Escapulindo, Sonhos e Receios

27 10 13
                                    

— KEID! — Saiuni grita com toda as suas forças e segura o braço do irmão. Keid se vira e tentando não ser grosso, respira fundo e murmura.

— Me deixe, Sah! Preciso andar e espairecer ou eu vou fazer uma besteira!

Saiuni suspira e solta seu aperto, ela teria que ser flexível e entender, assim como ele entendeu quando muitas vezes foi ela a fugir do inferno que era a casa deles.

— Beleza, — A loira abre um sorriso compreensivo e estica a mão, entregando a chave da moto dele. — só não volta tarde, sabe que o Tales não dorme preocupado.

— Sei sei, o Tales… — Keid murmura brincando e confuso pega a sua chave da mão de Saiuni. — Como que você pegou minha chave? Estava no meu bolso quando passei da porta.

— Não te interessa. — Faz cara de inocente e de inconformada. — Só fique mais esperto com as suas coisas, porque se eu peguei, alguém também pode pegar.

— Certo, não vá dormir tarde me esperando. — Keid monta em sua moto, coloca o capacete vermelho e preto e liga o motor, abre a viseira e sorri para Saiuni antes de acelerar e atravessar o portão.

Saiuni volta para dentro da garagem e aperta um botão para fechar o portão de ferro da frente. Suspirando ela abre a porta da cozinha e entra, no primeiro momento ela leva um susto ao ver Tales parado na escuridão, somente iluminado pela luz da lua; Mas logo ela se acalma e se agacha na altura do filho.

— Querido, por que está aqui em baixo?

— Mamãe eu sonhei de novo com os olhos! — Tales conta e ergue os braços para ser pego no colo, Saiuni o pega e abre a geladeira a procura de leite. — Eu fui no seu quarto e aí ouvi a moto. Tem saiu?

Saiuni pega a garrafa de leite e olha para a criança em seu colo, sabendo que se contar da saída do tio mais perguntas virão.

— Ninguém saiu, Tales! — Diz com firmeza para convencer a criança.

— Tem certeza? — O garoto pergunta mexendo nos fios de cabelo da mulher.

— Sim, tenho certeza! — Saiuni concorda gostando do carinho em seus cabelos. Coloca duas xícaras de leite para esquentar e se encosta no balcão. Nada como um leite quente para um sono profundo. — Agora me conta do sonho.

— Dessa vez, a pessoa de olho tolorido me pegou no tolo e… — Tales começa a retratar seu sonho enquanto mexe seus pequenos braços; Saiuni o interrompe com a novidade, pois desde bebê Tales vem tendo esse mesmo sonho e ela só foi saber quando ele começou a falar, e, em muitas poucas vezes se escuta alguém falando no sonho, mas é a primeira vez que tem movimentos de um corpo.

— Como assim te pegou no colo, filho? — Pergunta séria e curiosa, para ela esses sonhos tem algum significado. Saiuni sempre pensou ser uma lembrança vaga de algo que Tales passou, mas, quem tinha provocado essa lembrança? — Não é mais só os olhos flutuando ao seu redor?

— Não! — Tales explica com os olhos arregalados de medo. Saiuni o entrega um copo com bico e ele toma um gole do leite. — Hoje eu vi uma sombra e aí eu disse oi, e tava esturo muito esturo tando o homem me pedou…

— Se estava essa escuridão, como você sabe que é homem?

— Deixa eu terminar, mãe! — O garoto faz bico juntando as sobrancelhas, toma mais do seu leite e depois do aceno da loira ele continua. — É te eu ouvi a voz.

— A voz de sempre? — Ela pergunta bebericando a bebida quente, Tales acena diversas vezes concordando e coloca o copo no balcão. — O que ele dizia?

— Não lembro… — Sussurra bocejando e coçando os olhos.

— Tudo bem querido, vamos dormir que já está muito tarde. — Saiuni coloca os recipientes na pia, sai da cozinha e começa a subir os degraus da escada. — Mas, se, caso você lembre, não esquece de me contar, certo?

Tales acena, com a cabeça apoiada no ombro da mãe e depois de outro bocejo e piscando sonolento, ele pergunta baixinho com a mão direita nos cabelos de Saiuni, como se fosse uma terapia.

— E se um dia o homem de olhos toloridos, vier me bustar mãe?

Saiuni franze a testa e parando em frente a porta de seu quarto, a paranóia já tão familiar começa a tomar conta de si. Tales já dorme tranquilo na cama da mãe, quando ela senta ao seu lado e enfim responde.

— Não vai vir ninguém! — Diz tentando soar positiva e firme. — Mas, se um dia vierem atrás de você, não deixarei que o levem para longe de mim. Você é o meu filho! E não importa as consequências e loucuras que fiz e farei, nunca me arrependeria de ter você, de proteger você meu filho!

💣

Enquanto isso, do outro lado do mar, na outra ponta de Hidden, na praia de areia fina e amarelada onde as águas azuis escuras das ondas quebravam tranquilas; Keid encarava firmemente o balançar do mar, esperando, aguardando, acreditando que aquela imensidão de água lhe traria alguma solução para seus problemas. Ou, esperando que os mitos e histórias que sua mãe lhe contava, fosse verdadeiro a ponto de o levar embora percorrendo toda sua tremenda imaginação.

Um sorriso fraco, surgiu em seu rosto quando um peixe mediano começou a pular adiante de um lado à outro dentro d'água. A lembrança de noites longas, na qual não conseguia dormir graças a seus sonhos atordoados, sua vida sendo retratada em sonhos turbulentos a sua mãe sempre tinha uma história; uma delas é de que todo dia, à meia noite em ponto, o mar parava pra descansar e não tinha onda nem barulho, somente a tranquilidade e a brisa fresca.

— Preciso achar um jeito de me livrar daquele velho! — O murmuro involuntário sai da boca do homem raivoso que suspira cansado.

Com um galho em mão, Keid começa a escrever o nome de seu pai. Elton. E em seguida trava o maxilar e aperta o galho em sua mão, riscando e destruindo a palavra recém escrita.

Por fim, quebra o galho e o joga no mar, jurando a si mesmo que se um dia tivesse a chance de escapar, nunca hesitaria! Fugiria para bem longe e não sentiria nenhuma falta do hospício em que vivia!

🤜🏾💣💣💣🤛🏾
Oie gente!

Desculpa a demora para postar, tive uns imprevistos, não consegui me organizar mas agora estou mais acostumada!😘

Espero que tenham gostado e até o próximo capítulo. 🤗

Muitas beijocas👋🏾💋

Colecionadores de VidasOnde histórias criam vida. Descubra agora