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Era uma manhã de segunda, como de costume Estefan acordou mais cedo que sua companheira que dormia tranquilamente. Ele a observou por um longo tempo, seu sono leve não revelava nem de longe a situação em que estavam metidos. Não imaginava que as consequências de trazer Sophie para Louisville apareceriam tão cedo, porém, o ataque de Flauros era apenas o começo, com certeza Lúcifer não era o único querendo dar fim a garota, e ela precisava estar pronta, pois agora somente ela seria capaz de se defender.

Ele alisou o corpo nu de Hauren, aquele corpo que na mesma medida que o salvava diariamente, era sua perdição. Ela se mexeu ficando de bruços, fazendo com que ele ficasse paralisado, ainda não havia conseguido se acostumar com a marca que seu amor carregava, sabia o que aquilo fazia com ela, a dor que lhe causava. Vê-la dormindo assim tão bem lhe confortava, pois geralmente seu sono era constantemente atormentado pelos pecados do passado.

Estefan se levantou e foi até a cozinha, se bem conhecia o apetite do amor de sua vida, ela acordaria faminta, se divertia ao vê-la desenvolvendo as limitações humanas que sempre desdenhou. Se lembrou da primeira vez que cederam ao que estavam sentindo um pelo outro. Hauren olhou bem no fundo de seus olhos e disse — Ficar ao seu lado será minha perdição. — E estava completamente certa. Ele arrumou a bandeja com sanduíches, suco de pêssego que no momento era o favorito dela, geleia de morando, biscoitos, e uma generosa fatia de bolo.

Voltou para o quarto no exato momento em que Hauren esticava o corpo despertando, ela tinha uma espécie de ritual ao acordar, e Estefan sempre a admirava extasiado enquanto ela fazia uma espécie de dança sedutora, mexendo o corpo lentamente. Sua vontade era poder se isolar de todo resto e aproveitar a vista pelo resto da eternidade, mesmo que talvez agora isso significasse bem menos, entretanto não se tratava apenas deles.

— Isso é um pedido de desculpas? — Hauren finalmente abriu os olhos.

—Pensei que já havia me desculpado. — Ele sorriu de forma maliciosa. — Pelo menos era o que parecia quando eu estava dentro de você pela quinta vez essa noite.

— Meu amor, você superestima o sexo.

Estafan sorriu e sentou ao lado de Hauren na cama lhe oferecendo a bandeja que foi aceita prontamente. Ela comeu como se não fizesse uma boa refeição a anos, cada item foi saboreado, não sobrando nem mesmo migalhas. Quando terminou, Hauren suspirou satisfeita, e ofereceu um sorriso ao companheiro.

— Ela suspeita que somos seus pais. — Estefan disse levando sua mão a uma mecha solta dos cabelos de Hauren.

— Não podemos permitir isso. — A mulher se levantou deixando o corpo amostra e caminhou até um roupeiro que ficava do lado oposto a cama.

—Mas talvez...

— Não existe talvez nessa situação Estefan. — Hauren o interrompeu. — Será doloroso demais se permitirmos isso.

— Tudo bem, mas continuaremos apenas ganhando a confiança dela. E deixamos que descubra tudo aos poucos.

— Ela é bem esperta, ninguém antes havia suspeitado de nós dois juntos. — Hauren já usava um leve vestido florido.

O local onde estavam não era residência fixa de nenhum dos dois, apenas o usavam quando necessitavam um do outro e não conseguiam conter o desejo de ficarem juntos. Era um simples chalé localizado distante da cidade, que lhes fornecia a privacidade que precisavam para saciarem seus desejos.

— Eles fizeram um bom trabalho com ela. — Estefan afirmou.

— Sim, você escolheu bem. — Hauren voltou para cama, e sentou-se lançando um olhar de súplica ao amado. — É isso que você faz, boas escolhas.

— Então confie que estou fazendo o que é certo novamente. — Ele segurou a mão direita de Hauren e beijou sua palma. — Não tinha outra opção.

— Manter alguém preso não é certo. — Ela insistiu.

— Se ele contar, tudo estará perdido.

Hauren abaixou a cabeça parecendo vencida, se a decisão fosse somente sua já teria contado toda a verdade a Sophie e aguentado as consequências. Mas Estefan queria que tivessem mais tempo, para que a garota estivesse preparada. Ele temia que se soubesse a verdade não permitiria que eles a treinassem, e a garota precisava de autocontrole, caso contrário o estrago poderia ser enorme. Como Estefan tinha mais informações do que Hauren, ela confiava que estivesse certo.

— Tente falar com ele novamente. — Ela lhe deu um beijo na testa. — Estou indo, nos vemos na escola, hoje voltamos com os treinamentos, e agora com nossa principal aluna presente.

Estefan a acompanhou até a porta e ficou observando até o carro desaparecer na estrada, era como se Hauren levasse toda sua felicidade. Ele agora tinha uma expressão dura, de dor. Caminhou a passos lentos de volta ao chalé, após atravessar a pequena sala ele abriu uma porta que dava a uma minúscula lavanderia, puxou sem dificuldade a lavadoura que escondia uma espécie de alçapão e o abriu para em seguida descer até o porão.

O local estava completamente escuro, mas isso não dificultou sua descida, puxou uma corda no teto baixo do local e então uma lâmpada se ascendeu. Estefan sentou-se em um banco de madeira olhando para uma grande jaula quadrada toda de prata bem a sua frente.

— Sei que está acordado.

— Vai se ferrar Estefan. — Hunter estava preso pelas mãos por duas correntes que iam até a parte de cima da jaula. — Seu amante de demônio maldito.

— Você não sabe nem da metade do que está acontecendo. — Estefan pressionou dois dedos na testa. — Nem estava aqui quando aconteceu. Nem mesmo para proteger seu grande amor.

— Cala essa boca nojenta. — Hunter gritou.

— É a mais pura verdade, você enche a boca para dizer que a amava, mas onde estava quando ela precisou? Você amou mais seu orgulho.

— Ela fez a escolha dela. — Hunter estava desolado, olhava para o chão e Estefan podia jurar que viu uma lágrima rolar em seu rosto.

— Sophie precisa estar preparada para o que vai acontecer. — Estefan disse cauteloso. — Se ela souber toda a verdade agora, não permitirá que a treinemos.

— Vocês querem conter o poder dela, ela já é muito mais poderosa do que qualquer um de nós.

— Poder sem controle não é nada, nos ajude nisso. — o caído suplicou.

— Não conte com isso, eu não sou como aqueles cães da sua escola, que vocês controlam como querem. — Hunter cuspiu, seu olhar era um misto de ódio e dor.

Estefan suspirou cansado e se levantou, lançou a Hunter um último olhar implorando que ele reconsiderasse, mas era inútil, o garoto ainda era imaturo demais, não havia vivido na glória, só conhecia aquilo que lhe foi contado, sem nenhum contato direto com o criador, para ele era tudo preto no branco, sem meio-termo. O caído se virou puxando a corda para apagar a luz.

— Me tira daqui. — Hunter gritou.

Mas Estefan não respondeu, não arriscaria tudo por causa dele, tinha muito a perder, todos tinham muito a perder, Sophie precisava ficar ao lado deles a qualquer custo.

 Mas Estefan não respondeu, não arriscaria tudo por causa dele, tinha muito a perder, todos tinham muito a perder, Sophie precisava ficar ao lado deles a qualquer custo

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Marcas em Sangue   [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora