Capítulo 11 - Hunter (parte 4)

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Sophie conseguiu quebrar as grades da jaula, mesmo usando uma aura maligna como auxílio para anular os efeitos do material infernal, ela ainda teve ferimentos nas mãos. Por isso não as usou ao quebrar as correntes, fez isso moldando suas sombras.

— Por que você não usou seu lado infernal para sair daqui? — ela quis saber enquanto o soltava.

— Isolei esse meu lado, para usar os poderes de Lucifer, eu preciso liberar, estava fazendo isso quando vocês chegaram.

— Sabe o que eu descobri? — A garota o apoiou para seu corpo fraco não despencar no chão. — Nossos poderes não nos definem, você pode dar tudo que tem, é só ficar sempre no controle.

— Estefan realmente não faz ideia do quanto você é poderosa. — Hunter sorriu.

— Você ainda não terminou a história. — Luke os interrompeu simulando uma tosse.

— Antes que continue, tenho uma pergunta. — A garota subiu as escadas e colocou Hunter sentado no sofá. — Você já conhecia meus pais aditivos?

— Sim

— Desde quando?

— Eles eram servos de Estefan, por isso te criaram, foi uma ordem dele. — O garoto revelou com cautela.

— Eles não me adotaram, mais uma mentira de Estefan. — Sophie respirou fundo para conter a raiva.

— Percebi que ele tem feito muito isso, ele mudou. Mas em relação aos seus pais adotivos, eles podem não ter escolhido isso, mas eles te amam, isso é muito notável.

— Não importa mais, continue a história, você disse que Sarah foi seu primeiro amor, mas conheceu minha mãe antes. — Neste momento Luke veio da cozinha trazendo algumas frutas.

— Conheci sua mãe, fiquei impressionado, admirado, mas não me apaixonei por ela. — Ele dizia entre uma mordida e outra. — Foi Sarah quem me o que era se apaixonar, ela me ensinou a amar. E foi quando ela morreu que conheci o ódio.

“Eu me recusei a seguir Estefan, eu queria acabar com os servos de Lucifer, mas o maldito estava certo, eu não estava preparado para isso, apenas meu ódio não seria suficiente, se ele não ficasse me seguindo o tempo inteiro como um maldito anjo da guarda, minha eternidade teria acabado a muito tempo.

Depois de ter minha vida salva por ele mais vezes do que posso contar, aceitei seu treinamento. Foi quando encontrei novamente com Raziel, eles eram o que podemos chamar “favoritos de Deus”, além de sua mãe e do nosso querido professor de história, estavam também Deborah, Alexandre, Clarice, Rute e Joseph. Esses últimos são os pais de Scarlet.

Eles me ensinaram muito, inclusive a controlar meus sentimentos, eu ainda sentia tudo, mas não deixava isso me dominar.

Mas sua mãe, começou a sentir curiosidade sobre os sentimentos mundanos, ela sempre me cercava queria que eu a ensinasse sobre eles, logo eu ensinando alguma coisa. Tentei fugir disso de todas as maneiras, imaginem se eu corrompesse a primeira caída que recusou as asas de Lucifer e abriu as portas para que Deus pudesse ter os anjos caídos ao seu lado.

Esse seria com certeza o fim de qualquer chance que pudesse ter de me redimir com “O cara”. Depois de mais um longo e exaustivo treinamento, estava me banhando em um riacho, Raziel não conhecia a vergonha, mas nasci aqui, então fiquei desconcertado ao perceber que ela me observava.

Me escondi sob a água, porém, ela se despiu fazendo com que eu esquecesse como se faz para respirar, ela entrou na água e se aproximou. Meu coração estava acelerado, tenho mais controle, porém, meu corpo funciona exatamente como o corpo de um mortal, e estava respondendo como devia.”

— Pode parando. — Sophie se levantou erguendo as mãos no ar. — Não quero saber sobre seus momentos íntimos com minha mãe, então por favor, pule essa parte.

— Certo, me desculpe, esqueci que você e seu namoradinho devem estar enlouquecidos com as proibições do altíssimo. — Hunter zombou.

— Não é nada disso, seu estúpido, Raziel é minha mãe.

