Dezenove

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Acordei com um barulho alto vindo do andar de baixo. Me levanto num pulo e com dificuldade desço as escadas.

— Mãe! — corro para a cozinha de onde ouço mais um barulho de algo quebrando.

Ao abrir a porta dou de cara com minha mãe com uma faca apontada para meu pai.

— mãe... O que você está fazendo? — tento falar com a voz mais calma possível, tentando chamar sua atenção.

Ela não me responde, seus olhos vermelhos estão vidrados em meu pai, que pela a primeira vez em toda minha vida o vejo com um olhar assustado.

Me aproximo devagar, ficando entre eles.

— Mãe... Abaixe a faca...

— Não! Eu não aguento mais. — ela diz cerrando os dentes. — eu não aguento mais, esse vagabundo me tratando como se eu fosse nada! — ela grita. O que faz um arrepio gelado passar pela minha espinha até minha nuca.

— Mãe. Eu estou aqui... A gente pode resolver isso. — eu aproximo minha mão, para tentar tirar a faca dela, mas ao perceber o que estou fazendo ela levanta seus braços e desvia de mim.

— O que você está fazendo? Saia da frente Charlotte. O meu negócio é entre eu e seu pai. Você não tem nada a ver com isso. — ela continua apontando a faca para ele, com um olhar sombrio.

— Eu não vou sair. — lágrimas começam a rolar pelo meu rosto.

— Filha... Saia da minha frente.

— Não.

— você está do lado dele agora?

— Não! Claro que não.

— Então o que você está fazendo?

— Eu só não quero que ninguém se machuque.

— Diga isso a ele. — ela cerra mais ainda seus dentes. — Que me agrade sempre que lhe dá vontade. — ela respira fundo — eu não aguento mais isso.

— Mãe! Nós podemos sair dessa. Eu prometo.

Eu me aproximo mais e quando eu consigo tirar a faca de minha mãe, meu pai avança em cima dela.

Ele dá um tapa em seu rosto, minha mãe grita, em seguida ele dá mais uma surra em seu maxilar.

— PARE! — eu pulo em seu pescoço o sufocando. Mas parece que nada adianta, ele pressiona o rosto de minha mãe no chão com força. Eu coloco mais força em meu braço.

Ele tenta me puxar pelos cabelos, mas eu puxo mais ainda seu corpo para trás.

Quando o vejo cair em cima de mim eu o largo. Saio de baixo dele e olho para minha mãe.

Minhas mãos tremem, meu corpo todo. Eu não consigo ter controle só vejo minha mãe imóvel no chão.

A levanto e puxo ela para um abraço.

Ficamos assim por um tempo, até que eu sem pensar duas vezes ligo para polícia.

[...]

Depois de minha mãe fazer a queixa eu a deixo em casa e vou para a faculdade.

Mesmo com o dia começando com o pé esquerdo, não deixo de cumprir com minhas responsabilidades.

Vou em direção a minha sala e vejo Ethan e Jimmy conversando.

— oi Charlotte! — Jimmy diz passando o braço por cima de meus ombros, eu retribuo o abraço.

— e aí! — cumprimento Ethan com um toque de mão.

— o que é essa cara de tristeza? — Jimmy pergunta me apertando

— Não foi nada. Só acordei com preguiça. — minto.

Eles me guiam até nossa aula. Me sento na frente,enquanto Jimmy senta atrás de mim e Ethan senta na minha diagonal. Depois do primeiro toque para dar início à primeira aula uma pessoa entra.

— Desculpe professor! — eu só ouço a voz, enquanto arrumo meu material em cima da minha mesa. Até que ouço o nome do indivíduo.

— Bruce, já é a terceira vez essa semana. Você sabe que eu gosto de você garoto, essas aulas são importantes para o seu futuro. — sem ter controle, eu olho diretamente para me certificar de que se trata dele mesmo.

— Eu entendo. Não vai mais se repetir. — ele diz olhando para o professor. Mas após sentir meus olhos Bruce olha para mim, vejo um brilho passar por eles, o que causa um arrepio em minhas pernas.

— sente-se. — o professor diz apontando para a cadeira ao meu lado. Bruce só afirma fazendo um sinal com a cabeça, sem tirar os olhos de mim.

Isso só pode ser uma piada!

Quando ele se acomoda ao meu lado, meu desconforto cresce. Respiro fundo para tentar não demostrar o que sua proximidade me causa. Mas tenho certeza que vou falhar miseravelmente.

Quando o professor de patologia da iniciativa a aula, tento concentrar minha atenção na aula, mas eu não consigo. Posso sentir os olhos de Bruce em mim. Me perfurando.

Talvez eu esteja alucinando, ele deve está tão indiferente, quanto uma pedra se estivesse ao seu lado.

Mas eu não consigo me controlar. Agito tanto a caneta em minha mão que ela cai. Me  inclino para pega-la mas Bruce é mais rápido que eu e por cerca de segundos nossas mãos se tocam. Me causando choques na região ao toque.

Nosso olhares de encontram novamente. Ele coloca a caneta em cima de minha mesa e eu agradeço sem olhar em seus olhos.

Quando o toque que dá início à segunda aula toca, eu o percebo olhando para mim. Então para tentar me distrair, olho para Jimmy do meu lado.

Faço sinal com os olhos, para dizer sobre a pessoa ao meu lado. Ele percebe e ri.

Então Jimmy passa os braços em volta do meu pescoço e me puxa para perto dele. Eu reclamo do susto, mas quando meu rosto se aproxima de seu pescoço ele sussurra.

— Fica tranquila, ele não vai te morder, eu te protejo. — eu me afasto para olhar em seus olhos e ele pisca para mim, me arrancando um riso abafado.

— Boa tarde alunos! — a professora entra, dando início a segunda aula.

Nesse momento eu me esqueço do rapaz ao meu lado e consigo ter uma aula bem produtiva. Mas toda minha animação acaba quando a professora anuncia um trabalho que teremos que fazer em grupo.

E para melhorar meu azar. Ela escolhe as pessoas.

— olha só! Que sorte! — Jimmy diz e me cutuca.

— Vá se ferrar! — Bufo.

Ethan se aproxima e diz

— Vamos nos encontrar na casa de quem? — Jimmy abre a boca mas antes que alguma palavra saia de sua boca, uma voz atrás de nós nos chama atenção.

— Na minha! — Bruce diz sorridente e quando eu me viro para encarar seu rosto, ele arqueia a sobrancelha. Reviro meus olhos e recolho minhas coisas, para sair dali antes que eu dê um soco em seu rostinho bonito.

Minha vida só pode está sendo manuseada pelo diabo.

Amor Que HabitaOnde histórias criam vida. Descubra agora