13° Capítulo - Revelações

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Fiquei tão assustada que mal percebei que não estávamos mais na casa de sadomasoquismo. Meus olhos ainda sentiam uma vibração dolorida, e as têmporas doíam na mesma intensidade.

- Está bem? – perguntou.

Relatei a minha dor de cabeça, e acabei contando porque fiquei daquele jeito.

- Eu não queria dizer lá.

- Entendo.

Esgueirando sua mão direita no porta-luvas do carro, Augusto pegou uma cartela de remédio e entregou-me.

- Próximo ao seu banco tem um isopor conservando água gelada e energético, se quiser.

Inclinei-me e abri o isopor, pegando uma garrafa com água. Pus um comprimido na boca e bebi uns goles, guardando tudo em seu devido lugar.

- Se eu contasse que estou passando por um momento de vida e morte, acreditaria? – perguntei, inquieta demais para deixar a dor me consumir.

Provavelmente, não. Provavelmente ele riria de mim.

- E por que não? Victoria, nós não estamos livres de situações inusitadas ou perigosas. Coisas ruins acontecem com todo mundo, não existe exceções, até mesmo pessoas de boa fé, sem magoas, essas são as mais afetadas. Mas não se preocupe, existem pessoas que querem o seu bem. Além do mais você tem a mim, o seu pretendente, a minha mãe, até mesmo o drogadinho do meu irmão...

- Cale a boca! Como ousa falar assim dele?! Augusto, você é um perfeito estúpido. – berrei, abrindo a porta do carro.

Sempre que falavam mal do Abel, eu sentia uma vontade enorme de fazer coisas absurdas. Ninguém sabia o que acontecera com ele, nem os motivos para chegar neste ponto e se soubesse... será que pessoas fisicamente perfeitas eram tão estragadas por dentro como aquelas maçãs vermelhas e atraentes que pareciam saborosas?

Nós havíamos chegado no apartamento de Jonas. Preferi vir direto para cá, poupando Augusto de deixar o apartamento abandonado.

Furiosa, abri a porta do carro para sair. Ele me segurou e me arrastou para dentro.

- Ele só traz sofrimento para a minha mãe! – seu hálito de vinho baforou o meu rosto, pequenos jatos de saliva sujaram-no.

- Não é só chegar e achar que pode falar o que pensa. Ficou anos fora, sem nenhuma comunicação. Você não sabe de nada do que aconteceu. O que passamos para estarmos aqui, vivos.

- Minha mãe está sofrendo. Se vivesse dentro de casa, saberia mais disso. – isso me machucou muito, se ele tivesse a mínima noção do que aconteceu... - Se soubesse a dor de uma mãe, não agiria dessa forma tão imatura. Se tivesse uma, saberia.

- Como pode falar essas coisas? Depois do que aconteceu, sua mãe foi de longe a melhor e mais importante figura de mãe que eu já tive. Eu passei por coisas terríveis.

- Como ser uma profissional do sexo? – ele abriu os lábios para um sorriso. - Desculpe-me, Victória, mas ninguém escolhe essa vida sem consentimento...

- Não, Augusto. Mas, sim, por ter sido abusada quando eu ainda era uma criança, por ter sido obrigada a fazer sexo oral no próprio tio, por ter carregado esse fardo por toda a minha vida, por saber que a própria família preferiu acreditar nas palavras de um estranho em vez do silêncio de uma criança eventualmente perturbada. Eu nunca pensei que fosse me livrar dessas coisas, mas ai vem a vida e ensina que nunca deve-se desistir, uma hora vai acontecer. Conhecer Jonas me fez olhar o mundo de outra forma. Infelizmente coisas aconteceram. E você, tão egoísta, desrespeitoso... – puxei meu braço sem encará-lo. – Você precisa amadurecer mais, ainda é muito imaturo para entender as coisas da vida. Eu tenho pena de quem ama você...

Garota de ProgramaOnde histórias criam vida. Descubra agora