— Que você não conhecia até alguns dias atrás, então não é isso que te incomoda. — Ele sorriu de maneira maliciosa. — Mas tudo bem, não entrarei em detalhes.

“Começamos a manter relações, e nos tornamos cúmplices, nenhum dos outros sabiam do que acontecia entre nós. Meu relacionamento com Raziel foi completamente diferente do que vivi com Sarah que foi intenso e rápido. Este era calmo e foi crescendo com o tempo. Construímos algo sólido e forte até que Nathanael apareceu com seu plano de ceifar almas para seu pai.

Deus recrutou a todos os caídos que lhe serviam, inclusive a mim. Nos disfarçamos entre os mundanos, foi um momento sombrio para todos, mas eu estava um tanto extasiado apenas por Ele ter mencionado meu nome, então quis mostrar serviço, matei tantos caídos quanto pude, e isso me deixou feliz, eu não tinha essa ligação celestial que eles tinham de antes da queda, foi bem fácil pra mim.

Já para Raziel isso foi destrutivo, e ela não pôde entender minha satisfação no dever bem cumprido, ela não conseguia chegar perto de mim, precisava se isolar, e então se afastou de tudo e todos. Busquei por ela inutilmente por muitos anos, décadas. Até que um dia, dezoito anos atrás, me procurou pedindo ajuda, com você nos braços ainda recém nascida.

Todos lhe viraram as costas, porém, ela precisava de proteção, havia perdido seus poderes, Nathanael também, já que Lucifer o deserdou quando ele o traiu lara ficar com Raziel. Fiquei destruído, mas não pude virar as costas a ela, então eu os protegi.

Eu via você crescer feliz junto aos dois, e eu morria aos poucos cada vez mais. Então, na noite em que eles morreram eu havia ouvido boatos de uma horda de caídos se reunindo para atacar, então resolvi interceptar. Acontece que não eram apenas infernais, os dois lados estavam unidos para matar você. Levei uma boa surra, não seria capaz de acabar com eles sozinho, então fugi e voltei para a casa onde estávamos escondidos, lá encontrei Nathanael morto, me desesperei e saí atrás de você e sua mãe.

Encontrei vocês em um beco, você estava coberta de sangue, tremendo sob a chuva violenta que caía aquela noite, o corpo de Raziel a sua frente coberto por uma forte luz que se apagou quando me aproximei, era como se ela estivesse te protegendo até minha chegada.”

— Então você não sabe quem os matou? — Sophie quis saber, sua respiração estava acelerada e tinha os olhos úmidos.

— Ainda não, me desculpe. — A voz de Hunter estava carregada de dor.

— Eles são todos desgraçados mentirosos. — Ela xingou enquanto chutava longe a mesinha de centro. — Mas eu não entendo por que me esconderam tudo isso.

— Acho que Estefan temia que você ficasse contra os caídos se descobrisse que foram eles que mataram seus pais.

— E ele achou o que? Que eu sairia por aí matando todos os caídos?

— Sinceramente, eu já nem te julgaria mais. — Os dois riram.

— Temos que voltar ao baile. — Luke voltou a interrompe-los. — Por acaso você conhece esse símbolo? — Ele tirou do bolso um papel com o símbolo que estavam pesquisando.

— Sim, são de uns malucos que exaltam Nathuriel. — Hunter revisou os olhos. — Até então eram só mundanos sem mais o que fazer, mas descobri recentemente que alguns caídos entraram nessa, acho que a professora Bethy faz parte.

— E Estefan deixa ela dar aulas em Sant'Angelin? — Luke perguntou chocado.

— Ele está focado nas coisas erradas, deixando o que importa passar, eu te procurei para contar tudo, você estava sentada na calçada em frente a casa desse cara. — Ele apontou Luke que ergueu a sobrancelha. — Tentava fazer fogo, não pude conter a risada. Mas aqueles idiotas chegaram e Clarice me surpreendeu, ela e Estefan me prenderam aqui.

— Acho que você tem tantos motivos quanto eu para querer ir até o baile. — Sophie lhe deu um sorriso sombrio.

Marcas em Sangue   [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora