A professora de biologia está falando pelos cotovelos à frente de nossa sala, passando uma sessão cansativa de slides sobre a anatomia de uma minhoca. Ninguém de minha turma parece estar realmente interessado no que ela está dizendo, Sabrina por exemplo, escondeu o celular dentro da mochila para manter as fofocas em dia com sabe-se-lá-quem.Jackson está acomodado no chão ao lado de minha carteira, concentrado na aula que todos nós, alunos vivos, estamos evitando. Eu não sei como ele consegue ouvir tudo sem sentir sono, é como se este cara levasse biologia muito à sério, quase como se fosse seu hobby.
Há um caderno de desenho muito bem guardado no interior de minha mochila, eu o pego sem chamar atenção alheia e começo a fazer alguns rabiscos sem formas em uma de suas folhas vazias. Quando estou muito entediada, acabo fazendo alguns desenhos dos membros do NCT para me reanimar, mas desta vez, o desânimo é tão grande que mal consigo me lembrar qual deles é o meu bias.
— Você devia prestar mais atenção na aula — Jackson resmunga, a caminho do refeitório depois de passarmos por duas longas horas trancados em uma aula cheia de slides de minhocas.
— Odeio biologia — murmuro baixinho para ele, evitando que qualquer pessoa normal nos ouça, ou melhor, me ouça.
— Estranho — ele dá de ombros — Eu gosto de Biologia. Parece que eu me perco na matéria e o tempo passa mais rápido.
Reviro os olhos disfarçadamente, sentindo que esse fantasma ao meu lado está todo errado.
— E se eu gostava de Biologia? — ele para de andar e, para a minha surpresa, uma força do além faz com que eu pare também, quase me levando a um tombo digno de prêmio de mico do ano.
— Como assim? — sussurro, olhando ao redor para me certificar de que não estamos sendo observados.
— Eu gosto de Biologia, e minha aparência é a de alguém que está na faculdade, então... — ele se aproxima demais de mim, quase fazendo com que nossos lábios se toquem, ao que me afasto dele, tentando ficar o mais distante possível dessa possibilidade sobrenatural.
— É melhor deixarmos esse assinto para outra hora — solto, cortando esse ar esquisito que passou por nós.
Ele balança a cabeça de maneira afirmativa e começa a andar, automaticamente ligando o funcionamento das minhas pernas. Desde quando ele comanda os meus movimentos?
— Rafa! — ouço uma voz me chamar, causando um turbilhão de borboletinhas sapecas em meu estômago.
Sehun está se aproximando de mim pelo corredor, um sorriso de fazer minhas pernas bambearem está estampado em seu rosto.
— Eu estava te procurando no refeitório, mas você ainda não tinha chegado...
— Está tudo bem — eu corto sua frase pela metade — Eu me distraí com uma coisa aleatória.
Jackson me lança um olhar de revolta, como se eu o tivesse transformado em um nada do tamanho do universo.
— Que bom que não estava ocupada — Sehun segura em minha mão de repente, levando meu coração aos céus — Podemos sair hoje à noite?
— Hein? — deixo escapar de minha boca.
— Se não estiver interessada, tudo bem. Eu só queria te conhecer melhor, a propósito eu paguei por esse encontro.
Balanço a cabeça com tanta veemência que ele seria louco se não entendesse que sempre quis sair com ele, afinal de contas, não é todo dia que alguém tão digno quanto Sehun sai por aí convidando uma garota como eu para um encontro.
Ele segura em minha mão outra vez e, para a minha surpresa, Jackson desaparece, mas antes que eu possa focar meus pensamentos nesse acontecimento, meu crush tira minha atenção outra vez.
— Você estava desenhando dentro de sala, não é?
Meu coração vem à boca. Oh Sehun estava me vigiando durante à aula. Será que isto é um sinal?
— Estava — murmuro, sentindo-me envergonhada por não ter feito algo realmente produtivo durante o falatório da professora de Biologia.
— Eu odeio Biologia — ele diz, comprovando que é a minha metade da laranja — Posso ver seu desenho?
— Claro.
Abro minha mochila e, sem pensar duas vezes, retiro meu caderno de desenhos de dentro dela, já aberto na página em que estava rabiscando durante a aula.
A expressão de Sehun ao ver meu desenho muda de um sorriso amigável, para total surpresa e, automaticamente, aproximo-me dele para ver o que eu desenhei de tão bizarro que lhe fez ficar com tal cara.
— De onde tirou inspiração para fazer esse desenho? — ele pergunta para mim, cheio de curiosidade.
Mas eu não sei o que responder a ele, pois como irei explicá-lo que desenhei alguém que já está morto e que me acompanha por todos os lados?
— Eu não sei — minto, olhando mais uma vez para o desenho perfeito que fiz de Jackson sem nem mesmo perceber.
— Ah, sim — Sehun sorri torto para mim — De repente pensei que fosse alguém que eu conheço.
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Um Espírito Pervertido
HumorUma noite tempestuosa e dois amigos medrosos bancando os corajosos, a combinação perfeita para deixar Rafa completamente maluca. Entretanto, graças a uma ideia maluca de seu amigo, Harry, a garota acaba sendo obrigada a andar para baixo e para c...