A Princesa & O Pirata

Amarelo

    Desde que me tornei pai, e principalmente por ter criado minha piratinha sozinho, qualquer barulho interrompe minha noite de sono. Naquela noite, despertei com o barulho da minha porta abrindo.

    Sentei imediatamente, tentando me adaptar a pouca luz do quarto. Mas identifiquei logo minha menininha segurando seu urso favorito na porta.

    - Papai?

    - O que você está fazendo fora da cama, Hope?

    - Eu tive um pesadelo.

    Suspirei, esfregando meu rosto. Sua voz estava embargada, não conseguiria nada apenas mandando voltar para o quarto.

    - Deita aqui comigo, amor. Vamos dormir.

    - Não. Eu quero a Emma.

    - Ela está dormindo, filha. Vem cá.

    Hope caminhou até minha cama, apenas para puxar minha mão com toda sua força. Obviamente, ela nem sequer me moveu.

    - Me leva na Emma!

    - Nem pensar, Hope Jones. Se você não entender isso, não te deixo dormir nem aqui.

    O que veio em seguinte me fez sentir como se fosse o pior pai do mundo. Ela começou a chorar, tentando disfarçar esfregando a pelúcia no rosto.

    Com carinho, tirei o animal de sua mão e a peguei no colo. Hope afundou o rostinho no meu pescoço, enquanto eu a apertava.

    - Desculpa, amor. Papai não quis ser grosso com você.

    - Eu quero a Emma.

    - Porquê, filha?

    - Eu sonhei que ela estava machucada. Não quero, papai.

    - Ninguém quer isso, Hope. Mas eu te prometo que ela está bem. Que tal a gente fazer assim: dormimos agora quietinhos, aí quando amanhecer, a gente vai lá antes de tudo falar com ela?

    - Ela está bem mesmo?

    - Sim, amor.

    - Tudo bem.

    Deitei na cama, a encaixando em meu corpo. Hope me abraçou e, como sempre, secou seu rosto na minha blusa. Para acalmá-la, comecei a narrar um dos contos de fadas.

    Por causa de sua agitação, só consegui dormir quando tive certeza de que ela não estava apenas brincando.

[...]

    Pontualmente às 6h, Hope me acordou com pulos na cama. A segurei em meus braços para tentar dormir mais um pouco, mas então ela começou a falar.

    - Papai! Eu quero ver a Emma. Papai? Papai?!

    - Já entendi, Hope. Bom dia.

    - Bom dia!

    - Você me deixa maluco, filha.

    - Eu sei.

    - Vamos nos arrumar antes, okay?

    - Vou colocar o vestido que é o favorito da Emma.

    - Qual a cor?

    - Amarelo.

    - Eu amo quando você está de amarelo. Mas sempre prefiro quando você está em rosinha.

    - Outro dia eu me visto pra você, papai. Hoje eu vou me vestir só pra Emma. Ela me disse que tem um carro amarelo.