Obviamente ninguém queria deitar e dormir. Cheguei a cochilar por breves 5 minutos, mas esperei ansioso meu momento de ficar de guarda. Pelo menos teria um motivo para ficar acordado e de pé.
Por volta de três da manhã, eu fui até Elsa e Anna, as duas andando a postos na frente do acampamento. Elas pareceram decepcionadas ao me ver.
- Já causei impressão melhor nas mulheres. Deve ser esse machucado horrível aqui - Elas riram.
- Não por isso, Killian. É que... É impossível pensar em dormir agora.
Nós três suspiramos juntos. Estava mesmo sendo exaustivo, mas ninguém queria dormir mesmo.
- Tentem pelo menos descansar o corpo deitadas. Já é melhor que nada.
Antes que Anna pudesse falar algo, Elsa a levou até dentro do acampamento. Vi as duas se ajeitarem nos sacos de dormir, para por fim virar para a frente.
Analisei o castelo das Ilhas do Sul. Se não tivesse se transformado em um campo de batalha, seria um lugar lindo. Um palácio majestoso, com arquitetura imponente. Mas sua beleza se transformou em dor.
Foram aquelas paredes que cercaram minha sereia quando ela foi morta. Uma brutalidade sem justificativa. Lembrei do riso, das histórias compartilhadas.
Prometi que, assim que tudo aquilo acabasse, eu daria um funeral digno a esse casal, os dois que foram tão amigos quando precisei.
Sentei em um tronco seco de árvore, olhando para a lua. Pensei na minha menina e no meu desespero crescente em vê-la novamente logo. Não poderia estar com mais saudades.
Só queria um minuto de paz.
Acho que talvez Emma saiba ler minha mente. No minuto seguinte, uma nuvem branca surgiu do meu lado e ela apareceu sentada comigo. Seu sorriso leve foi consolador.
- Sem sono?
- Ninguém aqui está dormindo de verdade. É impossível.
Suspirei.
- Olha... Não deixa a Regina saber. Peguei uma coisa dela emprestada.
- O que é, Emma?
Ela vestia sua jaqueta vermelha por causa do frio noturno, e do bolsinho da frente tirou um espelhinho. Aos olhos de qualquer um, é inútil. Mas um espelho de Regina não é só um espelho.- A Regina deu para o nosso Henry um espelho encantado. Ela trouxe esse para avisá-lo. Quando estivermos voltando para casa, ele e Violet voltarão para casa com as crianças.
- Não era mais fácil fazer isso por um celular?
- Ela tem medo de que nossos números estejam grampeados. Sabe... alguém pode querer vingança e nossa viagem para casa pode ser um momento perfeito.
Assenti. Aquilo realmente era mais esperto.
- Mas enfim... Ela na verdade deu dois. Um fica na sala do apartamento. O outro fica no quarto das crianças. Ele deixou lá para podermos matar a saudade.
- Posso ver a Hope?!
Emma sorriu e me entregou o espelho. Quando toquei no meu reflexo, a imagem sumiu e após um desfoque passar, vi minha princesinha dormindo. Como sempre, apenas metade do seu corpo estava sob a coberta, pois ela se mexe muito e fica assim. E em suas mãozinhas, seu coelho de pelúcia bem agarrado.
- Ela não mudou nada...
- Claro, Killian. Não tem tanto tempo assim que vocês se despediram.
Suspirei e contei à Emma a visão de Hope adulta que Hans me fez enfrentar. Era a primeira vez que eu falava em voz alta, o que foi um alívio. Foi bom dividir a pressão um pouco com minha Swan, que beijou meu rosto e acariciou minhas costas.
- A minha visão foi a da minha família. Eu estava de volta no meu orfanato, tinha de novo 15 anos. Os meus pais iam até lá e não me levavam. Depois eu pisquei e me vi em Storybrooke com 28 anos. Eu quebrava a maldição e... nada. Continuava sem ninguém. Nem mesmo Neal me queria. O tempo passava até chegar em você. Foi contra você que Hans me fez lutar.
- Sinto muito, Emma.
- Não é sua culpa. Eu fui a última a acordar.
Foi minha vez de fazer carinho em suas costas. A loira sorriu de leve, se deitando no meu ombro.
- Esse corte no seu pescoço está muito ruim?
- Acho que ele é mais feio do que dolorido. Você está machucada?
- Você se lembra do meu corte na barriga, né? Na visão, o gancho rompeu ele novamente. Mas minha mãe já limpou e fez novos pontos.
Não sei medir o ódio que senti. Mas admito que fui abraçar Emma só depois de retirar meu gancho.
- Emma, você não deveria lutar amanhã.
- Para de bobeira. Nada que uma morfina não amenize.
Ela falou rindo, mas não achei graça nenhuma.
Não falei aquilo por causa do corte na barriga. Estava com um péssimo pressentimento, algo que crescia no meu estômago.
