2° Capítulo - Voltando Para Casa

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  • Dedicado a Mayra Nepomuceno
                                    

Jonas

Eu não podia. Simplesmente não conseguia dar seguimento. Ia contra os meus princípios, como advogado eu deveria reconhecer o meu erro, e mesmo sendo traído sob o meu nariz, devolver na mesma moeda parecia errado.

Aquela garota.

Havia uma predominância naquela garota que eu teimei em descobrir. Sua áurea estava danificada. Eu me propus a desvendar os seus segredos. Um arrependimento me bateu quando eu entrei dentro daquele quarto, mas me parece que o destino quis assim, eu fui escalado para entrar na vida dela.

Mas talvez seja só exagero meu. Quais as probabilidades de encontrá-la novamente? E quais as chances dela ligar? Poucas, diria impossível. No mínimo ela achou que eu era um maluco.

Vamos esquecer, Jonas. Não foi nada a ser levado a sério.

O engarrafamento de São Paulo já havia amenizado naquela hora da madrugada, mas passou-se meia hora para estacionar o carro na garagem do prédio onde morava.

Blenda atuava como professora em um colégio particular de ensino fundamental, ela devia estar preparando alguma aula, ou se recuperando da apunhalada que me deu.

Minha família já foi perfeita.

Meu filho entrou na puberdade e estava sendo um inferno. Seu nome? Jorge, quinze anos, era o adolescente que tínhamos que lidar. Mariana eu não preocupava tanto, até o momento. Isaac, que acabara de completar dezenove anos, cursava faculdade de engenharia física.

Dentro do elevador cliquei na opção nove, o andar onde morava. O mecanismo do elevador foi acionado. Me olhei no espelho e vi um homem que deixou o trabalho lhe envelhecer. Os fios grisalhos faziam de mim um velho prematuro. Eu não sabia mais o que era diversão. A única pessoa da família que eu fazia questão de sorrir era minha filha, ela era minha razão de não ter jogado as peças para o alto. Isaac só voltava para casa no fim de semana, Jorge vivia saindo com uma turma que eu não apoiava, voltava da balada nas madrugadas. Eu não tinha um controle firme sobre minha família. Eu vi num filme uma frase assim "eu teria vinte filhos criança, mas não teria um adolescente" essa era a verdade. Alguns pais davam sorte, já outros... O Isaac já passou por essa fase, falta muito tempo para Mariana chegar, mas o Jorge... Adolescentes acham que são a prova de tudo que é ruim, que nenhuma tragédia acontecerá com eles, mas eles estão errados, todos nós estamos a prova de qualquer incidente, eles não são imortais. Mas se você for dizer isso a eles, o que irá ouvir é "pai, você está ficando velho".

O elevador chegou ao destino. Eu saí carregando a maleta.

Dobrei o corredor e busquei a chave do apartamento.

Era tarde. Madrugada de sábado. Todos estariam em casa, porém Blenda havia montado o cerco para ficar à sós.

Encaixei a chave, tomando cuidado para não fazer baralho. Girei sutilmente, segurando a maçaneta e empurrando a porta, em silêncio.

Tudo escuro, apenas o abajur ligado. Fechei a porta e caminhei até o meu quarto. Mas uma figura me chamou a atenção. Mariana, a minha princesa. Os cabelos compridos, pretos e lisos sobre o rosto, o sono mais lindo de se admirar. Um livro se apoiava nos braços dela. "Branca de Neve e Os Sete Anões", o seu preferido. Tivera um dia que ela me acordara para ler a história, ela dissera que teve um sonho e nele o príncipe não conseguia salvar a princesa. Tiver que ler e reler para deixá-la ciente que sempre haveria um final feliz.

Mas, como ela estava aqui?

Me aproximei. Coloquei meu braço sob as pernas, e com o outro sustentei as costas e a cabeça. A protegi em meu colo, e fui até o seu quarto. A deitei na cama, puxei o cobertor e cobri até a cintura, ela gostava de sentir um friozinho.

Garota de ProgramaOnde histórias criam vida. Descubra agora