11° Capítulo P.1 - Distorção

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O que havia acontecido? Que espécie de delírio era esse?! Como explicar aquela situação? Eu realmente não sei o que me levou ali. Augusto era meu primo, e naquele momento estávamos numa cama. Era másculo, costas largas, decidido a me consumir.

O couro do chicote agarrou em minha pele, machucando minha pele, o que estava acontecendo em minha mente? Isso não parecia real, eu não me sujeitaria a isso.

Ele puxou meu cabelo, sedento por me completar.

- Augusto?! - chamei-o, sentindo o mundo distorcido, como se fosse uma projeção das mais difíceis de aturar.

- Shhh, fique quieta, priminha! – ele disse arrogantemente com um toque de dominação ardente.

As cordas amarrotavam minhas pernas elevadas, elas estavam separando-as de uma forma assustadora, quase que intolerável, minha flexibilidade sendo forçada a ceder sem nenhum treino específico. Meus punhos presos por algemas na cabeceira da cama.

Que diabos?!

Já havíamos chegado numa casa de sadomasoquista vermelho-sangue, estávamos de um quarto todo revertido em roxo alucinante, intensamente perigoso. Meus olhos vagavam buscando apenas o nada, ele me vendou e aquilo me deixou mais intrínseca. A todo o momento pretendia arrastar minhas mãos e me livrar daquela tortura...

Mas era como se... como se eu não tivesse controle sobre mim.

Domingo, 15:30 da tarde, horas atrás...

Isaac me levou para casa. Prometeu que voltaria mais tarde, ele não confiava em me deixar sozinha enquanto eu corresse perigo. Entregou-me um papel com seu número de contato, caso as coisas se desenrolassem sem a presença dele. Antes de me deixar, disse que muito provavelmente sua mãe ficaria fora por um bom tempo, segundo ele, ela havia ligado e disse que estava viajando a negócios e não poderia voltar por agora, só daqui a um mês. Foi a desculpa dela, a polícia já havia proibido a saída de Daniel e Blenda do país.

A polícia escutava a conversa entre Daniel e Jonas, através do telefone grampeado. Eu não estava presente, mas Isaac me disse que a polícia estava bem envolvida e não faltaria segurança no apartamento dele e onde eu morava.

Nunca lidei muito bem com a morte, mas também nunca perdi um ente querido, não que eu saiba, minha mãe podia estar muito bem morta neste exato momento, ou meu pai, ou Edinho. Lembrar dele era muito difícil, só queria saber se ele estava bem, se precisava de sua irmã para alguma coisa, no entanto seria muito difícil, não via meus pais fazia um bom tempo, os anos se arrastaram e com eles se foram resquícios da minha vida convivendo com uma família.

Já havia subido as escadas, tirado as roupas, pronta para tomar um bom banho. Lembrei de Jonas despindo meu corpo como se fosse algo muito frágil e pronto para estilhaçar. A água pigarreando minhas costas e ele surgindo em meu pensamento, implorando por socorro, eu não podia fazer nada.

Assim que terminei de limpar meu corpo daquela madrugada conturbada, resolvi contar a tia Gertrudes o que houvera a poucas horas atrás. Claro, poupei os detalhes: sequestro, polícia, vítima e testemunho.

- Então você realmente parou com os programas? – o brilho de seu olhar, ciente da resposta, me acalmava por saber que ela estava contente com minha decisão. Não era para menos, ela sempre quis que eu estudasse e cursasse uma faculdade.

Concordei, sentando na cadeira da velha cozinha que caía aos pedaços. Aquela pensão num todo carecia de um verdadeiro banho de retoque.

Apoiei as mãos sobre a mesa, vi uma maçã vermelhinha e a peguei, adocicando a boca.

Garota de ProgramaOnde histórias criam vida. Descubra agora