Lembrei da última vez que minha intuição me alertou sobre Emma. Balançando a cabeça para afastar isso, fiz carinho nos fios loiros dela.[...]
Todos fingiram acordar de sonos profundos às 6h, mas as olheiras nos entregavam. Ninguém ali tinha nem chegado perto de dormir.
Também não tivemos fome. Sentei com Emma e seus pais, enquanto bebiamos uma café concentrado e sem açúcar nenhum. Mary Margaret já tinha suas flechas penduradas nas costas. E com esse clima, não trocamos uma palavra durante nossa primeira refeição.
Às 8h, nos reunimos. Regina nos deu novos lugares para entrarmos, usando o mesmo mapa de antes. Mas dessa vez, eu e Emma entrariamos juntos.
Caminhamos espalhados até o castelo. Péssima ideia. Hans já nos esperava no pátio da frente, com um ar de confiança. Ao seu lado, a versão das trevas da Emma. Mas reparei que seus cabelos não estavam mais em um coque e muito menos estavam brancos. Agora, caiam em cachos loiros por toda a roupa preta.
A minha Swan, do meu lado, ficou inquieta. Olhei para ela.
- Eu cuido da Senhora das Trevas.
Apenas assenti,olhando as duas irem de encontro uma a outra. Infelizmente não pude ficar olhando Emma, mas confiei que ela ficaria bem.[...]
Eu me sentia completamente exausto. O peso por não ter dormido nada de noite foi sendo jogado cada vez mais nas minhas costas e progressivamente eu sentia mais raiva, mas também notei que estava ficando mais disperso.
A ideia de sentar um pouco e descansar não me parecia tão ruim.
Uma guerra como aquela é algo que testa todos os sentidos.
Os barulhos de espadas, de fogo queimando e de pequenas explosões são torturantes. Mas nunca vêem sozinhos, visto que sempre são seguidos de gemidos de dor e os baques dos corpos indo de encontro ao chão.
Se o som é ruim, a visão disso tudo é pior ainda.
O cheiro é nauseante.
Olhar tudo aquilo e sentir aquela espada de lâmina fina na mão é uma das piores sensações.
Agradeci ao simples fato de que o único sentido que eu não estava usando era o paladar.
Lembrei da minha conversa com Emma. Ela tinha decidido terminar nossa relação para não sofrermos se um não voltasse. Estava me sentindo cansado demais, e temi que eu não voltasse, que eu a deixasse.
Deixaria Hope também. De jeito nenhum poderia abandonar minhas duas meninas. E foi pensando assim que restaurei forças de onde eu não sabia que tinha.
E pronto. Menos um soldado de Hans.
- Saudades, querido?
Virei na direção da voz. Cruella sorria para mim, dona de uma plenitude muito sinistra para o momento.
Tentei um golpe com a espada, mas foi bloqueado por ela.
- Sabe, Killian... Foi a sua namoradinha que me matou. Eu devo muito ao Hans por ele ter me trazido de volta. E ele me mandou acabar com você.
- Mandou? Agora você aceita ordem igual aos cachorros?
- Calado! Vamos ver como a Emma fica sem você?
- Só depois de ver como o Hans fica sem você.
Eu me achava bom em esgrima, mas Cruella realmente tinha uma destreza quase animal em luta.
Em um único golpe, ela conseguiu tirar minha espada da minha mão e me fez cair no chão. Sua risada soou fundo na minha cabeça, e logo em seguida a espada dela estava apontada para mim.
Fechei os olhos. Seria melhor não assistir isso. Comecei a pensar em Hope, em Emma e no futuro que não teríamos.
Ouvi o barulho da lâmina cortando a carne. Mas não senti dor nenhuma! Como isso seria possível?
Comecei a pensar que a dor na morte não existe, mas abri os olhos e entendi tudo.
Emma tinha entrado na minha frente.
Corri até ela, como se fossemos só nós dois naquele salão. Com todo cuidado do mundo, a ergui e deitei sua cabeça no meu colo. O corte em seu corpo sujou as minhas mãos e aquele cabelo loiro tão lindo.
- Emma? Porque você fez isso, meu amor?
Senti que Cruella nos observava, e sua risada me deu náuseas. Mas nada roubaria minha atenção de Emma. Seus olhos já estavam fechados, sem vida.
Seus pais logo nos acharam e, pelas mãos raivosas de David, Cruella teve o fim que mereceu. Mary sentou do meu lado,sem coragem para encostar na filha.
Não é possível que tudo acabaria assim.
Cof cof
Prometo não demorar a voltar 😁

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A Princesa & O Pirata
FanfictionKillian é um pai solteiro desde a morte de sua esposa, Milah. Decide se mudar para Storybrooke, tentar um novo começo com Hope. Vivendo no Reino Unido, o ex-pirata recebe de sua amiga, e Rainha, um convite para trabalhar como Ministro das Navegações...