Durante o caminho até o auditório Vic ia falando um pouco sobre os outros alunos ou professores que passavam por elas enquanto Sophie fingia interesse, mas sua cabeça estava, na verdade procurando uma forma de conter toda essa intimidade forçada.
Quando chegaram, o lugar já estava cheio de alunos que permaneciam sérios e em silêncio, as duas sentaram logo nas primeiras cadeiras vagas que encontraram e ficaram em silêncio, os outros três se sentaram no mesmo momento ao lado delas e Sophie se perguntou se eles as acompanharam o tempo inteiro.
Era um auditório comum, do tamanho ideal e com cadeiras marrons para todos os alunos.
No palco estavam os professores sentados em uma fileira de cadeiras pretas, atrás deles um painel pintado na parede, com mais batalhas entre anjos, mas nesta imagem os anjos pareciam querer brigar, todos ferozes e com sede de sangue, a novata sentiu um arrepio com aquela imagem.
Em uma cadeira vermelha, frente aos outros professores estava uma senhora esbelta com os cabelos grisalhos presos em um belo coque e com ares de poucos amigos, apesar do cabelo grisalho ela não parecia velha, era bonita por sinal, mas sua expressão era dura como se carregasse a experiência de várias vidas. A mulher se levantou e foi até o púlpito que se localizava no centro do palco, percorreu todo o lugar com os olhos e começou a falar depois de um pigarro.
— Bom dia, para os que não me conhecem eu sou a diretora de Sant'angelim, Srt.ª Clarice Thompson. Temos poucos rostos novos este ano, o que é bom, pois teremos muitas mudanças, as mais importantes são que o uso de celular está totalmente proibido dentro da escola, os computadores da escola não possuem mais acesso à internet liberado, quando precisarem usar para algum trabalho entrem em contato com a senhorita Dolores, ela dará um acesso restrito e supervisionado até que concluam.
Um alto murmúrio percorreu por todo auditório.
— A senhora mandona mostrando a que veio — sussurrou Vic fazendo careta.
— Eu não terminei, ou seja, vocês não possuem permissão para falar — o auditório já estava em silêncio novamente
— Continuando, não é permitido que nenhum aluno saia da escola durante o horário de aula, gradualmente vocês ficarão sabendo de tudo, por hora não vou tomar muito tempo, quero apenas pedir que os alunos que já conhecem nossa escola orientem os novatos para que nenhuma de nossas regras seja descumprida, agora dirijam-se as suas salas ordenadamente, os celulares já estão suspensos e devem ser entregues antes de deixarem o auditório.
A mulher tinha uma voz tão dura quanto seu rosto, Sophie pensou em como sua mãe morreria de preocupação quando ela não atendesse ao telefone e encolheu os ombros enquanto retirava o aparelho de sua mochila.
Vic resmungava reclamando das novas regras tão baixo que nem mesmo Sophie que estava ao seu lado entendia, mas quem pareceu mais afetado foi Luke, o garoto segurava o celular na mão como se estivesse prestes a se separar de parte de sua alma, Sophie sentiu vontade de consola-lo, mas se conteve e olhou de volta para o palco.
Todos os professores estavam lá, mas dois chamaram a atenção da novata, um homem de cabelos castanho escuro e olhos cinza, que olhava diretamente para ela, e precisou menos de um segundo enquanto seus olhares se cruzaram para a garota sentir que já havia visto aquele olhar antes, a garota sentiu um desconforto nessa troca de olhares.
— Vamos logo — Vic a cutucou fazendo ela voltar a si.
Os outros já haviam saído, ela voltou a olhar para o palco, mas desta vez seus olhos pararam nos cabelos vermelhos de outra professora, esta fitava o nada e parecia nervosa, mas aquele cabelo, ela com certeza já havia o visto antes.
— Qual é o seu problema? Vamos logo — Sophie só percebeu que tremia quando Vic a segurou.
— Calma, sei que é um saco, mas podemos sobreviver sem os celulares — desta vez Victória quase a empurrou.
— Ok, vamos — elas entregaram os celulares e saíram em direção a sala da primeira aula.
Os alunos foram se dispersando, ouviam-se algumas reclamações em baixo tom sobre as novas regras, ninguém estava satisfeito, mas não ousariam reclamar diretamente, os novatos também não se atreveram a nenhuma reclamação, Srt.ª Thompson sorriu, gostava da autoridade que possuía, sempre adorou isso, era o que a fazia suportar ser diretora desta escola. Quando só restavam os professores na sala ela se dirigiu a eles.
— Conto com os senhores para que tudo dê certo, estão dispensados.
Os professores se levantaram e foram deixando o auditório, restando apenas dois.
— Ela me pareceu tão insignificante que é difícil acreditar que é a razão de tudo — a diretora falou de maneira desdenhosa.
— Acredite, é ela. — a voz suave de Hauren se manifestou, ela estava tensa durante todo o pronunciado e ainda não conseguia relaxar.
— Bom, que seja, temos que ter cuidado, não dá para confiar em todos aqui na escola, não sabemos quem de fato está do nosso lado, e se ela é assim tão perigosa devemos mantê-la sempre sob vigilância, não quero ela se aliando a algum inimigo — Sr.ª Thompson voltou a falar como se Hauren fosse insignificante.
A professora de cabelo vermelho apenas suspirou.
— Eu irei protegê-la a todo custo — Estefan fez uma pausa analisando o que havia acabado de falar e soltou o ar parecendo cansado.
— Só ainda não conheço ao certo todos os perigos, mas creio que o maior seja ela mesma — ele ficou pensativo por um instante até que Clarice acabasse com o silêncio.
— E quando pretende contar a ela meu caro? — a diretora tinha um tom irônico, como se alfinetasse ele de alguma maneira, mas Estefan pareceu não ligar.
— Ainda não sei, tenho medo de qual será a reação dela, faremos isso aos poucos — seus olhos cinza pereciam longe.
— Precisamos fazer isso logo Estefan, antes que outra pessoa o faça, imagino o tamanho do estrago que isso causaria — a jovem professora parecia preocupada e temerosa.
Estefan reprimia a vontade que estava sentindo de abraça-la e conforta-la, ele olhava para o chão, os punhos cerrados em sua perna, era quase impossível estar assim tão perto e não poder toca-la.
— Agora vocês precisam ir para as salas de aula, os alunos já devem estar se agitando e eu não vejo como isso nos ajuda.
A diretora novamente ignorava Hauren, e se retirava da sala com passos graciosos e silenciosos como de um fantasma, se eles não a observassem mal notariam que ela deixava o local.
Estefan levantou os olhos na direção de sua amada, ela permanecia rígida, mas percebendo o que ele planejava fazer a ruiva levantou-se e deixou a sala como se fugisse dele.
Por mais que sua vontade era encontrar conforto nos braços de quem amava, isso não poderia acontecer ali, onde existiam vários olhos vigiando cada passo deles. Estefan suspirou parecendo irritado, suas mãos inquietas no bolço da calça, ele olhou a sala vazia, era exatamente como se sentia sem ela.
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Marcas em Sangue [Em Revisão]
FantasiaApós várias mudanças repentinas e sem motivos durante toda vida, Sophie finalmente tem esperança de ter um endereço fixo. Criar laços, fazer amizades e quem sabe até mesmo se apaixonar se tornam uma possibilidade. Porém, segredos de seu passado come...