1.2° Capítulo - Opressão

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Jonas

Estava no verdadeiro inferno.

Quem imaginaria que um dia eu assumiria isso?

Blenda foi minha primeira namorada, meu primeiro amor, alguém que eu realmente queria algo sério. Casamos, tivemos três filhos lindos, carinhosos. Deus realmente reservou um para o outro.

Eu jamais pensei que o amor tão forte que sentia se derreteria simplesmente.

Eu trabalhava como advogado, principalmente para casais que estavam prestes a se divorciar, que iriam compartilhar a guarda do filho, que seriam inimigos, e eu não conseguia enxergar saída para mim e Blenda, estávamos beirando sem volta esse destino.

Ela tornou-se histérica, insensível. Hoje, quando deitava ao seu lado na cama era como se estivesse com uma estranha, alguém que nunca conheci.

Até mesmo nossos filhos eram vítimas de seus surtos.

Eu estava no meu escritório, sentado, organizando casos de divórcio. Eram tantos que eu tive que virar a noite. Na verdade, faz um tempo que eu não chegava em casa às nove horas da noite, horário-padrão de chegar. E adivinha só o que eu fazia na mente de Blenda? A traía com o primeiro rabo-de-saia que passava por mim, e eu queria mesmo que fosse isso, se fosse tão galinha quanto ela me rotulava nos últimos meses. Acontece que eu priorizava o meu trabalho, ora, eu também tinha que pôr a comida na mesa, afinal nós ajudávamos um ao outro; despesas de mercado, água, luz, telefone, absolutamente tudo.

Era o único ponto que eu ainda admirava nela. O fato de ter tornado nosso casamento moderno, onde os dois davam duro e mantinham a casa sob controle, compartilhando qualquer financiamento.

Minha filha, Mariana, chegou a perguntar o que de errado havia entre eu e Blenda. Eu tive que enganá-la, o que mais poderia dizer? Ah, Mariana, eu e sua estamos em crise, ela acha que sou um galinha, que estou pondo um par de chifres na cabeça dela... Não, ela tinha sete anos! Talvez, se ela tivesse uns vinte e cinco anos, mais madura e com conhecimento básico de relacionamento, eu me abriria para ela.

Era um desabafo, caramba.

Eu não me conformava em ver meu casamento regado a amor, dedicação, entrega, ser jogado na sarjeta sem mais nem menos.

Eu queria mesmo ser um cafajeste, mas não fazia parte de mim. Existiam homens fiéis, ainda, mas existiam. Eu era um deles. Bem, talvez eu ainda fosse. O que quero dizer é que as mulheres precisam valorizar aquele homem que a acorda com um bom-dia, um beijo matinal, um "eu te amo" enroscando os dedos no cabelo, uma cafungada fazendo-a arrepiar-se, são poucos mas há esperanças.

Se houvesse mais diálogos e menos acusações os relacionamentos de hoje seriam mais firmes como rocha e não tênues como uma flor dente-de-leão que o vento arrasta sem esforço.

Meu telefone tocou, agitado atendi sem verificar quem ligava.

- Jonas! O que faz até essa hora fora de casa?! Já são duas da manhã, sua filha está chorando, preocupada...

- Nossa filha, Blenda. – rebati, sentindo uma fúria esquentar meu corpo.

Percebeu como as coisas não andavam boas? Eu não suportava ouvir sua voz, a exigência impregnada.

- Já estou terminando as anotações, já, já chegarei aí.

- Acho bom, não aguento ouvi-la chorando! Se eu pudesse...

- Se você pudesse, o quê, Blenda? Está louca?! Não toque um dedo nela, está me entendendo? – gritei, os lábios ressecados. – Não educamos nossos filhos à base de pancadas!

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