Eu sabia que aquilo era errado, que eu estava sendo egoísta, e as pessoas da vila estavam correndo mais perigo comigo nesse estado. Mas não me importava, a única pessoa que nunca me olhou com ódio ou indiferença, estava caída na minha frente. Ninguém poderia me culpar, era o que dizia a mim mesmo; todos esses anos sendo alvo da raiva das pessoas da vila, e eu nunca fiz mal a eles, nunca os odiei de volta. Mas agora, tudo que era bom na minha vida, estava sendo arrancado em um único golpe. Eu só queria um motivo para me manter firme, para não enlouquecer de vez.
Mas essa dor não passa, ela só aumenta, vai me sufocando, me fazendo acreditar que não existe mais nada de bom nesse mundo. Toda bondade e gentileza se foi com a Hinata, e eu não quero mais ficar onde ela não está.
- Agora você me odeia? Com o amor vem a dor, foi isso que aprendi - Pain fala como se não tivesse feito nada de mais, como se isso fosse uma brincadeira chata e entediante.
Isso me irrita, não, me leva a ira. Sinto um gosto amargo na boca; ataco com toda minha raiva, quero que ele sofra, quero que ele morra. Não entendo bem o porquê, mas estou bem consciente dos meus atos. Então apenas ataco, com tudo que tenho; ataque após ataque, Pain se defende. Quero jogar todo meu ódio, toda minha dor e frustração nele. Nada mais me importa, só quero acabar com essa dor esmagadora, que só aumenta, como uma grande bola de neve.
Na minha cabeça, vejo imagens de Hinata; a vejo sorrindo para mim, com sua mania de apertar os dedos e sua pele ruborizando. Vejo Hinata, quando eramos mais jovens, com seu cabelo curto, sua voz fina, que quase não se ouvia, quando fomos àquela missão para achar o besouro Bikōchū, suas pequeninas mãos me alcançando um bolinho de "Naruto". Eu sempre fui tão feliz ao lado da Hinata e não percebia. Como podia não perceber o quanto era bom conversar com ela, o modo que ela ria das minhas idiotices, como sempre ficava vermelha ou desmaiava quando eu chegava perto demais. Ela sempre foi tudo que eu precisava, mas agora ela se foi, e esse bastardo vai pagar pelo que fez.
Concentro o Chakra para fazer o maior ataque que eu puder. Sei que a Kyuubi está me consumindo por inteiro e controlando tudo que faço. Mas não ligo, eu só quero ver Pain morto, e se a Kyuubi precisar dominar o meu corpo para isso, que seja então.
- Hinata se foi! Ela não podia, ela não merecia. - digo em meu inconsciente.
Choro, ajoelhado ao chão do meu interior, eu só queria que essa dor parasse. Então eu ouço: "Está tudo bem agora, Naruto-kun". Hinata, por que você? Penso. Então a Kyuubi se pronuncia pela primeira vez em tanto tempo.
- Destrua tudo que te faz sofrer! Acabe com tudo que te causa dor - diz a raposa.
- Como? Como faço isso? - pergunto desesperado por uma saída.
- Retire esse selo e me entregue sua alma, eu farei o resto.
Então eu faço como a raposa falou, vou em direção ao selo, pronto para entregar minha alma; se este é o preço a se pagar por perder a Hinata, eu pagarei. Quando estou quase retirando o selo, alguém me para. Mas como pode, ninguém mais vem aqui, este lugar é apenas para mim, o Jinchuuriki da Kyuubi.
- Yondaime! - ouço a raposa falar.
O Quarto Hokage? Mas como pode? Como ele está aqui comigo?
- A Kyuubi é bem irritante, não é Naruto?
O Hokage sabe meu nome. Isso não é possível, como poderia?
- Vamos para um lugar mais calmo! Pronto assim está melhor. - ele fala como se eu o visse todos os dias.
- Você sabe meu nome? Como o Hokage sabe meu nome? - pergunto atordoado.
- Claro que sei, afinal um pai escolhe o nome do filho, não é? - ele diz simplesmente.
Um pai? Meu pai é o Yondaime Hokage? Minha cabeça gira, meus pensamentos estão a milhão, meus nervos explodem. Não posso acreditar, tudo que eu passei, tudo que suportei, isso é demais para mim. Eu simplesmente agi e descontei o que pude no meu pai. Toda minha frustração, toda dor e agonia, tudo que aguentei sozinho até agora. Sei que ele não teve culpa, e para mim, saber que alguém como o Hokage de Konohagakure confiou a mim este fardo, foi no minimo encorajador. Saber que meu pai e minha mãe, confiaram no meu potencial, antes e mesmo sem poder ver no que eu me tornaria, me deu forças para seguir. Saber as coisas que aconteceram e como aconteceram, me deu forças para ver e agir com clareza.
- Vou refazer o selo, mas esta é a última vez. - meu pai diz.
- Como vou achar uma resposta , para a missão que o Jiraya-Sensei me deixou pai?- pergunto na esperança de ter alguma direção.
- Eu também não sei! Enquanto o mundo Shinobi viver de ódio, a paz verdadeira nunca vai acontecer. Podemos até dizer que sempre haverá alguém como Nagato, que foi criado por esse mundo de ódio e dor. - meu pai fala com um pesar na voz.
- Mas então, como alguém como eu vai achar a resposta? Eu não sou inteligente, nem tão pouco talentoso...
- Eu confio em você, Naruto! Como Jiraya-Sensei também confiou. - ele diz com a mão na minha cabeça.
Nesse momento me sinto leve, como se pudesse resolver tudo, mesmo com essa dor, sinto que posso ir adiante, por eles, por meus pais, pelo Ero-Sennin, pela Hinata, e até mesmo pelas pessoas da vila.
- Obrigado, pai!
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O Despertar dos Sentimentos
RomansaNunca em minha vida, algo fez tanto sentido como naquele momento. O momento mais horrível e doloroso que já passei. A sensação de impotência, o desespero em cada súplica, o gosto amargo do ódio; aquele turbilhão de emoções que me foram apresentadas...