⚘. onze

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— Jackson, você está aí? — sussurro, tentando ser discreta enquanto o procuro pelos corredores da escola.

Desde que o toque de Sehun fez com que ele desaparecesse, não o consigo ver em qualquer lugar que seja.

Talvez Yoongi tivesse razão. Em um determinado momento ele iria desaparecer e tudo se resolveria.

Eu me sinto mal por não ter ajudado ele enquanto esteve comigo, pois realmente queria lhe dar uma mão com os seus assuntos do outro lado da vida.

— Procurando algo? — ouço alguém dizer atrás de mim.

De um sobressalto, viro-me com os olhos arregalados, dando de cara com o garoto médium a chupar um pirulito.

— Você estava certo — resmungo, começando a me sentir derrotada — Ele sumiu.

Yoongi torce o lábio e aponta o pirulito amarelo na minha direção.

— Ainda não é hora de ele sumir.

— Eu não o vejo mais — dou de ombros — Eu estava falando com Sehun e ele desapareceu!

O médium revira os olhos, tornando de mim, uma garota sonsa e muito mal posicionada na sociedade.

— Não é porque você não o vê, que ele desapareceu — ele sacode a cabeça negativamente — Jackson está do seu lado neste momento, e não se preocupe, ele precisa de um incentivo para voltar a aparecer para você.

Olho ao redor, em busca de algum sinal fantasmagórico ou algo do tipo, qualquer coisa que me leve a acreditar que Jackson está ao meu lado neste momento, porém a única coisa que vejo é o mais absoluto nada — exceto pelas paredes do corredor e a presença ilustre de um novato que vê espíritos.

— Vou dar uma festa na sexta — o médium sorri amigavelmente para mim — Está convidada.

Yoongi me deixa sozinha, caminhando pelo corredor despreocupadamente enquanto saboreia seu pirulito.

— Eu quero te ver — solto baixinho — Nunca pensei que fosse dizer isso.

Seja lá como for, eu realmente espero que ele esteja me ouvindo e que eu possa descobrir como fazê-lo ficar visível outra vez. Me apeguei a esse espírito muito mais do que eu poderia imaginar.

Não irei conseguir prestar atenção à aula de Química, e sei muito bem que só o faria se Jackson estivesse disponível para um bate papo espiritual durante o horário.

Cabular aula se tornou parte de meu vocabulário neste momento e, se Sehun aparecesse para me levar para longe daqui, eu iria sem pensar duas vezes.

— Vai faltar também?

É como um pedido realizado pela estrela cadente. Sehun sorri para mim, sua mochila nas costas, pronto para fugir e, ao mesmo tempo, salvar-me das garras do professor de Química.

— Eu odeio essa aula — murmuro, tentando evitar com que eu pareça uma idiota.

Ele me estende a mão direita e, ainda sorrindo, oferece a mim uma chance de ser feliz e livre: — Vem comigo.

Sehun não parece ser o cara mau que minha mente idealizara antes de eu conhecê-lo. Houve um tempo em que acreditei que ele se sentia melhor que todo mundo por ser o mais popular da escola, o verdadeiro centro das atenções, mas aparentemente, é só outro jovem comum e despreocupado, independente da posição que lhe elegeram na escola.

— O que você quer fazer? — me questiona, como se estivesse disposto a cumprir todos os meus desejos durante essa fuga.

Mesmo sabendo que os meus pais irão ficar irritados quando souberem que faltei a aula, estou literalmente afim de curtir um dia com este cara fazendo basicamente nada.

Só de saber que ele quer fugir comigo, sinto-me realizada.

— Eu faria qualquer coisa só para não ter que assistir à aula de Química.

Ele morde o lábio inferior e, automaticamente, sinto o meu rosto esquentar.

— Ok. Podemos ter o nosso encontro?

Assinto em resposta, com medo de abrir a boca e falar alguma asneira que possa estragar o momento.

Talvez o desaparecimento de Jackson tenha vindo na hora certa, para que eu não ficasse presa a ele enquanto estivesse vivendo normalmente a minha vidinha ao lado de Sehun.

— Você parece mais calma.

Dou de ombros, durante o nosso trajeto escola-estacionamento. Sehun ainda é menor de idade, mas seus pais foram generosos e lhe deram um carro, mesmo com o fato de ele ser um jovem sem direito à habilitação.

— Pareço?

— Antes, mais cedo, parecia que você estava presa a algo, mas agora... parece que está mais calma.

— Ah — exclamo — Eu vivo presa à coisas do passado.

Ele sorri satisfatoriamente e, assim que encontramos seu carro amarelo intensamente chamativo, ele abre a porta do passageiro para mim.

— Espero que goste do que faremos hoje — ele sorri maliciosamente para mim e, por algum motivo, a sensação de que este sorriso não representa algo do bem me atinge.

— Ah... Eu também espero.

— Relaxa.

Enquanto ele dirige, flagro a mim mesma pensando em coisas fúteis que poderiam acontecer durante essa fuga mal planejada. Por mais que eu goste dele e que o veja como a Terra girando em torno do Sol o pressentimento de que algo péssimo irá acontecer não me abandona nem um segundo sequer. É então que sua mão direita pousa sobre minha coxa e, disfarçadamente, eu a afasto, como se não quisesse parecer grossa ou dar a entender que não gosto dele.

— O que foi? — ele pergunta, como se não acreditasse no que acabei de fazer — Acho que não há nada de errado nisso, afinal, somos jovens e estamos solteiros.

Ele freia o carro, e só agora a burra aqui percebe que estamos numa estrada completamente vazia, localizada a cerca de um quilômetro do lugar em que moro.

— Ao meu ponto de vista não está tão certo assim — digo, evitando bancar a grossa para que as coisas não piorem e, ao mesmo tempo, rezando para que algo me tire daqui sã e salva.

— Rafa... pensei que gostasse de mim.

Reviro os olhos para ele, começando a ficar nervosa diante desta situação desconfortável.

— É — solto — Eu também pensava isso.

Ele avança na minha direção, imprensando-me contra a porta do passageiro, como se fosse me beijar à força e, neste momento, um anjo, ou melhor, um espírito, aparece para me salvar.

Para Sehun, não há ninguém conosco, entretanto, eu o vejo, louco de raiva, a abrir a porta do banco do motorista e jogar o meu atual ex-crush para fora do carro, fazendo com que ele caia a metros de distância do veículo.

— Mas que droga! — Sehun grita, tentando ficar de pé — O que foi que você fez?

Jackson caminha até ele e, totalmente possesso, o agride de todas as formas possíveis, deixando inúmeros hematomas em seu rosto.

— Chega! — alguém grita, fazendo meu amigo fantasma parar.

Yoongi estaciona seu fusca cor de abacate no meio da estrada e corre na direção do carro de Sehun, vindo ao meu encontro para ver se estou bem.

Mas é óbvio que estou.

Estou completamente bem, porque Jackson me salvou.

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Um Espírito Pervertido Onde histórias criam vida. Descubra agora