Parou a moto alguns metros de distância, mas conseguia ver perfeitamente cada detalhe, a sua frente estavam dois grandes olhos cor de mel lhe observando. Eles pertenciam a uma mulher alta, com longos cabelos negros que iam até seu quadril. Seria apenas uma mulher estranha, se não fossem as duas belas asas brancas, que eram o dobro de seu tamanho, presas a suas costas. A mulher usava um vestido cinza que cobria todo seu corpo, e tinha em sua mão um arco dourado.
— Alice — a estranha falou com um sorriso de satisfação. — Finalmente te achei.
— Achou errado, meu nome é S...
Sem aviso Sophie a viu disparar rapidamente uma flecha em sua direção. Pega de surpresa onseguiu desviar por pouco, mas a seta passou de raspão em seu rosto a deixando com um corte na bochecha. Outra flecha, dessa vez como já estava em alerta, e com sua visão e reflexo aguçados, ela segurou o objeto no ar antes que ele a alcançasse.
— Sua merdinha. — a mulher gritou. — Isso é uma flecha celestial, como ousa?
Em resposta a garota lançou a flecha de volta com tanta força que ela atravessou o peito da caída, mas não lhe causou nenhum ferimento.
— Quem é você? — Sophie perguntou calmamente, depois de ter derrotado um duque do inferno, sentia-se muito confiante. — Me conte ou arranco essas suas asas com minhas próprias garras.
— Não é da sua conta, maldita. — A caída levantou voo e o bater de suas asas criou uma espécie de redemoinho que lançou Sophie para longe.
Os acontecimentos que seguiram foram rápidos, a caída atirou duas flechas seguidas em direção a Sophie, uma delas atravessou o braço da garota que estava caída no asfalto, e a outra ficou cravada em sua cocha direita. Antes que Sophie pudesse levantar, a caída a pegou pelo pescoço a erguendo no ar.
— Imagine o prestígio que terei quando acabar com sua vida. — Gargalhou
Os olhos de Sophie se fecharam, sentia o ar lhe faltar, suas mãos caçaram algo em que se apoiar e pousaram exatamente nas asas brancas, Sophie nunca havia tocado em algo tão suave e macio, por um instante se esqueceu que estava lutando por sua sobrevivência. Ela cravou suas garras nas costas da caída que a largou sendo pega de surpresa, isso fez com que Sophie caísse de costas no chão.
— Sua merdinha, só adiou por alguns segundos sua morte.
Os olhos de Sophie se abriram e estavam completamente negros, seus lábios formaram um sorriso frio, e sentiu um formigamento nas pontas dos dedos. A mesma aura negra de quando enfrentou Flauros a envolveu.
A caída voltou a atirar suas flechas, mas todas eram bloqueadas pela escuridão que envolvia Sophie formando uma barreira impenetrável.
— Isso não vai me impedir. — a mulher sorriu.
Então duas flecha foram em direção a Sophie envolvidas por um forte brilho e romperam a aura negra, porém a garota desviou tendo apenas um corte de raspão no antebraço. Em um rápido movimento a caída avançou chutando Sophie para longe, repetindo o movimento sem deixar que sua oponente tivesse tempo para levantar. A loira tentava bloquear os golpes, entretanto, seus conhecimentos em defesa pessoal não incluíam se defender de alguém que podia voar. Toda vez que tentava acertar a mulher, ela voava fazendo com que Sophie acertasse apenas o ar.
A caída voltou a pegar a garota pelo pescoço a erguendo enquanto batia suas asas, mas assim que alcançou uma certa altura Sophie deu um sorriso vitorioso a deixando confusa. A garota sabia o que precisava fazer para ter uma chance de vencer, e faria com toda certeza, não podia deixar passar essa oportunidade.
Estendendo sua aura negra ela envolveu sua agressora que arregalou os olhos espantada. As mãos de Sophie penetraram as costas da caída e as sombras se afinaram como se fossem duas enormes agulhas perfurando o ponto de onde as asas saiam, fazendo com que a mulher gritasse de dor e pavor.
— Eu te avisei. — Sophie tossiu antes de puxar suas garras trazendo junto carne, sangue e plumas brancas.
Puxou com tanta força que os cortes deixados iam da altura dos ombros até alguns centímetros acima das nádegas. As duas despencaram da altura de duas árvores, porém Sophie não chegou a tocar no chão, pois foi aparada pela sombra que a cercava. Examinou seus ferimentos e sorriu limpando as plumas banhadas de sangue que ficaram grudadas em suas mãos, então caminhou até a mulher que havia se arrastado e estava ajoelhada em choque olhando para as asas no chão.
— Você...— Ela gaguejou chorosa. — Como pode?
— Quem é você e por que estava tentando me matar? — Sophie a ergueu pelos cabelos. — E quem é Alice?
— Ele...Ele não vai te perdoar, nós estamos mais perto do que você imagina. Nós voltaremos a glória com a sua morte.
Sophie suspirou impaciente, seus olhos negros cintilavam com o desejo que percorria em seu corpo, mas estava lutando contra ele.
— Última chance. — Realmente desejava que a caída colaborasse, isso a ajudaria a não ceder.
— Vá para o inferno.
Novamente Sophie não soube como fez, mas a caída entrou em combustão bem na sua frente, imóvel, com os olhos arregalados, como se não acreditasse em seu próprio fim, virou cinzas.
Não restou nenhum sinal na rua de que tudo aquilo havia realmente acontecido. Se não fosse a seta atravessada em sua coxa, talvez nem mesmo Sophie acreditaria. Ficou se perguntando por qual motivo uma caída que tinha a bênção celestial queria tirar sua vida, ou melhor, a vida dessa tal Alice que por algum motivo pensou que era ela. Até agora acreditava que os celestiais deveriam ser os mocinhos da história. Esfregou os olhos tentando espantar a raiva que sentia. Um carro passou a trazendo de volta para a realidade, e agradeceu a conveniência de não ter sido a alguns momentos antes.
Tirou a flecha de sua coxa e cortou a barra da blusa para amarrar e conter o sangramento. Após o procedimento guardou a seta na bolsa para mostrar quando contasse o acontecido.
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Marcas em Sangue [Em Revisão]
FantasíaApós várias mudanças repentinas e sem motivos durante toda vida, Sophie finalmente tem esperança de ter um endereço fixo. Criar laços, fazer amizades e quem sabe até mesmo se apaixonar se tornam uma possibilidade. Porém, segredos de seu passado come...