⚘. dezessete

2K 242 40
                                    

Jackson

Meus pais podem estar meio obcecados com a ideia de que posso estar prestes a morrer e por causa dessa maluquice toda, eles obrigam o doutor Silva a me abrigar em sua casa até que se tenha certeza absoluta de que eu estou bem.

O médico não parece gostar muito da ideia, mas ele concorda relutantemente, uma vez que a profissão que decidira seguir envolve tolerar casais malucos que acham que seu filho vai morrer a qualquer momento — mesmo que esse tenha conseguido escapar de um coma sem nenhum dano colateral.

Quando entramos na residência do doutor, sinto como se já estivesse estado nesse lugar antes, desde o sofá de couro bege às paredes cinzentas, tudo me parece estranhamente familiar.

— Com licença — solto, chamando a atenção dos meus pais e do médico — Eu não sei se posso ter perdido a memória, então... eu estive aqui?

O doutor Silva ergue as sobrancelhas, sem saber se me chama de doido ou se me diz a resposta correta para a minha questão.

— Não, querido — mamãe murmura calmamente — Você nunca veio a casa do Dr. Silva.

Entorto os lábios e me sento devagar no sofá de couro, tentando fingir que também tenho medo de morrer a qualquer instante. Os meus pais devem estar pensando que sou feito de um vidro muito barato, ou então confiariam na minha saúde de ferro.

De frente para o sofá, há uma estante mogno grandiosa, onde foi colocada a tela plana gigantesca, alguns livros da faculdade do Dr. Silva e vários porta-retratos com fotos de uma garotinha de cabelos escuros e pele acastanhada.

Tombo a cabeça para o lado e semicerro os olhos, tentando lembrar se já vi essa garota em algum lugar.

Essa sensação...

— Papai? — ouço uma voz feminina e possivelmente muito jovem dizer.

A garota estampada nas fotos entra na casa do médico, ela deixa os sapatos ao lado da porta e entra completamente descalça. Seus olhos exalam preocupação, como se ela tivesse perdido algo muito importante, como um presente que lhe era profundamente significativo na infância.

O dr. Silva reaparece na sala de estar, acompanhado pelos meus pais e, só então percebo que eles não estavam dividindo o mesmo cômodo que eu.

— Rafa, o que faz aqui? — o médico pergunta à garota.

Assim que a garota sai da porta de entrada, um rapaz entra logo atrás dela. Pela forma que ele se posiciona ao seu lado, posso julgar que ele é seu namorado e, para o meu incômodo, esse cara também não é me estranho.

— Decidi vir para casa depois que não te encontrei no hospital — ela responde calmamente.

É então que tanto ela quanto o namorado dela me vêem, e ambos ficam boquiabertos ao fazê-lo.

— Meu Deus, é ele! — ela solta, levando um beliscão do namorado nas costas.

Controlo a minha vontade de rir dessa cena, todos os caras na região morrem de medo de perder suas namoradas por minha causa e isso sempre foi um fato.

A forma como ela olha para mim não é como se ela estivesse surpresa por eu ser tão bonito, mas sim como se não esperasse me encontrar aqui e, principalmente, vivo.

— Muito prazer, meu nome é Jackson Wang — digo ao casalzinho.

A filha do médico fecha a boca de repente, como se tivesse levado um soco ou como se eu a estivesse xingando dos piores nomes possíveis.

— Meu nome é... Rafaella.

Em algum lugar no meu subconsciente esse nome me causa uma espécie de choque, entretanto, não faço a mínima ideia do porquê disso.

Balanço a cabeça positivamente para ela e aceno de maneira educada para o seu namorado, que ainda não sabe se me cumprimenta ou se quer me bater.

⚘⚘

Um Espírito Pervertido Onde histórias criam vida. Descubra agora