17.

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      Sonhar é realmente uma dádiva para Alícia, já que sua realidade corresponde a um pesadelo, capaz de colocar medo em qualquer filho de Deus. 

Pressa em uma ilha desconhecida, com pessoas responsáveis pela destruição de seu reino. Sequestrada pelo filho de Ragnar Lothbrok, o homem que iniciou a expedição de massacre aos cristãos de seu país. Ninguém a avisou que viveria entre estes seres, e pouco menos que eles seriam tão casuais. 

O loiro de olhar esmeralda, conversava com mais uma empregada que, provavelmente não era sua, a pedindo - ou melhor, implorando - que ensinasse a sua mais nova servidora as tarefas básicas de uma dona de casa. 

- Por favor, Aud, apenas o básico, ela aprende mais rápido que qualquer um aqui. - tornou a persuadi-la, mas a jovem atarefada pouco ouvia os pedidos do rapaz. Ela tinha muito o que fazer ao trabalhar no salão principal, coisas para limpar, banquete para preparar, não poderia perder seu tempo em ensinar algo para uma novata. 

- Peça a Margrette, esposa de Ubbe, ela já foi uma escrava, mas depois de se tornar uma mulher livre e casada com um dos príncipes de Kattegat, ela não tem muito o que fazer, talvez ela o possa ajudar. - Aud disse ao se distanciar do rapaz, que já se encontrava sem alternativas.

Com Alícia presa em sua casa, Hvitserk voltou a cidade litorânea em buscar de alguém que pudesse treinar sua aprendiz, mesmo que, não fosse realmente precisar de uma escrava discípula, como disse a antes. Foi então que decidiu que ele mesmo iria fazer seu trinamento.

Em casa, a princesa Alícia ficou encarregada de limpar a bagunça causada por Hvitserk e seu irmão mais velho Björn, que a mesma não conhecia, mas já sabia que o rapaz era portador de uma força descomunal, visto que praticamente nada havia ficado em seu lugar de origem após sua passagem.

Hvitserk havia deixado muitas tarefas para a garota que nada conhecia sobre deveres do lar. Como filha caçula, Alícia sempre fora a criança do castelo, e isso se aplicava em todas as atividades que a garota fazia. Fosse arte, esporte ou até mesmo deveres de escrita e comando, mas nunca, jamais ela aprendeu sobre como arrumar sua cama, ou limpar os seus pratos e roupas. Ela nem ao menos havia pensando sequer uma vez em como iam e vinham suas coisas, claro que trazidas por escravos e empregados, mas.. onde eles o conseguiam, e como faziam.. Aquilo era complicado e cansativo. Certamente uma princesa não foi feita para trabalhar.

Os dois cachorros de guarda da casa de Hvitserk começaram a latir incessavelmente, mas pararam quando uma voz conhecida se aproximou, conversando com os animais, logo em seguida entrando na - ainda imunda e desarrumada - casa. No entanto, não era o dono da casa, e sim o irmão dele.

Ivar.

O rapaz vinha mancando, embora em seu rosto não expressasse sinal de dor ou agonia, e ao se aproximar, Alícia notou algo que ainda não havia visto. Tranças no cabelo, como Hvitserk, só que em Ivar, eram bem menores e seu cabelo era escuro. Os irmãos não eram nada parecidos.

Alícia lembrou que, no dia em que foi ao grande salão com Floki e Hvitserk, lembrou que Ivar também estava lá, e discutiu com seu irmão, embora ela não soubesse o que se tratava.

- Ora, vejam só, - o rapaz fez uma careta ao observar Alícia e notar a ausência de seu irmão mais velho. - Se não é a cristã, filha de Aelle... Que Deus o tenha - ironizou com um sorriso amedrontador, assustando Alícia, fazendo a menina recuar alguns passos.

           Ivar caminhou, em passos barulhentos até a garota, que recuava simultaneamente enquanto a sombra da silhueta do rapaz cobria quase que totalmente a figura menor, que era Alícia. Ela, porém, não teve medo, atrevendo-se a manter o olhar nos olhos do rapaz, que se perguntava o que diabos ela estava fazendo. 

       A garota quis perguntar o que ele queria, e desejava saber porque ele tentava ser tão ameaçador, se era apenas um jovem, como ela. Ivar continuava com seu rosto sem expressões, tentando adivinhar o que ela pensava, já seu rosto mostrava alguém completamente diferente da pessoa que era dois dias atrás. 

- O que está fazendo? - perguntaram ao mesmo tempo e Ivar balançou sua cabeça, pensando ter ouvido errado. 

- Não faça isso! - o rapaz se exaltou, revoltado com a garota, que não havia feito nada, além de questionar. 

- Fazer o que? - A menina cruzou os seus braços, vendo um tom encarnado preencher as bochechas do rapaz, enquanto suas sobrancelhas quase juntas mostravam o quão raivoso ele estava. 

- Não fique assim! - após suas palavras, Alícia descruzou os braços e ficou ereta, pensado que aquilo o poderia acalmá-lo, mas Ivar encarou sua obediência como ironia, e voltou a se aproximar da garota, agora, com sua mão em seu machado, preso em sua cintura.

- Como devo ficar? - a atrevida Alícia questionou, fazendo Ivar para de andar quase que automaticamente. 

O rapaz não soube responder, muito menos o que fazer. Seus olhos curiosos rodeavam os da garota como se procurasse entender o que estava acontecendo. Mesmo assim, tão próximos, ele não sabia como se expressar, já que gostaria de saber o por que de Alícia não manifestava o medo que havia mostrado anteriormente. A garota simpática apenas sorriu e saiu da frente do rapaz, tornando a arrumação do lar de Hvitserk. 

A menina apenas ignorou, parcialmente a presença do jovem que a seguia com o olhar para todos os lugares, ainda questionando algumas ações confusas da garota que não sabia muito bem como limpar tudo. Ele a achou engraçada, e por um momento esqueceu seus parentesco e esqueceu o quanto odiava sua religião.


Qualquer erro ortográfico será reparado.

VIKING ODIN'S BLOODOnde histórias criam vida. Descubra agora