Capítulo 11 - Hunter (parte 2)

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Sophie parecia impaciente quando retornou ao porão trazendo consigo uma jarra com água e um copo, Hunter tinha a garganta tão seca que já não conseguia falar claramente, ela esperou que ele esvaziasse a jarra para só então o questionar.

— Não quero parecer indelicada, mas teria como pular para a parte em que me conta sobre minha mãe? — Seus pés batiam impacientes sobre o piso.

— É a história toda, ou nada. — A voz do prisioneiro já soava um pouco melhor.

— E… então você continua preso. — Luke ameaçou recebendo um olhar arrogante de volta.

— Por qual motivo sua história seria relevante para minha vida? — Sophie colocou uma mão sobre os ombros de Luke o acalmando.

— Preciso que saiba a importância dela na minha vida, o que ela foi para mim, o motivo de eu ter vindo até você. — Hunter suspirou. — Continuo, ou não?

— Continue.

— Certo. Como eu ia dizendo, comecei a traçar meu próprio caminho,  não queria encrenca com os caídos, humanos já eram trabalhosos o suficiente.

“Passei a viver entre eles, conheci tudo, suas crenças, seus costumes, modo de vida, e resolvi que era minha obrigação corrigir seus erros, já que os caídos não se intrometiam nesses assuntos, os mundanos conseguem ser altamente destrutivos.

A raça humana não foi a melhor criação de Deus, mas nós também não ficamos para trás, nos julgamos tão poderosos, eu, por exemplo me achava no direito de resolver as questões deles, fui juiz, júri e carrasco. E foi o que fez meu caminho voltar cruzar com o de Raziel.

Já  estava vivendo a muito tempo entre os humanos, me tornei de deus do fogo à faraó, mundanos adoram a qualquer coisa, e condenam qualquer um que seja verdadeiramente bom, e por mais que eu tenha minhas dúvidas sobre Deus, o filho dele era realmente um cara bom, eu o vi espalhar amor por onde passava, e vocês precisam saber que foi muito além do que está escrito.

Não aceitei muito bem quando soube que ele seria crucificado, juro para você que eu mataria cada um que estava envolvido naquele absurdo. Mas sua mãe não me deixou chegar nem perto.

Ela nem se apresentou, não perguntou onde eu ia, ou o que eu ia fazer, preferiu me jogar direto no chão, comi uma boa quantidade de terra aquele dia.”

Hunter deu uma risada engasgada e Sophie o serviu um pouco mais de água antes que ele continuasse, a garota ficava cada vez mais interessada na história que era contada.

— Raziel ficou lá, parada em uma pose toda poderosa, como se pudesse me mandar direto para o inferno com um dedo se quisesse. Eu costumava ser impulsivo naquela época. — Sophie e Luke ergueram a sobrancelha fazendo o aprisionado dar de ombros. — Certo, talvez eu continue um pouco.

“Me levantei pensando que acabaria com ela, e voltei a ter minha cara arrastada no chão. Quando tentava me levantar ela me deu um chute bem no estômago que me lançou longe, nesse momento eu já estava achando que ela me mataria.

— Não tenho interesse em lhe machucar. — Eu disse tentando manter uma pose que escondesse meu pavor. — Não procuro problemas com os servos de Deus, peço apenas que permita seguir meu caminho.

Ela suspirou e sorriu, em seguida caminhou até onde eu ainda estava caído e me ofereceu ajuda para levantar.

— Sinto ser minha missão lhe convencer. — Ela começou falando com a voz mais doce que eu já tinha ouvido. — Mas não deves prosseguir.

— Sabes meu destino? — perguntei e ela afirmou com a cabeça. — Então entende que não posso permitir tal injustiça.

— Deus veio a mim para lhe dizer que não deves interferir.

— E por que não falou diretamente? Sou assim tão abominável? O que fiz a Deus que ele rejeita minha presença? — Esse ainda era um assunto que me abalava.

— Não devias ter nascido. — Ela disse assim, na lata, e foi mais doloroso que o chute que havia me dado. — Seus pais falharam com o criador, no entanto, Ele lhe deu uma segunda chance.

— Viver eternamente rejeitado e amaldiçoado não me parece   algo a dar graças.

— A maldição é a chance de nos redimir, porém, você desperdiça a cada dia. — Seu olhar era de pena.

— Escolhi por não cruzar os braços enquanto mundanos destroem uns aos outros.

— E por que julgas que possui o direito de interferir? — Agora ela me julgava, com a mesma voz doce, mas cheia de acusação. — Se julgas melhor até quando te deitas com mortais tendo conhecimento das leis de Deus?

Eu iria responder, queria dizer que se elas morriam não era por minha culpa, que Deus inventou aquela lei estúpida, porém, eu sabia que não era assim. Cada vez que deixava os desejos de meu corpo dominarem, eu assumia a culpa pela morte de mais uma mulher, e eu nunca esperava, partia antes que pudesse presenciar o resultado de minhas ações.”

— Você se deitava com mulheres mesmo sabendo que isso as mataria? — Luke perguntou chocado.

— Sim, sempre que meu corpo sentia necessidade, não acontecia com a mesma frequência que é para os humanos, levava alguns anos…

— Ainda assim é nojento. — Sophie o interrompeu. — E eu pensei que você havia realmente se apaixonado por Sarah.

— Como sabe sobre ela? — Hunter quis saber.

— Estefan me contou, eu queria saber se algum filho já havia se relacionado com um mundano, aparentemente ele não conhece essa parte da sua história. — A garota se levantou irritada.

— Óbvio que ele conhece, mas provavelmente Estefan não queria que você sentisse ainda mais raiva de mim, ele tinha a intenção de me transformar um leva e traz igual aos idiotas de Sant'Angelin.

— Então você sabia que Sarah morreu por sua culpa?

— Fiquei um bom tempo culpando Lucifer, matei muitos caídos com essa desculpa, mas, no fundo eu sempre soube que fui culpado pela morte de meu primeiro amor. — Ele sorriu sem vontade.

— Você diz primeiro amor, houveram outros? — Ela perguntou curiosa.

— Apenas mais um.

— Quem? — Ela estreitou os olhos.

— Você não faz nenhuma ideia? — Hunter virou um pouco a cabeça de lado enquanto recebia uma negativa em resposta a sua pergunta.

— Ele se apaixonou por Raziel. — Foi Luke quem deu a resposta.

— Você realmente é um garoto inteligente. — O local ficou em silêncio.

Marcas em Sangue   [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora