Capítulo 6 - Sentimentos (parte 5)

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Os dias estavam seguindo em uma estranha calmaria, porém Estefan e os outros estavam empenhados em descobrir quem era o inimigo que estava ameaçando a vida de Sophie. Anjos não descem à Terra, é doloroso demais para eles, mas se avisar isso era tão urgente que um precisou descer, eles realmente estavam com um enorme problema.

Com os treinamentos se intensificando, Sophie voltou a se aproximar, principalmente de Hauren já que os treinamentos de esgrima e defesa pessoal eram os que mais gostava. Com a volta de Luke para a escola, os dois estavam aproveitando para investigarem na biblioteca, mas ainda não haviam encontrado nada relevante, apenas descobriram que o motivo da segunda guerra entre os caídos fora porque Nathanael, o filho mais velho de Lúcifer, veio à Terra.

Eles descobriram que o demônio estava por trás da guerra entre os mundanos, não que eles não fossem destrutivos o suficiente sozinhos. Mas esta guerra em específico era um plano de Lúcifer para ceifar um grande número de almas, e ele conseguiu.

Porém Deus descobriu, e Estefan que era seu mais fiel general, foi escolhido para liderar os caídos na missão de expulsar Nathanael e junto com ele os caídos que estavam o ajudando. Foi um momento sangrento, tantos para os caídos, quanto para os mundanos.

Mas os celestiais saíram vitoriosos e Sophie se sentiu orgulhosa em saber que sua suposta mãe fez parte deste momento. Porém queria saber mais, como por exemplo qual era o nome da mulher que se parecia tanto com ela, qual seu papel nessa história, e principalmente, quem era seu pai.

Além de estarem investigando, os dois ficavam cada vez mais íntimos, já não era segredo para ninguém na escola que eles formavam um casal, e isso estava incomodando aos caídos, a consequência desse relacionamento poderia ser destrutiva aos dois.

— Sophie, nós precisamos conversar. — Disse Estefan depois de mais um exaustivo treino de arco e flecha. Mesmo não sendo sua arma com mais afinidade, o professor possuía uma ótima pontaria.

— Sou toda ouvidos.

— Seu relacionamento com o garoto mundano não pode continuar, é muito arriscado. — O professor foi direto ao ponto.

— Primeiro você não pode me dizer o que fazer, segundo nós conhecemos os riscos e estamos dispostos a enfrentar. — Sophie manteve a voz firme.

— Vocês não conhecem. — Ele indicou uma cadeira para sentarem. — Logo no início da humanidade, um anjo desceu à Terra.

— Anjos não descem à Terra, Deborah já disse isso em uma aula. — A garota o interrompeu.

— É verdade, mas isso foi antes da proibição. Continuando, o anjo veio à Terra conhecer a criação de seu pai e ficou encantado, maravilhado na verdade.

“Ele gostou tanto que tomou uma forma mundana para ficar entre os homens, não demorou para que fosse contaminado pelos sentimentos humanos e se apaixonou por uma mulher mortal.

O anjo resolveu então continuar na Terra com a mulher. Os dois se amaram profundamente, e estavam iniciando sua própria família, ela iria gerar um filho.

Entretanto a criança era poderosa demais para um ventre mundano aguentar, por isso a mulher foi definhando durante a gestação e morreu ao dar a luz. O anjo ficou destruído, sua imprudência havia matado a mulher que amava.

Ele deixou a Terra e voltou para as asas do pai, que não querendo ver mais nenhum de seus filhos sofrendo daquela maneira, proibiu que os anjos descessem, e caso não cumprissem sua ordem sentiriam tanta dor que seriam obrigados a voltarem aos céus, por isso anjos não descem, a dor é demais para suportarem. E Deus prevendo que poderíamos ser também contaminados com os sentimentos mundanos, proibiu o envolvimento com mundanos, e quebrar essa regra resulta em morte pouco depois do ato carnal.”

— O que aconteceu com a criança?

— Criança? — Estefan perguntou confuso.

— A criança do tal anjo.

— Ah! Claro, você já deve ter ouvido falar sobre Nefilins. — Sophie concordou. — A criança cresceu entre os humanos, mas tinha dons que os mundanos não tinham, era mais forte também. Todos os que herdaram o sangue do anjo são Nefilins.

— Isso é ridículo. — Sophie levantou com raiva. — Quando Deus criou essa regra os filhos ainda não existiam, Vic vive pegando mortais.

— Provavelmente a senhorita Victória nunca chegou ao ato carnal com um mundano, e ela está iniciando o treinamento assim como você, não sabe as regras. — Sophie sabia que Vic já conhecia as regras, só não sabia que Estefan estava mentindo de propósito, então não desconfiou que a amiga continuava a passar informações.

— Algum filho já se relacionou com um mundano? — A garota quis saber, tinha esperança da regra não se aplicar.

— Não que eu saiba. — Estefan estreitou os olhos. — Bem, teve um caso uma vez. Hunter se apaixonou por uma filha de Lilith.

— Filha de Lilith?

— Sim, são mulheres mortais descendentes da filha que Lilith teve na terra, elas possuem o sangue do demônio, são conhecidas como bruxas pelos mortais. Diferente dos Nefilins, que são todos os descendentes do anjo que veio à terra, o sangue de Lilith só passa para as mulheres. — o professor explicou.

— E o que aconteceu?

— Ela morreu, no começo eu achei que fosse apenas porque Lúcifer queria recrutar Hunter. Mas por ela ser uma filha de Lilith, cabia ao senhor do inferno vir busca-la e cumprir a regra de Deus, então ele aproveitou para tentar enganar o garoto.

— Hunter sabe disso?

— Ele conhece a regra, mas não sabe que foi por causa dela que sua amada morreu.

— E você não acha que deveria ter contado a ele? — Sophie apertava as mãos para conter sua raiva. — Você não acha que todas essas mentiras são uma merda?

— Eu sou apenas um servo, Sophie. Tento cumprir minhas ordens da melhor maneira possível. — Estefan estava cauteloso, preocupado com a reação da garota.

— Isso é tudo besteira. — Ela pensava em como terminaria tudo com Luke, pelo que conhecia dele o garoto tentaria lhe convencer que podem passar por mais essa. — Eu não pedi por nada disso Estefan, eu não quero isso.

— Eu sei, nenhum de vocês pediu minha querida. Infelizmente fomos fracos e deixamos os sentimentos nos contaminarem. — o caído tinha um olhar triste.

— Você fala de sentimentos como se fossem uma doença.

— No nosso caso é a melhor comparação, foi por termos sentimentos mundanos que desgraçamos a nossa existência e a de vocês antes mesmo de nascerem. — Cada palavra carregava um mundo de amargura.

— Isso não é justo. — Vocês estão aqui a mais tempo do que consigo imaginar, não sei como resistiram por tanto tempo.

— Você não nos culpa?

— Claro que não, pelo menos não por isso, só queria que vocês me contassem a verdade.

— Você vai saber na hora certa, eu prometo, confie em mim.

Ela não confiava, sabia que ele colocava seu dever à cima de tudo, talvez até mesmo do sentimento que tinha por Hauren e tentava esconder. Continuaria buscando suas respostas, porém o que mais a preocupava agora era Luke, e o sentimento que já começava a nutrir por ele.

Marcas em Sangue   [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora