08.

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            O vento soprou ao seu máximo, as temperaturas congelaram e suas únicas refeições foram quando estava a beira de um desmaio. Sua boca seca e olhos fundos foram as consequências de passar quase um mês em alto mar, urinando em sua própria roupa, aguentando o forte odor de alguns homens com membros a apodrecer e outros já mortos que eram arremessados ao mar dias depois quando alguém finalmente notava seu falecimento. Nunca uma princesa sofreu tanto em sua vida e mesmo assim ainda teve o azar de sobreviver a tempo de chegar em uma nublada península, onde mais a fundo veria mais como aqueles com quem navegou por semanas. De fato, pensava nunca mais conseguir poder falar em sua vida, havia perdido totalmente suas esperanças e sabia que jamais sobreviveria ali mais de um dia ou dois.

           Os pés maltratados que chegaram para fora do barco mal conseguiam caminhar, seus braços ainda amarrados e as fortes marcas nos pulsos causados pelo aperto que poucas vezes fora desfeito enquanto esteve a deriva. Os poucos Northumbrianos que sobreviveram foram enfileirados sob uma pequena barraca. Mulheres, homens, crianças e idosos brigavam para conseguirem comprar o mais forte e aparente saudável homem, enquanto as mulheres como ela eram examinadas para ver como estavam suas condições. Uma pequena garotinha foi posta ao seu lado e então a culpa a afetou. A menina tinha cortes no rosto e braços, o cabelo foi cortado igual a de um menino e suas unhas sangravam, obviamente por ela as ter comido até o fim quando mais teve fome. Uma senhora a examinava e logo gritou algo a um mercador que recebeu alguma coisa e logo soltou a criança e a fez segurar a mão da senhora. Outra mulher, uma mais bem vestida com peles tingidas em volta do pescoço parou um segundo a sua frente, tamanha beleza a fez olhar para o chão, mas a mulher ergueu seu rosto com dois dedos, um sorriso largo apareceu em sua face ao ver uma jovem, igualmente linda.

              Seu semblante cansado a impedia de sorrir ou gritar por misericórdia. A mulher que parecia ser uma rainha gritou ao mercador, que a veio receber, mas com uma má notícia. Aquela jovem já havia sido comprada e pelo que a mesma pode entender, seu comprador era alguém cujo nome Hvitserk foi repetido diversas vezes pela agora indignada mulher que deu as costas e desistiu de olhar qualquer outro que estivesse para venda.

             Sua barriga implorando por comida era uma de suas maiores preocupações. Os capturados não eram bem alimentados como os guerreiros, e por vezes, passavam dias sem beber ou comer. Ela era alimentada apenas quando Halfdan, seu raptor, lembrava de sua existência e dava-lhes um ovo de galinha e um pouco de água. É claro que ela ainda tinha que o agradecer, pois por vezes acordou no meio da noite e impediu que algum de seus companheiros não a estuprasse.

             Não sabia o porque dele ter cuidado dela, não sabia nem porque ele ainda lembrava dela, mas obviamente sabia que o demônio em pessoa havia mandado-o para tentar-lhes a vida.

              Em uma fração de segundo a bela perdeu sua audição, logo após os seus sentidos e quando viu, já não enxergara nada mais além da escuridão. Sentiu seu corpo ser tomado e sua alma libertada, talvez estivesse prestes a morrer, e quando finalmente deixou-se ir,  alguém puxou-a do vácuo imenso e fez com que tornar-se a acordar, mas dessa vez em um lugar totalmente diferente.

             O barulho das cabras e dos cavalos foi a primeira coisas que ouviu, mesmo com os olhos fechados, e ao abri-los lentamente, percebeu estar deitada em uma espécie macia de cama, seu corpo coberto por peles de animais a fez querer ficar ali por mais um longo tempo. O teto da casa onde parecia estar era feito com grandes galhos e palhas secas, as velas ao seu redor dava-lhe a iluminação que precisava, ao que parecia, o dia estava amanhecendo. Quando percebeu o que estava acontecendo, tratou de levantar rapidamente mas arrependeu-se pois seu corpo estava completamente nu trazendo arrepios a sua pele quando uma forte rajada de vento invadiu o lugar, seu espartilho sujo e rasgado estava perto de uma pequena fogueira perto de sua cama, onde a mesma correu em busca de proteção para o corpo, havia um outro vestido, um de costura bem mais pobre, porém era limpo e cheirava bem, não parecia ser usado, mas se notasse bem, perceberia que não era o seu tamanho e sim um pouco mais apertado, fazendo seu tórax ganhar mais evidência. Havia também botas de couro, mas ao contrário do vestido, esses eram grandes demais em seus pés e quando andava, seus calcanhares saltavam para fora, e depois tornavam para dentro da bota, causando desconforto. A grande porta da casa foi seu local de destino e quando saiu, deu de cara com aquela cabeleira loira antes cheia de tranças, agora transformada em um estranho penteado em forma de coque. O rapaz estava deitado no chão mais a frente e parecia gemer se ouvisse bem. A curiosidade bateu a menina, a fazendo correr em sua direção e quando o olhou, deparou-se com cortes e marcas roxas no rosto e em seus mãos. O sangue escorria por toda parte caia por todo chão ao seu redor. Parecia justo, mas era aterrorizador deixá-lo ali naquele estado. Então ela iria mesmo ajudá-lo.

              Com toda a sua força, tentou levantá-lo, mais sabia que ele havia feito a maior parte nessa tarefa, seu grande braço em volta de seus ombros servia como apoio para que não caísse novamente. Tornaram então os dois para dentro da pequena casa e a cama que serviu para o descanso dela, agora era o único lugar que parecia caber tamanha "coisa". Os olhos baixos da garota imploravam por água ou algo que pudesse ajudar com os hematomas, e quando ele finalmente a decifrou, apontou para um pote feito de barro ao canto da parede. A menina correu até lá e encontrou um pequeno armazém onde haviam roupas, ela então pegou qualquer tecido e o molhou, levando em seguida para o rosto ferido de Halfdan. Ao tocar seu rosto áspero, a menina quase arrepiou-se com tamanha a sua força já que mal sentia quando o tecido molhava passava sobre suas feridas realmente abertas.

           Ela queria muito saber o que havia acontecido, mas não queria falar com tal. Apenas suas mãos moviam-se, para tratar e cuidar daquilo. Pena que ele não lera seus olhos desta vez.

— Posso fazer-te uma pergunta? - indagou Hvitserk

— Shhh! - repreendeu ela, implorando para que realmente a obedecesse.

— Mas eu quero perguntar uma coi..- continuou e foi interrompido por um sussurro repressor.

— Faça-a e depois mantenha-te calado, ou fugirei outra vez, já que agora não podes me impedir.

— Como se chama? - perguntou parecendo ignorar o fato de que foi praticamente ameaçado.

— Sou Alicia, princesa mais nova do reino da Northumbria - respondeu em outro sussurro, mas dessa vez bem mais calma. — E o teu é Halfdan. - disparou, desinteressada em continuar aquela conversa.

—  Chama-me por Hvitserk, sou o filho de Ragnar Lothbrok. - disse ele e a pode ver engasgar, então ela havia descoberto o porque de estar lá afinal.

        O seu pai matou o pai dele.



(Qualquer erro ortográfico será reparado)

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VIKING ODIN'S BLOODOnde histórias criam vida. Descubra agora