Recomeço

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Queria poder
Poder ter dito adeus
Eu teria dito o que eu queria
Talvez até choraria por você

O velório foi péssimo. Bem pior do que eu achei que seria.

Primeiro, os pais dela fizeram um discurso que levou todos às lágrimas. Regina disse algumas poucas palavras sobre a amiga, para depois eu subir ao pequeno palanque. Abri o papel onde minhas palavras estavam, e após limpar a garganta, comecei.

- A Emma fo... É a mulher mais espirituosa que eu conheço. Ela preencheu minha vida com seu jeitinho, e aprendi muito com ela. Há muito tempo, li um texto que dizia que "A morte é apenas uma travessia do mundo, tal como os amigos que atravessam o mar e permanecem vivos.[...] Este é o consolo dos amigos e embora se diga que morrem, sua amizade e convívio
estão, no melhor sentido, sempre presentes, porque são imortais". Não sei se existe um consolo agora. Eu te amei muito, Emma. Muito intensamente. E eu acho que não deixei isso claro antes, o que me entristece ainda mais. Você já está fazendo falta, meu amor. Espero que...

Se eu soubesse
Que seria a última vez
Eu teria partido meu coração em dois
Tentando salvar uma parte de você

Não consegui terminar minhas falas. Senti um peso se chocando nas minhas pernas e, ao olhar para baixo, vi minha piratinha agarrada à minha perna, chorando.

Pedi licença no microfone e ergui minha filha no colo, logo saindo de dentro daquela sala, sob olhares de pena. Sentei em um banco no jardim, onde Hope enfiou o rosto no meu peito.

- Eu quero a Emma!

- Filha... Não acha que a Emma vai ficar triste quando te ver assim lá de cima?

- Eu não ligo! Ela me abandonou.

Sem resposta, fiquei acariciando o cabelo de Hope. Minha menina estava com saudades, o que eu completamente entendia.

- Nós vamos embora, Hope. Vamos morar em outro lugar. Tudo bem pra você?

Não quero sentir outro toque
Não quero acender outra chama
Não quero conhecer outro beijo

Com o choro mais leve, Hope assentiu. Fiz carinho em seu rosto, até os seus soluços passarem. Estava tão ocupado a olhando que nem reparei quando Regina sentou do meu lado.

- Tudo bem, piratinha?

Ela assentiu, mas não estava prestando atenção. Agora já estava brincando com o meu gancho distraidamente em seu colo.

- Killian, é um assunto chato, mas preciso falar com você.

- Claro. O que foi?

- Um dia antes de sairmos, eu e Emma fizemos um trato, imaginando que uma de nós duas poderia não voltar para casa. Ela pediu para eu te entregar essa chave. É um apartamento em Nova Iorque. Ah! E a chave do fusca dela também.

Peguei o molho de chaves que me foi estendido. O chaveiro que unia as chaves era um pingente de cisne que ela usava pendurado em um colar. Passei meu polegar sobre o desenho.

- Obrigado, Regina.

- Por nada. Você já vai embora?

- Assim que o enterro acabar... Só preciso me despedir de Emma de verdade.

- Eu sinto muito que esteja passando por isso, Killian.

Não quero entregar meu coração
Para outro estranho
Ou deixar outro dia começar
Nem mesmo vou deixar a luz do sol entrar

A Princesa & O PirataOnde histórias criam vida. Descubra agora