Meu quarto já estava na penumbra, apenas a luz forte da tela do celular iluminando meu rosto. Até me esqueci que Augusto estava lá em baixo pondo a conversa em dia. Ele só ficaria essa semana no Brasil, provavelmente viria me chamar para irmos em algumas casas que praticavam sadomasoquismo. Ele era praticante, tinha algumas casas na cidade onde morava, mas queria comparar a maneira como o brasileiro desenvolvia seus métodos e os aplicava.
As estocadas de dedos contra a porta ressaltou meu pensamento, sabia que era Augusto, eu malmente o olhei nos olhos (mentira, eu foquei bem naquela densidade azulada, duas mármores criptografadas).
- Vic, está quase na hora, volto daqui a pouco para chamá-la. – deliberou, saindo de cena sem ao menos ganhar uma resposta. Tão decidido, ele parecia ser daqueles que gostavam de ter a última palavra como deles, será que tinha ligação com seu trabalho?
Enquanto eu assistia diversas fotos passarem às minhas vistas, resolvi impor um objetivo e me arrumar para a noite, ou pelo menos uma noite ao encontro de Augusto. Tinha certeza de que ele adiantaria as coisas o máximo que pudesse.
Vesti uma cinta liga branca, calcei um scarpin salto agulha vermelho, passei um batom vermelho dando vida aos meus lábios, complementei meus olhos com sombras acinzentadas, lápis no interior das pálpebras e puxei no final dois rabinhos estilo olhinhos de gato. Usei um short de couro preto acompanhado de um espartilho branco. Me olhei no espelho e não gostei tanto daquele look, achei muito chamativo, o que em outra época serviria perfeitamente.
Decidi vestir algo mais moderno. Uma saia de cetim rubro justa e curta, vesti também um sobretudo preto que escondia parte da saia. Estava quase pronta, borrifei perfume, pus um par de brincos, finalizei a maquiagem, só faltava um colar que havia ganhado de um dos primeiros homens que eu ficava, me surpreendi quando vi aquela joia. Ele dissera que era uma recompensa por tê-lo deixado satisfeito.
- Pronto? – era ele. – Posso entrar?
- Ah, sim, claro. Eu só me enrolei com esse colar... – parei. O olhar de Augusto deixou-me envergonhada.
Ele viajou pelo meu corpo sem nem disfarçar. Ele estava um pouco informal, se desfez da figura de terno, e adotou um estilo urbano, eu acho. Usava calça de moletom cinza, uma camisa gola V branca, e tênis plataforma vermelho; as cores que usava batiam com as minhas, o que não deixava de ser interessante.
- Deixe-me ajudá-la. – suas mãos prestativas colaram em mim.
Por incrível que fosse, e até aliviável, não senti seu toque estremecer-me como considerei horas atrás. Foi um toque de reconhecimento, como se convivesse ao seu lado desde sempre, não foi nada especial.
Passou-se um minuto, eu o aguardando.
- Quem o fecharia, caso eu não estivesse aqui? – Provocou, fechando o colar. Podia muito bem fechá-lo, mas Augusto era do tipo que sentia um prazer sublime deixando a expectativa de algo acontecer pausadamente, mas eu sentia dizer a ele, mas nada aconteceu. Por fim, ajeitando meus cabelos, ele se afastou.
- Tia Gertrudes. Só vou me vestir hoje porque você está aqui, e para ter acesso a alguma casa de sadomasoquismo é preciso levar uma parceira ou parceiro vestido apropriadamente, caso contrário eles embarreiram, mesmo você sendo dono de uma das casas de sadomasoquismo mais visitadas da Europa.
Ele me censurou, escapando um sorriso cafajeste.
- Mais especificamente, a Alemanha – ressaltou. – Como assim "só vou me vestir hoje"?
- Não faço mais programas, acredito ter encontrado o amor da minha vida, portanto não é necessário continuar vivendo assim.
Ele torceu a boca, anuindo.
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Garota de Programa
Любовные романыNão há nada mais precioso em uma criança que sua inocência perante as maldades do mundo. Um acontecimento lamentável acaba por tirar Victória de sua vida e a afasta da família. Anos depois, ela descobrirá que a vida lhe faz propostas irrecusáveis...