Chantal se retorce em agonia por não conseguir enxergar. Elton tinha mandado lhe prender num quarto escuro e fedido, parecido com o porão de sua casa, ela nunca tinha passado mais do que minutos dentro daquele porão e agora estava ali, naquela situação constrangedora, medíocre, humilhante! Queria chorar por ter se deixado levar, por ter tirado Elton da reclusa antes que estivesse pronto e tivesse entendido que agredir a sua menininha não era uma opção, nunca seria! A mulher aperta os lábios um no outro e funga, não iria chorar, sua formação e treinamento de militar a impedia de ser fraca, já tinha sido tola e cega! Não taparia o sol com uma peneira de novo, para proteger Elton, ela prometia em silêncio que quando visse a luz e não a escuridão do local em que estava presa, faria tudo o que não tinha feito pra proteger seus filhos!
- Como pude ser tão cega? - Ela sussurra pra si mesma, lembrando de todas as formas que Elton demonstrou não estar satisfeito desde que saiu do porão.
Chantal olha instintivamente para cima, mesmo não enxergando nada, quando escuta passos e então barulho chave, cadeado e correntes, a madeira velha e desgastada das portas rangem e então os passos continuam, a pessoa começa a descer degrau por degrau e ela sente vontade de gritar de puro ódio, tanto tempo, tantos anos casada e ela reconhecia até mesmo o caminhar de Elton, como não se tocou que tinha algo errado? Era mesmo uma tola!
- Vejamos como está a minha bela esposa! - Chantal ergue a cabeça vendo a lanterna iluminar o caminho de Elton, sem conseguir se conter, seus olhos pedem clemência. - Não adianta, seus olhos de cristais não me encantam mais!
Ela automaticamente se sente quebrar ainda mais, sentia seu coração virar caquinhos e seu órgão, dar um pequeno tranco, seus olhos se fecham em tristeza e decepção e uma lágrima escorre por seu rosto, tinha perdido seu marido! Seu companheiro de anos havia morrido e lhe abandonado, era como ela estava se sentindo naquele momento!
- Como acabamos assim, Elton? - Ela murmura de cabeça baixa. - Como nos perdemos um do outro? Para onde foi parar o nosso amor?
- Eu que devia perguntar, onde estava o seu companheirismo quando me prendeu e me privou de todas as notícias e acontecimentos?! - Elton exclama se abaixando na frente da mulher, ela ergue a cabeça e o encara. - Quando a nossa parceria morreu?
- Quando você deixou de me amar! Quando o seu respeito por eu e NOSSOS filhos desapareceu! - A mulher enfrenta e estremece ao sussurrar com veracidade encarando os olhos vacilantes de Elton. - Quando perdemos a Giovanna, eu te disse que protegeria nossos futuros filhos acima de tudo e todos! - Ela exclama puxando as correntes tentando se expressar, um soluço escapa quando ela grita. - Você pensou o quê?! Que você não estava incluso na lista?! - Chantal arregala os olhos em desespero e volta a gritar. - Me diz Elton! Me responda! Aquela facada que você acertou na NOSSA filha, foi como se você tivesse cravado em mim!! No meu coração! No meu amor! O meu companheirismo morreu ali! Naquele exato momento em que você destruiu o que restava da nossa família! - Chantal respira fundo e ainda o encarando profundamente, ela soluça e sussurra. - Você me prometeu uma família!
Elton fecha os olhos em dúvida e o coração de Chantal bate mais rápido, ela sente uma chama de esperança começar a ressurgir dentro de seu peito. Mas a escuridão gelada e tempestuosa, apaga a chama antes mesmo de se formar e toma conta do seu coração assim que, Elton abre os olhos e ela vê, a decisão, vê dentro dos olhos do homem que amou, a indiferença e frieza com que ele encarava suas vítimas, então ela já sabia... Chantal tinha certeza que ela não sairia viva daquela casa!
O homem se ergue e tão rápido como quando chegou, ele se vai e Chantal volta para a solitária e fria escuridão de seus pecados!
Em sua mente, em sua cabeça confusa, Chantal acreditava que havia se passado horas ou até mesmo dias. Contudo, foi no meio da sua falha tentativa de fuga que ela ouviu o estrondo e em seguida um disparo, em um breve momento o medo lhe assolou, medo que um de seus filhos tivesse sido atingido pela impaciência e descontrole de Elton. Então ela ouviu muitos passos, a correria estava a todo vapor nos andares superiores e mais três tiros foram disparados. Chantal resolve se manifestar, o primeiro grito foi dado por puro teste todavia, o segundo grito e agora em desespero ela pede ajuda.
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Colecionadores de Vidas
RomanceTudo o que Saiuni e seu irmão Keid, mais querem, é serem livres! Poderem escolher e decidir por conta própria e correrem seus próprios riscos, conforme seu destinos prescreveu. A situação famíliar de Saiuni já não está muito estável, quando ela sai...