Changkyun, Jooheon e Sojin. Este é meu filho, Kihyun. — minha mãe nos apresenta. Pelo menos a mulher parece ser simpática.

Mas só parece, talvez as aparências enganem.

Ela é um pouco mais alta do que nós, mas talvez seja culpa dos saltos azuis que ela usa, da mesma coloração que o vestido. Vejo a satisfação de minha mãe por estar vestida à caráter.

Aperto a mão da mulher, sem querer ser ou parecer mal-educado, mas sem querer puxar o saco. Não sei se ela sabe o que a cria dela faz longe de casa, mas claramente, ela não o educou para ser um ser humano.

— Olá Kihyun. — noto a presença de Jooheon, que agora tem os cabelos meio ruivos

— Oi Jooheon…

— Vamos jantar. — minha mãe se anima ainda mais, aliás, é a única parte boa disso tudo: a comida. Talvez se fosse em outra ocasião, eu nem teria feito questão de sair do meu quarto. Só vim por ela.

Me sento à mesa, sem me esforçar ao mínimo para me concentrar na conversa deles, mas sei que falam sobre um ser paterno. Nasci sem um pai, e se tive um, não faço questão de saber quem é. Não tomei raiva da figura paterna, sei que há homens sendo pais excelentes para seus filhos, e futuramente, quem sabe eu não seja um deles? Mas me limito a comentar ou opinar sobre algo que nunca tive. No entanto, o assunto me deixa com um sentimento estranho dentro do peito, não é um sentimento agradável.

—… não é, filho? — minha mãe me chama, não sei sobre o que é a pergunta, mas me esforço para ao menos parecer normal, quando tenho todos os olhares em mim. Sorrio e afirmo balançando a cabeça

— Kihyun vai ser um ótimo designer. — Changkyun elogia sentado ao meu lado, eu não sei se apenas elogiou, ou notou que eu estava inerte à conversa, e quis me ajudar. Mais um pequeno detalhe para me deixar curioso.

Por que Changkyun me ajudaria, quando ele teve a ótima oportunidade de se exibir para a minha mãe e a dele, tendo Jooheon também presente?

— Você tem um filho maravilhoso, Hyunki. — a mulher elogia, com um sorriso em seus lábios. Não sei o que ela sabe sobre mim, ou o que minha mãe contou à ela, mas me sinto desconfortável com a presença deles. Não é mais como quando chegaram.

Meu problema sempre foi ser um péssimo mentiroso, até mesmo em relação às minhas notas, mas foi graças a educação maravilhosa que tive, que nunca precisei mentir -tirando a única vez que eu menti quando quebrei a tv de casa, eu disse que tinha sido o Papai Noel-.

Algumas mentiras não causam tanto estragos quanto outras, mentir sobre uma televisão que custou o dinheiro de alguém, não se compara em nada com você poder salvar a vida de alguém, e decidir fazer, apenas por uma aposta. Isso não se chama mentira, se chama doença. Me faz mal ver todos ao meu redor sorrindo, quando o  erro principal de tudo isso, está bem ao meu lado, rindo como se não houvesse amanhã, por estúpidas história do passado. De um passado onde a infância era valorizada, e quase não existia rivalidade entre as crianças. Onde elas se respeitavam e cresciam como pessoas civilizadas, seres humanos normais, e não psicopatas que matavam outras crianças por prazer.

Estou indignado, estou com raiva por ter deixado Changkyun entrar na minha casa e tomar seu espaço como bem quis, eu não contei à minha mãe no tempo em que era para contar. A partir do momento em que um indivíduo coloca minha vida em risco por uma aposta, ou mesmo que não existisse uma, deixar que alguém morra por simples capricho, a humanidade está perdida, e sim, devemos nos preocupar. Eu não consigo engolir isso, não dá, e ninguém pode me forçar a aceitar isso.

— Licença… — me levanto da mesa, deixando pouca comida no prato, mas atraíndo olhares curiosos para mim. E eu não sei se o olhar de preocupação da minha mãe me dá tempo de sentir algo, ou se viro as costas

— Aconteceu alguma coisa, meu bem?

Tirando o fato de que, estou quase desmaiando por esse jantar ridículo? Não, não aconteceu.

— Estou um pouco cansado, prefiro subir. Boa noite.

— Boa noite, Kihyun, foi um prazer te conhecer. — a mulher diz

— Igualmente — mas aconselho que cuide da sua cria, antes que alguém cuide. Sorrio fraco

— Boa noite Kihyun, tenha um bom descanso. — Jooheon deseja, mas não me estresso com ele, Jooheon nunca foi igual ao irmão, de me provocar com palavras de duplo sentido. Então não respondo.

Caminho para fora da cozinha e me direciono para o quarto da minha mãe, onde tem exatamente aquilo que eu preciso. Abro o armário do banheiro, encontrando uma garrafa de vodka. Preciso dela hoje, pra não fazer merda.

Saio do quarto dela e entro no meu, fechando a porta, mas não passo a chave na tranca. Ninguém se importa com uma pessoa que não está disposta a participar de seu "jantar" pros amigos.

Se está cansado, que descanse, iremos aproveitar por você.

E eu também não me importo, só quero minha paz de volta, eu não aguento mais fugir desse tormento que me persegue igual uma assombração. Isso é desesperador! E eu nao posso falar com ninguém, nem mesmo com a minha mãe. O único que sabe, não se importa. Assim como nenhuma outra pessoa vai se importar.

O que acontecerá quando deixarmos de nós importar um com os outros?

You Think - ChangKiOnde histórias criam vida. Descubra agora